TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A AMEAÇA VERMELHA - José do Vale Pinheiro Feitosa

Escola Nacional de Saúde Pública, final dos anos 70. A Superintendência de Campanhas (SUCAM), autarquia federal, resultante da união do Departamento Nacional de Endemias Rurais e das Campanhas de Erradicação da Malária e da Varíola, entre outras campanhas, faz concurso para sanitaristas.

Quem tivesse curso superior poderia se habilitar: da área de saúde, ciências sociais, pedagogos, engenheiros, arquitetos, estatísticos e até advogados. Após a aprovação em concurso de provas de conhecimento, o selecionado passava por um curso de formação em Saúde Pública. A turma de jovens profissionais, então, era muito bem preparada, naquela época já com surpreendentes níveis de mestrado e doutorado entre eles.

Aí aconteceu a piada. Durante um debate sobre vacinação em massa, uma arquiteta, gente pessoalmente boa e alegre, agarrada à alça americana da Guerra Fria quis levantar uma questão crucial durante um debate. A vacina antipólio importada pelo Brasil vinha da União Soviética. O perigo comunista naquele frasquinho.

E para concluir sua suspeita ela apontou a cor vermelho desbotado do líquido das gotinhas em face da diluição como a evidência mais suspeita. Foi uma risada generalizada na sala e um colega, em sinal de “vergonha”, resolveu enfiar-se por baixo das carteiras. A piada foi tratada assim e mantivemos boas relações com a ingenuidade da senhora.

Pois não é que a brincadeira se apresenta nesta campanha como um anátema medieval? O candidato a deputado estadual por São Paulo (sempre por lá acontece estas coisas), chamado Joseph Jo Raymund Diwan do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) entrou no TRE contra a administração de São Paulo por ter pintado as ciclo-faixas na cor vermelha. Isso sem contar uma figura menor no “face” fazendo a mesma lenga-lenga.

Acontece que a cor das vias exclusivas para as bicicletas se moverem nas cidades é vermelha para chamar a atenção e é um padrão internacional regulamentado pelo COTRAN.

É preciso muita luz para poder enxergar a ignorância ideológica que permeia o campo da direita brasileira (sem deixar de iluminar amplos setores da esquerda). E acreditem, uma parte desta “escuridão” é proposital. A aposta no medo noturno da ignorância alheia. 

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