Escola Nacional de Saúde Pública, final dos anos 70. A
Superintendência de Campanhas (SUCAM), autarquia federal, resultante da união
do Departamento Nacional de Endemias Rurais e das Campanhas de Erradicação da
Malária e da Varíola, entre outras campanhas, faz concurso para sanitaristas.
Quem tivesse curso superior poderia se habilitar: da área de
saúde, ciências sociais, pedagogos, engenheiros, arquitetos, estatísticos e até
advogados. Após a aprovação em concurso de provas de conhecimento, o selecionado
passava por um curso de formação em Saúde Pública. A turma de jovens
profissionais, então, era muito bem preparada, naquela época já com
surpreendentes níveis de mestrado e doutorado entre eles.
Aí aconteceu a piada. Durante um debate sobre vacinação em
massa, uma arquiteta, gente pessoalmente boa e alegre, agarrada à alça
americana da Guerra Fria quis levantar uma questão crucial durante um debate. A
vacina antipólio importada pelo Brasil vinha da União Soviética. O perigo
comunista naquele frasquinho.
E para concluir sua suspeita ela apontou a cor vermelho
desbotado do líquido das gotinhas em face da diluição como a evidência mais
suspeita. Foi uma risada generalizada na sala e um colega, em sinal de “vergonha”,
resolveu enfiar-se por baixo das carteiras. A piada foi tratada assim e
mantivemos boas relações com a ingenuidade da senhora.
Pois não é que a brincadeira se apresenta nesta campanha
como um anátema medieval? O candidato a deputado estadual por São Paulo (sempre
por lá acontece estas coisas), chamado Joseph Jo Raymund Diwan do PSDB (Partido
da Social Democracia Brasileira) entrou no TRE contra a administração de São
Paulo por ter pintado as ciclo-faixas na cor vermelha. Isso sem contar uma
figura menor no “face” fazendo a mesma lenga-lenga.
Acontece que a cor das vias exclusivas para as bicicletas se
moverem nas cidades é vermelha para chamar a atenção e é um padrão
internacional regulamentado pelo COTRAN.
É preciso muita luz
para poder enxergar a ignorância ideológica que permeia o campo da direita
brasileira (sem deixar de iluminar amplos setores da esquerda). E acreditem,
uma parte desta “escuridão” é proposital. A aposta no medo noturno da
ignorância alheia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário