Um tempo passado, os regimes comunistas eram totalitários.
Quer dizer regimes (doutrinas) que não admitem qualquer forma de contestação
aos seus ditames e normas e pregam submissão total ao seu ente instituído (o
Estado, a Igreja, a Bíblia e por aí vão). Então um setor de direita da Igreja
Católica (hoje renovado com outros arranjos porém com as mesmas ideias e na
radicalidade muito próximos de Pentecostais e Neopentecostais) reduzia toda a
crítica ao totalitarismo do regime soviético.
Acontece que um conjunto moral, ético, legal ou que normas
mais existam em formas assemelhadas, são passíveis de crítica e modificações ao
longo do tempo. Por isso as “doutrinas” racham seu arcabouço que tenta encerrar
a vida em seu movimento ao longo do tempo histórico. E racham vazando um chorume
próprio dos processos de digestão do tempo.
Por isso as doutrinas se prostituem ao longo do tempo e de
sua prática. Seus termos não mais explicam as mudanças da história e com ela o
modo de se viver e sobreviver. Uma das doutrinas mais humanas que existe é o
cristianismo até porque em seus mandamentos se encontra que “não matarás” a
outro ser humano. E para resumi-la: em nome do cristianismo (ou do judaísmo, ou
do islamismo) cabeças são decapitadas, torturas são realizadas, pessoas foram
para fogueira, feridas exaurem a seiva vital das pessoas.
Personagens da vida social abrem a bíblia em qualquer
versículo e de sua leitura extrai todo o conteúdo de seu individualismo, de sua
vaidade e se estão a explanar para outros, revelam toda a mistificação que tem
por fundo a própria glória vantajosa de quem “interpreta” a parábola. A verdade
não nasce de uma só voz e nem a Deus é permitido falar por uma única voz, uma
vez que se é de fato o criador de todas as coisas, a sua voz é, necessariamente,
ecoada na torre de Babel. É a voz da diversidade. De outra forma não é Deus.
Aliás o principal milagre do Deus judaico foi negar o Judeu
como o povo escolhido. Deus não poderia ser Deus tão somente e apenas por mera
doze tribos. As perdidas ou as achadas.
Há dias a outrora “voz de Deus”, a rede Globo de Televisão, saiu
de dedo em riste a acusar a todos de corruptos e incompetentes. Não aliviou
para nenhum candidato. E nesta aparente mistificação da voz que acusa, ela
revelou-se como nunca dantes havia, apenas mais uma opinião na diversidade de
tantas.
Entrevistando um candidato ao governo do Rio de Janeiro
(Garotinho) o acusou de condenado por corrupção e de nomear corruptos
condenados. Garotinho naturalmente defendeu-se dizendo que não havia
condenação, havia acusação e que ele se defendia das mesmas. Mas havia uma
insistência em acusa-lo em termos quase infra legais.
Garotinho então diz: “Eu estou esclarecendo: sou vítima de
muitas perseguições. No sistema brasileiro, a acusação cabe ao promotor – você está
falando de acusações – a defensoria pública ou o advogado defende, e o juiz
julga. Acusação, todo mundo tem. Agora mesmo, acusaram a Globo de estar
envolvida em um desvio milionário, com laranjas e paraísos fiscais. Eu não sei
se a Globo é culpada, eu até acho que é, mas é opinião minha. Quem vai dizer
isso é o juiz. Não sou eu. Disseram que a Globo sonegou bilhões...”
Nesse momento a apresentadora da Globo, que tem um ponto de
comunicação com a produção em sua orelha, lembrou ao candidato que a Globo não
estava em questão e ele diz: “Eu sei, mas eu estou só aqui dizendo a você como
às vezes injustiças acontecem. A Globo pode estar sendo vítima de uma injustiça”.
E então a apresentadora mais uma vez defendeu a rede Globo.
Enfim, transformar a política neste udenismo barato em que
todas as ideias se totalizam na corrupção, apenas transformam as ruas em limpos
enlameados ou em enlameados ensaboados. Basta recordar a recente perturbação
que envolveu até uma figura relevante de uma cidade como é o caso de um bispo.
Logo este conceito que deriva do grego episkopos
que quer dizer vigia, inspetor, chefe eclesiástico. E tem mais que é o chefe
da diocese e esta é a região que se governa a lembrar a nomenclatura romana.
Enfim, nestas eleições a Globo perdeu a voz da mediação,
tornou-se apenas mais uma voz entre tantas. E a nova política não se resume à
doutrina epistolar. A nova política é a diversidade. E principalmente o modo de
acordar o movimento na diversidade e na tolerância (reconhecimento) à
diversidade.
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