Sabe aquele abandono? Perdido no ermo de toda a nossa
história? De séculos rurais que fizeram os dias até as horas de ontem? Havia um
canto, uma poesia, uma pintura.
Havia a viola. A valsinha brasileira. A modinha. A trama de
terras, de paixões e traições. Do perdido na imensidão dos sertões, entre
serranias e vales, entre veredas e matas fechadas.
Havia um quê de brasileiro. Mesmo cruel e afastado de todas
as luzes que se acendiam nas terras europeias. Mas é que as luzes se acendiam
pelos braços que aqui plantavam, que aqui transportavam. A Europa se acendia e
o entardecer escurecia na varanda com cheirinho de cambucá.
Um caminho e tua casa de caboclo, no quintal o sabiá roubava
o dom da ninfa eco. A mata era a caixa de ressonância da vida e de todos os
mistérios. Nesta casa o desejo era como qualquer desenho de nossa cena.
No entanto, todos os desejos eram colimados num único raio.
Das poucas almas dispersas naquele vasto mundo. Sem muitas opções, todas as
opções se multiplicam numa só alma. Num só corpo.
Era ela e não mais ninguém. Na casa de caboclo, a única esperança
do futuro em apenas um nome. Tão substantivo como as serras, o luar, a
passarada, a corrida da seriema no capinzal daquelas terras altas tão distantes
do terreiro de casa.
Da janela onde dois corpos se amavam aos olhares amargurados
daquele desgraçado ausente. E naquele olhar se fez um hiato, onde antes fora um
ditongo. Uma lâmina perfurante assentando duas cruzes entrelaçadas.
As cruzes da vida rural e da modinha sertaneja.
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