Na semana passada nos jornais, portais de notícias, televisões,
nos telões em ônibus e salas de espera, uma notícia revelou o despreparo de
jornalistas, o preconceito e a tendência de interpretar os fatos com premissas
que nem sempre se revelam. Qual a notícia?
Pela primeira vez no Uruguai o consumo de maconha ultrapassa
o de tabaco. Qual o entrecho da notícia?
A política de liberação da maconha havia avançado o consumo
de maconha a ponto de ultrapassar o consumo de tabaco.
Mas aí é que vem o problema. Tudo se referia a uma pesquisa
feita pela Junta Nacional de Drogas e pelo Observatorio Uruguayo de Drogas em
jovens escolares na faixa entre 13 e 17 anos, feita em sala de aula. Os
inquéritos foram auto administrados e a amostra nacional.
O que se pretendia analisar? A tendência do consumo de
várias drogas ao longo dos anos, o papel protetor da escola e dos pais. O
inquérito levantava o consumo de drogas nos últimos doze meses e no último mês
e teve o seguinte resultado: álcool (60,2%), bebidas energizantes (37,2%),
maconha (17%), tabaco (15,5%), tranquilizantes (7,1%), cocaína (2,15),
estimulantes (1,4%), êxtase (0,8%), haxixe (0,5%), crack (0,5%), metanfetaminas
(0,3%) e anfetaminas (0,2%).
O inquérito mostrou que a escola e os pais tinham um papel
protetor e que a drogas de consumo mais precoce em termos de idade foram o
álcool e o tabaco. O tabaco teve uma grande redução no consumo, passando de
30,2% a prevalência de fumantes no último mês no ano de 2003 para 9,2% em 2014.
O abuso de álcool (igual ou superior a dois litros de
cerveja, 3/4 litros de vinho e 4 doses de destilado) nos últimos quinze dias
ocorreu em 32,5% dos estudantes que beberam. A prevalência ano da maconha passou
de 8,4% em 2003 para 17% em 2014. Em toda a vida a prevalência de maconha é de
20,1%, no ano 17% e no mês 9,5%. Como se observa, o crescimento do consumo de
maconha é um fenômeno antigo e o inquérito não identificou nenhum salto no
consumo. A lei existe há apenas doze meses. Este efeito só poderá ser analisado
com vários anos de observação.
Uso problemático da maconha. Há uma tabela de risco chamada
escala CAST (Cannabis Abuse Screening Test) que cruza frequências (fumar antes
do meio dia, estando só) e consequências do consumo (problemas de memória,
querer reduzir o consumo, tentado reduzir, tido problemas) com uma tabela de
classificação: raramente, de vez em quando, bastante a miúdo, muito a miúdo.
Assim o valor 1 é baixo risco, 2-3 é risco moderado e 4-6 é risco alto.
O padrão uruguaio é que 66,9% dos que fumaram maconha nos
últimos doze meses têm risco baixo, 20,4% têm risco moderado e 12,6% tem risco
alto o que corresponde a 1,9% do total de estudantes. A prevalência ano da
cocaína era de 1,7% no ano de 2003, cresceu para mais 5% em 2007 e agora tem é
de 2,1%. Já se começa a observar o efeito da liberação da maconha quando 53,3%
considera que é fácil ter acesso à droga.
Ficou claro que a percepção do risco do consumo é
inversamente proporcional à prevalência de consumo, quanto maior a percepção do
risco menos se usa a droga. O inquérito também identifica que o envolvimento
dos pais é um fator protetor, comparando situações, o consumo é maior nos
jovens cujo envolvimento dos pais é baixo quando comparado ao de alto
envolvimento. E isso é mais acentuado para as drogas mais pesadas. Por exemplo,
como o álcool é da cultura a diferença existe mão não tanto quanto no consumo
do tabaco, da maconha e da cocaína.
Em outras palavras quem não foi à fonte e a
entendeu, bebeu a água turva da informação na grande mídia (as agências de
notícias e os veículos).
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