Façamos o seguinte: retiremos toda a visão estadual de Cid
Gomes e o coloquemos no cenário da política nacional nos termos desta crise que
efetivamente se encontra em curso.
A meu ver ontem a crise política mudou de tom e evidenciou
mais alguns rumos do PMDB. Considere que o PMDB vem deste o Governo Sarney (que
deveria ser Tancredo) funcionando como uma força de centro que viabiliza
projetos de governo no Congresso Nacional e nos governos estaduais e
municipais. No que seria o seu próprio governo (Sarney afinal virou PMDB)
Ulysses Guimarães montou uma espécie de meio parlamentarismo pois no Congresso
Nacional quem mandava era ele.
Nos governos do PSDB ele foi central para integridade do
projeto de Reforma do Estado (venda de estatais, redução de órgãos, de direitos
sociais etc.) e para o próprio projeto de poder com a aprovação da Reeleição.
Nos governos do PT foi a força que sustentou no Congresso Nacional as medidas
populares de redistribuição de renda e de fortalecimento do papel do Estado ao
mesmo tempo sustentou politicamente o governo diante da pressão oriunda da luta
de classe e do papel oposicionista da mídia.
Ondem com a saída de Cid Gomes o PMDB deu um passo no aprofundamento
da crise política do Governo Dilma. E isso não foi como a imprensa mostra, uma
decorrência do destempero de Cid ou de inapropriada fala deste. Três dias após
grandes manifestações da classe média, misturada a segmentos do fascismo e do
fundamentalismo religioso, quando a grande mídia, especialmente a Rede Globo de
Televisão, avançou o sinal em todos os sentidos, o PMDB aprofundou a crise.
Enfim o PMDB aposta na crise. Seja para tomar uma fatia
maior do governo, seja para implantar um meio parlamentarismo à moda Ulysses.
Nisso se estabelece uma crise institucional de grandes dimensões, pois a
dinâmica do Estado é presidencialista. Some-se este quadro à crise econômica e
às tensões internacionais e estaremos
numa turbulência de longa duração.
Nesta altura fica claro que o PMDB (ou setores dele) até se
imagina estimulado pelos golpistas do impeachment da Dilma. Que consideremos
gerará um grande problema. Com certeza não é a mesma experiência do Collor.
Agora tem uma direita furiosa, fascista nas ruas pronta para agredir e os
partidos de esquerda são muito mais fortes do que naquela época. Enfim um caldo
quente de conflitos políticos e sociais no horizonte.
Qualquer governo do PMDB, mesmo com apoio do PSDB e outros
interessados na crise, será um governo autoritário, cassando mandatos (podem perfeitamente
usar as operações da justiça: Lava Jato, Castelo de Areia etc.) seletivamente
para o projeto de governabilidade sem limite e sem fim. Perseguirá partidos
políticos, sindicatos e movimentos sociais. E claro vai proibir manifestações
na rua.
Manifestações que como bem lembraram alguns: é
um paradoxo. Os manifestantes pedem a ditadura e a volta dos militares cuja
primeira medida é calar os próprios sejam maconheiros ou não.
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