E foi por carregar uma criança de colo que caminharam longe
pelo deserto. Montados num jumento iam porque o assassinato dos diferentes era
a regra do governante.
Balançando no andar do muar, seguia aquele que explicitou
que todos somos iguais. Ao invés de uma coisa ou animal de trabalho, somos
humanos, pertencemos à mesma família, derivada de igual natalidade.
E aquele que seguia no deserto árido sabia que esta terra
estava lá como potência de fertilidade. Sabia que gosmas que se amoldam aos
contornos sólidos, lhes daria o beijo da traição.
Mas a questão não se encontra na gosma, nem nas rochas onde
se ergue a avareza que tudo deseja apenas para si. A questão se encontra na
humanidade traduzida em pessoas humanas que brilham num determinado natal com
todo o deserto à frente, pronto para se revelar um potencial fértil.
Mas há que somos iguais e tantos se corrompem na ilusão da
superioridade onde tudo que imaginam é um mérito a explorar os outros em
diferenças. Há aqueles que decoram sua história com frases da mensagem e sob
essa decoração luminosa, tentam ludibriar os demais com merecimentos que
dividem, discriminam.
Dois mil anos após, o deserto continua lá pronto para ser
entendido. Os chacais ainda o ronda em busca de corpos vivos. Os traficantes do
trabalho, em orações de maldita fé, continuam fazendo escravos. Os execráveis
continuam com suas vestes ornamentais a pregar anátemas aos demais, condenando-os
só para arrancar-lhes o alimento que faz humanos às suas vítimas.
O deserto é para ser atravessado, pois é nele que o relevado
se encontra. Ali onde os pilares das instituições nunca se ergueram, onde as
bibliotecas da avidez medieval e burguesa nunca foram impressas.
No deserto viverá suando junto ao suor dos demais. Sombras
para conservar os escusos que operam a ilusão do progresso não há. Assim como
não há a divisão da terra, os livros da mais avalia que acumula, os bytes que
fogem com a riqueza coletiva para entocá-las nas ruínas do livre mercado.
O deserto, dois mil anos após, diz tudo ao contrário destes alicerces
eclesiais sobre os quais se ergue a acumulação que desfaz a pessoa humana.
A pessoa humana, nós que somos iguais em natalidade.
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