Por fim, a mulher convenceu o marido e a família
foi das últimas a migrar para a cidade. Ela se cansara da vida
difícil no campo e da promessa de emprego de professora. O prefeito, embora parente, mais
parecia um inimigo. O tempo passando e ele nada arranjava.
Na casinha da periferia, iniciariam uma bodega e
fosse como Deus quisesse. Mais inteligente do que os outros, ela
ouvia rádio e escutava com atenção a pregação do padre. Lia a
bíblia, a história dos santos e os filhos teriam nome de papa. O
primeiro, Eugênio Pacceli; o segundo foi Ângelo Roncalli; e o
terceiro, prematuro que faleceu logo ao nascer, escapou de se tornar
Rerum Novarum dos Santos Silva.
Viviam para a igreja e a mercearia satisfazia o
indispensável. Muitos anos depois, uma surpresa. De novo, ela estava
grávida. O bebê nasceu forte, robusto e alourado. A alegria voltou
e o sarará se chamou Karol Wojtila - nome por demais apropriado.
Até
o berçário e a pré-escola, o polonês foi uma criança normal, mas
na alfabetização tornou-se agressivo, briguento e malcomportado.
Não adiantaram os conselhos da mãe e as tias não mais o
suportavam. Um dia, se explicou: era quieto, no seu lugar e prestava
atenção à aula, até lhe chamarem de Carolina - aí, o pau
cantava.
Ele batia a torto e à direita, virava carteiras,
rasgava mochilas e chutava canelas, deixando a professora apavorada.
Mudou de escola e o problema continuava. Galego sardento, mal entrava
na sala, no recreio ou jogando futebol, o coro ensurdecedor tudo
tomava: Carol, Carolina...
Encarou pai e mãe: – “não quero esse nome,
vou mudar de nome! ” A mãe tentou convencê-lo: – “meu filho,
um nome tão bonito, nome de papa, de homem santo...”
Tudo inútil. Não iria mais praquele colégio nem
para a escola nenhuma, se não mudasse de nome. Os pais conversaram
antecipadamente com o juiz. Foi em 94, Copa do Mundo e, na véspera
da audiência, o Brasil, com dez jogadores, vencera os Estados Unidos
num jogo dramático. O nosso lateral esquerdo foi expulso após uma
cotovelada no rosto de um adversário.
Sabendo de tudo, o magistrado, fanático por
futebol e de ressaca, foi breve: - “então
meu filho, você quer mudar de nome... como você quer se chamar?”
O garoto ficou de pé, engrossou a voz e falou: - “Meretríssimo,
eu não sou Karol Wojtyla, eu quero ser é Leonardo!”
O juiz, gordo e patusco, concordou e explodiu em
gargalhada.
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(*) Demóstenes Ribeiro é médico cardiologista,
natural de Missão Velha e na atualidade residente e exercendo o
ofício em Fortaleza-CE.
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