E eis que, nos dias atuais, volta à baila na mídia tupiniquim a velha
discussão sobre “EMENDAS PARLAMENTARES”, daí tomarmos a liberdade de “repostar”
texto de nossa autoria de 200 anos atrás, sobre, mas que se nos apresenta mais real
que nunca.
EMENDAS PARLAMENTARES” - José Nilton Mariano Saraiva
Como é sabido por metade do mundo e a outra banda, todo começo de ano o
Poder Executivo brasileiro encaminha ao Poder Legislativo uma peça conhecida
como LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO), estabelecendo as prioridades na
aplicação dos vultosos recursos federais, nas mais diversas áreas.
Só que, sorrateiramente, escondida lá no meio do arrazoado e sustentada
no próprio regimento do Congresso Nacional, existe uma “EXCRESCÊNCIA” conhecida
como “RESERVA DE CONTINGÊNCIA”, que nada mais é que uma estapafúrdia permissão
para que cada deputado federal e senador apresentem emendas individuais
(popularmente conhecidas como “EMENDAS PARLAMENTARES”) à proposta orçamentária
do governo federal, para (TEORICAMENTE) serem aplicados em obras e projetos em
seus próprios redutos eleitorais
E a grana que rola lá é farta e
solta. Neste ano (2021), por exemplo, o volume de “EMENDAS PARLAMENTARES” indicadas
pelo Congresso para o Orçamento foi de respeitáveis R$ 48,8 bilhões, se
constitui recorde e supera o valor de todos os anos anteriores. Fácil detectar que aí se escancara um vasto e
fértil campo propício à corrupção, ao desvirtuamento das iniciais finalidades
da sua aplicação.
A versão popular, difundida nas praças, esquinas, bares, calçadas,
universidades e botequins da vida (embora, como sói acontecer, ninguém possa
provar coisa nenhuma, já que inexiste qualquer documento comprobatório, sobre),
nos informa que:
01 – de um lado, como cada parlamentar utiliza as emendas parlamentares
ao bel-prazer, uma parte é direcionada SUPOSTAMENTE para atendimento das suas
bases eleitorais, e funcionaria como uma eficiente ferramenta de solidificação
da “fidelidade” dos eleitores daquela área para com o ilustre político ou, em
português explícito, existiria aí uma espécie de “amarração” do voto de agradecimento, a ser
exercitado na eleição seguinte através da perpetuação do mandato (ou, se
preferirem, aí teríamos a cristalização do popularmente conhecido “VOTO DE
CABRESTO” dos currais eleitorais).
02 – Na outra ponta, como o gestor municipal que irá recebê-la (a
emenda) necessita de verbas para realizar alguma obra (que também lhe garanta
sonhar com uma reeleição ou até voos mais altos, no futuro), não se importará
em regiamente “recompensar” o nobre deputado (autor da emenda), com uma “COMISSÃOZINHA”,
(variável entre 10,0% a 20,0%) do valor da respectiva (para tanto, um acordo
tácito já terá sido firmado lá atrás, por baixo dos panos, evidentemente,
porquanto os “custos dos benefícios” a serem implementados já terão sido
"marombados" em iguais percentuais, via superfaturamento das obras).
E como o “AGRADO” é dado preferencialmente sem testemunhas, intermediários,
microfones ou gravadores, a verba pública escorre placidamente pelo ralo da
corrupção desenfreada.
Poderia até soar estranho tal comportamento, se a atividade política, no Brasil
(e já há bastante tempo), não houvesse se transformado em UM RENTÁVEL E POLPUDO
“MEIO DE VIDA”, capaz de alavancar ou catapultar qualquer pé-rapado à condição
de milionário, da noite pro dia, ou mesmo tonificar fortunas já consolidadas
(dos “empresários políticos”, por exemplo).
E isso é fácil de constatar, bastando para tanto atentar para o fato de
as nossas casas parlamentares (estaduais e federais) estarem repletas de
profissionais das mais diversas áreas, acadêmicas ou não, MAS QUE NUNCA AS
EXERCERAM (advogados, médicos, economistas, engenheiros, pedagogos, ruralistas,
evangélicos, empresários de alto coturno, e o escambau), desprovidos do chamado
“espírito público”, mas providos, sim, do incontido e irrefreável desejo de
legislar em causa própria, do “SE FAZER” na vigência do mandato outorgado pelo
povo (afinal, a remuneração mensal de cada um deputado ou senador certamente se
situa acima dos duzentos mil reais, numa projeção conservadora).
Há que se levar em conta, ainda, que, além das tais emendas, há a concessão
legislativa de uma rádio pra um, um canal televisivo pra outro, uma assessoria parlamentar
para algum familiar, uma verba a fundo perdido ali, outra acolá, e por aí vai,
além da descoberta do famoso “caminho das pedras” (ou o saber exatamente a
localização da inesgotável “botija”).
E olhe que aqui não fizemos referência alguma ao malfadado e nada
edificante, mas sempre eficiente “tráfico de influência”, exercitado à
exaustão, principalmente entre os integrantes do chamado “ALTO CLERO” (aliás,
se fosse possível uma auditagem da “evolução patrimonial” dos políticos
brasileiros, fatalmente se constataria o descalabro e imoralidade reinante).
Deveria constituir-se, pois, uma das prioridades da reforma política,
num primeiro momento, o banimento das tais emendas parlamentares, além de,
sequencialmente, se acabar com o tal “fundo partidário”, além de um corte
radical na remuneração e demais privilégios (inclusive no âmbito estadual). Aí,
seria a oportunidade de vermos quem realmente é dotado de "espírito
público".
Mas, como fazê-la, se para tanto há que se
ter a aprovação, em plenário, dos próprios parlamentares envolvidos ???
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POST SCRIPTUM (aqui, os valores se referem já a 2024)
As emendas parlamentares são de três tipos:
- emendas individuais: são
impositivas (o governo é obrigado a pagar). Cada parlamentar tem um valor
para indicar individualmente no Orçamento. O montante total para esse tipo
em 2024 é de R$ 25 BILHÕES;
- emendas de bancadas
estaduais: também são impositivas. A indicação de como serão
aplicadas cabe deputados e senadores de um mesmo estado. Neste ano, o
valor é de R$ 11,3 BILHÕES para essas emendas.
- emendas de comissão: não impositivas.
recursos indicados por colegiados temáticos no Congresso, tanto da Câmara,
quanto do Senado. Após o veto do presidente Lula, esse valor ficou em R$
11 BILHÕES. Se recomposto, será de R$ 16,5 BILHÕES
- (resumo: no total, temos R$ 53 BILHÕES DE
REAIS que poderiam servir para se investir em algo produtivo para a nação,
mas que findam indo pro bolso dos mafiosos políticos brasileiros).
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