UM CALENDÁRIO CABOCLO
O artista caririense Geraldo Júnior, lança o seu primeiro cd, Calendário (O Tempo e o Vento), mostrando que a região está viva e ainda tem muita lenha para queimar quando o assunto é criação artística.
Geraldo Júnior, que antes integrava a banda Dr. Raiz e atendia pela peculiar alcunha de Júnior Boca, não só mudou o nome como também mudou o rumo estético de sua música, saindo de uma mistura de rock, teatro e cultura popular, para mergulhar nas águas profundas do forró e do folclore. Através do seu astrolábio cultural, o cantor e compositor juazeirense, ainda construiu uma jangada aérea para navegar pelos ares misteriosos das lendas e dos mitos caririenses, numa miscigenação extremamente oportuna de música, literatura e imaginário popular.
Calendário é música autoral por excelência, típica de quem não tem medo de se expor, pois é coisa de poeta, o que é muito importante. Ter um discurso coerente é mais do que necessário, nesse oceano de talentos fajutos, que se transformou o universo dos que lutam, no sentido socialismopopulista, pelas raízes culturais de qualquer região. As composições são enxutas e os arranjos são bem certinhos. A banda é muito entrosada e precisa. Em determinados momentos executa alguns clichês do gênero, mas não se desgasta em torno deles
O produto em si ficou muito bem acabado, com uma produção esmerada, para os nossos padrões, e um trabalho de engenharia de estúdio muito bem feito, sob a responsabilidade de Ibbertson Nobre, no Ibbert-Som Studio, em Crato. O destaque vai para o trabalho gráfico da capa, que é de muito bom gosto, em uma criação de Belisário e Geraldo Júnior, com imagens retiradas do livro “Folclore no Cariri”, de J. de Figueiredo Filho. Vale ressaltar aqui o excelente propósito cultural da Universidade Regional do Cariri e da Fundação de Desenvolvimento Tecnológico do Cariri, na pessoa de Carlos Rafael.
O repertório é de treze músicas no total. Enfatizo aqui as belas faixas: Num Trovejo de Vontade; Mistério Vento; Ridimuin; Marimar (irresistível côco); e Doido do Horto (um verdadeiro achado). Os pontos negativos do cd ficam por conta de algumas temáticas poéticas muito batidas e rebatidas, como na sonolenta Chuva de Janeiro e na inoportuna Minha Violinha.
Os músicos envolvidos no trabalho são reconhecidamente talentosos, mas os arranjos certinhos demais não valorizam tanto a competência deles. Não acredito em purificação da arte. De forma nenhuma existirá evolução cultural na imobilização do tradicionalismo. Creio que ficou faltando um pouco mais de mistura, de quebra da linearidade do discurso. Um violeiro bom como é Beto Lemos, tem mais é que chutar o pau-da-barraca. Uma percussão segura como é a de Flauberto, Darlan e Cícero, tem mais é que mandar o metrônomo pra casa do cacete e deixar a pulsação livre, do jeito que é no meio da feira. Da mesma forma afirmo quanto ao sanfoneiro Genival, solte o dedo velho, não importa onde ele entre. O cd ficou sério demais. Daí o meu destaque todo especial para Doido do Horto, marota, muito mais cheia de humor do que as outras.
Mas nada disso tira o brilho e o talento das composições, bem como as delícias da capa. Muito pelo contrário, que venham as novas composições da trupe de Geraldo Júnior e banda. Vocês vieram para ficar, pois o que vocês fazem é arte de primeira qualidade.
Marcos Leonel
O artista caririense Geraldo Júnior, lança o seu primeiro cd, Calendário (O Tempo e o Vento), mostrando que a região está viva e ainda tem muita lenha para queimar quando o assunto é criação artística.
Geraldo Júnior, que antes integrava a banda Dr. Raiz e atendia pela peculiar alcunha de Júnior Boca, não só mudou o nome como também mudou o rumo estético de sua música, saindo de uma mistura de rock, teatro e cultura popular, para mergulhar nas águas profundas do forró e do folclore. Através do seu astrolábio cultural, o cantor e compositor juazeirense, ainda construiu uma jangada aérea para navegar pelos ares misteriosos das lendas e dos mitos caririenses, numa miscigenação extremamente oportuna de música, literatura e imaginário popular.
Calendário é música autoral por excelência, típica de quem não tem medo de se expor, pois é coisa de poeta, o que é muito importante. Ter um discurso coerente é mais do que necessário, nesse oceano de talentos fajutos, que se transformou o universo dos que lutam, no sentido socialismopopulista, pelas raízes culturais de qualquer região. As composições são enxutas e os arranjos são bem certinhos. A banda é muito entrosada e precisa. Em determinados momentos executa alguns clichês do gênero, mas não se desgasta em torno deles
O produto em si ficou muito bem acabado, com uma produção esmerada, para os nossos padrões, e um trabalho de engenharia de estúdio muito bem feito, sob a responsabilidade de Ibbertson Nobre, no Ibbert-Som Studio, em Crato. O destaque vai para o trabalho gráfico da capa, que é de muito bom gosto, em uma criação de Belisário e Geraldo Júnior, com imagens retiradas do livro “Folclore no Cariri”, de J. de Figueiredo Filho. Vale ressaltar aqui o excelente propósito cultural da Universidade Regional do Cariri e da Fundação de Desenvolvimento Tecnológico do Cariri, na pessoa de Carlos Rafael.
O repertório é de treze músicas no total. Enfatizo aqui as belas faixas: Num Trovejo de Vontade; Mistério Vento; Ridimuin; Marimar (irresistível côco); e Doido do Horto (um verdadeiro achado). Os pontos negativos do cd ficam por conta de algumas temáticas poéticas muito batidas e rebatidas, como na sonolenta Chuva de Janeiro e na inoportuna Minha Violinha.
Os músicos envolvidos no trabalho são reconhecidamente talentosos, mas os arranjos certinhos demais não valorizam tanto a competência deles. Não acredito em purificação da arte. De forma nenhuma existirá evolução cultural na imobilização do tradicionalismo. Creio que ficou faltando um pouco mais de mistura, de quebra da linearidade do discurso. Um violeiro bom como é Beto Lemos, tem mais é que chutar o pau-da-barraca. Uma percussão segura como é a de Flauberto, Darlan e Cícero, tem mais é que mandar o metrônomo pra casa do cacete e deixar a pulsação livre, do jeito que é no meio da feira. Da mesma forma afirmo quanto ao sanfoneiro Genival, solte o dedo velho, não importa onde ele entre. O cd ficou sério demais. Daí o meu destaque todo especial para Doido do Horto, marota, muito mais cheia de humor do que as outras.
Mas nada disso tira o brilho e o talento das composições, bem como as delícias da capa. Muito pelo contrário, que venham as novas composições da trupe de Geraldo Júnior e banda. Vocês vieram para ficar, pois o que vocês fazem é arte de primeira qualidade.
Marcos Leonel
7 comentários:
boa notícia. e como a gente tem acesso ao cd, estando aqui em fortaleza?
abs.
tiago
Olá Tiago,
Antecipo-me na resposta, antes de outro, pois posso, com muito prazer, te enviar o CD de Geraldo Júnior, bem como outros de artistas do Cariri recentemente lançados, como o da banda Nacacunda, Zambumbeiros Cariris e José Nilton de Figueiredo. Faça o seguinte, mande um e-mail pra mim (rafacrato@gmail.com) com o seu endereço que eu te envio o mais breve possível.
Carlos Rafael
Muito oportuno o comentário do Marcos. Próximos todos da grande figura humana que é o Júnior, muitas vezes terminamos por perder um pouco o senso crítico e usamos da licença poética da parcialidade. Acredito também quer o trabalho do Júnior cresceu ai deixar o Dr. Raiz e percebi, por outro lado, uma definição maior e mais madura no trabalho da banda após Júnior ter alçado o vôo solo. Talvez o "Calendário" tenha ficado um pouquinho certo demais por conta de ser o primeiro CD do Júnior e fica-se temendo voar por horizontes não muito conhecidos com medo de se "arriar". Acredito que nos próximos teremos mais ousadia, embora goste do trabalho do Geraldo, mesmo sem a necessidade da sombra da grande figura que é o Júnior Boca.
Agradeço o interesse de todos e evidencio que a minha intenção é apenas mostrar o que temos de melhor produzido no Cariri, que é rico demais homi'
abraços
carlos rafael,
a oferta é generosa, e claro que aceito. estou mandando o e-mail em seguida.
desde já, minha gratidão.
retribuirei com o cd "cabelos de sansão", que está previsto para abril próximo.
abraço
tiago araripe
Marcos, gostei da sua critica! Olha, nós realmente não quisemos forçar a barra nesse primeiro disco, preferimos nos dedicar a fazê-lo simples e bem feito do que tentar algo que não teríamos condições, até por questões financeiras também. Sobre as composições, fizeste boas observações, mas creio que seja assim mesmo, algumas coisas vem a sua cabeça, você lapida, passa anos, outras são o que tem de ser mesmo, simples. O fato é que fiquei muito feliz com o resultado final, feliz por ser um trabalho totalmente Caririense, o CD só não foi prensado aqui porque ainda não temos uma fabrica! hihihi.
Esse é um trabalho que traz o meu nome, mas que sempre foi construído coletivamente, agradeço a todos que contribuíram com ele, alem de todas as pessoas que estão conosco hoje, ainda tem os importantíssimos nomes de Genival, Lifanco, Tertuliano, Darlan, Rebeca, Joana e Vitor e claro, Ibbertsom Nobre! Até pessoas como Flavio Leandro, em que numa oportunidade em que ainda não tínhamos conosco o Ranier, ele nos deu uma grande força abrindo mão de fechar uma data sua, pra que pudéssemos fazer um show de lançamento do trabalho com o Genival, que faz parte de seu grupo. Todas essas pessoas alem de amigos, grandes músicos, também! Enfim, estou feliz e uma coisa que eu falo desde o Dr. Raiz! Tenho muito orgulho de batalhar poder viajar e dizer por aí (quero ir cada vez mais longe) que faço musica cearense! Essencialmente, musica Cariri! Tenho muito orgulho disso. Salve a diversidade de nossa linda região! Em todos os sentidos!
Um grande abraço a todos! Marcos, agradeço pelas palavras!
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