TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 15 de abril de 2008

NÓS E O BARÃO DE ITARARÉ


Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, nasceu no interior do Estado do Rio Grande do Sul, junto à fronteira do Uruguai, em 29 de janeiro de 1895. Autodenominou-se Barão de Itararé como gozação à famosa batalha que não houve, nos finais da revolução de trinta. Era um gozador emérito, estudou medicina, abandonou os estudos e virou jornalista. Trabalhou muitos anos em diversos grandes jornais do Rio e São Paulo, mas a sua maior produção foi o próprio jornal: A Manha. Tendo aprendido as técnicas de estudo das doenças de Pasteur, dedicou-se muito tempo a buscar medidas de controle da febre aftosa que dizimava os rebanhos brasileiros. Preso inúmeras vezes, tanto no primeiro período da revolução de trinta, quanto pelo regime do Estado Novo, Aporelly, uma contração de seu nome, foi eleito para a Câmara do Distrito Federal pelo Partido Comunista Brasileiro tendo como lema: "Mais leite, mais água, mas menos água no leite -- Vote no Barão de Itararé, Apparício Torelly." Tendo, ainda no início da carreira feito uma matéria sobre o marinheiro João Cândido (para quem João Bosco e Aldir Blanc fizeram o Navegante Negro), o qual levantou movimento na marinha, conhecido como a Revolta da Chibata, Aporelly foi espancando por um grupo de oficiais da armada. Por tal motivo pôs na porta da redação do seu jornal: Entre sem Bater. Casou inúmeras vezes e teve pelo menos cinco filhos. O barão foi tão marcante que nos anos quarenta lhe homenageou o grande poeta chileno Pablo Neruda: Al Baron de Itararé um grande entre los grandes, com respeto saludo de pie el poeta de los Andes: Neruda. (Pablo Neruda, 1945)

Nas circunstâncias atuais muitas máximas do Barão de Itararé se encaixariam nos assuntos do nosso dia-a-dia. Por exemplo, ao acompanhar a troca de textos de personagens instigantes da Universidade Regional do Cariri, num ano eleitoral, quando tanto se precisa das instituições para analisar o presente e preparar nosso futuro. Presos a disputas que dão no fígadoquem busque quando, afinal, a Academia olhará para o mundo além dos seus muros? Por isso mesmo é que o Valdir, no Blog do Crato, quase lança mão de uma máxima do Barão: De onde menos se espera, daí é que não sai nada. Se não fosse pelo invernoso tempo, a voz de conciliação também viria do Barão: Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.

É inegável que a politização se reafirmou após os anos noventa. Quando os áulicos dos novos tempos diziam que comunismo, direita e esquerda, eram os bolores de tempos mortos, em certos ambientes a raiva ideológica explode. O barão tinha algo a dizer: Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. E diria com toda a razão, pois a mídia ficou ideologicamente de direita, desde o advento do onze de setembro quando uma senha dos proprietários das grandes editorias se espalha nos dois continentes. Uma senha voltada para as classes médias, que foram as principais vítimas da concentração de renda neoliberal. E o Barão dizia: Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga. Resultado, antigos companheiros de lutas estão a se dizer: Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo. Claro que isso tudo pega como luva, pois a tal democracia do voto livre tem mostrado muita teratogenia como revelava Aporelly: O voto deve ser rigorosamente secreto. assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato. Isso considerando, que após assistir ao Jornal Nacional funcionando como promotor no caso dos Nardoni, é fácil pegar a frase do Barão: A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. Mas até isso é complicado de dizer, pois os humores andam assim: Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.

Mesmo que não se queira, as questões ainda são de economia. Afinal a vida é um processo da matéria que permanece em contínua necessidade de certos materiais. O provimento de ar, água e comida, é a natureza essencial da economia. Agora, uma economia cuja matriz de acesso aos recursos da vida material seja a renda, leva todo mundo a sustentar-se com a brocha nas mãos enquanto a escada é levada. Por isso mesmo é que não existe salvação e nem possibilidade quando renda não há: Quando pobre come frango, um dos dois está doente. Claro que para que a regra da renda exista, é preciso que instituições lhe dêem vigilância como diz Aporelly: A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte. Pois sem dúvida que o crédito é substância rara: O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro. Neste clima a moral é escassa e tudo depende de quem será o da vez: Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.

A instituição mais antiga que alicerçava a vida em sociedade, a família, vive em frangalhos. Num verdadeiro processo de extinção. naquele tempo que se sabia que Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo. Que nem entre as gerações a esperança muda, que Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.

2 comentários:

Glória disse...

Ótimo esse texto, José do Vale. Eu sempre admirei o Barão de Itararé e nos dias de hoje suas tiradas se encaixam como luvas. Ele, além de jornalista, se auto intitulava (também) humorista e fica claro que dos finos. Uma frase dele que acho bacana: nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra.
Um grande abraço !

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Glória segue mais algumas máximas do Barão. Quem empresta, adeus...; Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos. Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre. Quem só fala dos grandes, pequeno fica. Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro que já gastamos. Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem. O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si. Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato. A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.