Ali pela metade dos anos 60 fomos enxotados da nossa terra. Os pingos de luzes que só raramente desciam como estrelas cadentes deixamos para trás. O silêncio pleno de sussurros, grilos, vozes das noites foi superado pelo ranger das máquinas de aço. Todo o milenar mistério das sombras e dos ermos da escuridão foram iluminados pelos filamentos de tungstênio em brasa. As maiores arvores, de tamanhos gigantes desde nossa estatura ao rés do chão foram abandonadas ao corte do machado. As brechas de iluminação traspassando a folhagem quase teto da floresta foram esquecidas. As histórias fantásticas na calçada de noites enluaradas se calaram. O encontro de corpos no esconderijo que a liberdade a dois aventava um pecado venial, não mortal, pois que da mesma natureza dos céus em alegria. O canto da seriema, o grito do pavão, o mugido da vaca pelo seu bezerro, as galinhas no poleiro, o capote avisando da postura, as vozes que perderam a compreensão entre válvulas, depois transistores e agora chips.
E quando ainda na marcha expulsa todos se deram conta do que se perdia, explodiu nos rádios a música das perdas. Sem que se compreendesse o salão se inundava de casais tão logo as tocassem. As rádios repetiram-na desesperadas, no amanhecer, na metade da manhã, ao meio-dia, na tarde e á noite como um inegável desejo de se agarrar àquilo tudo que se perdia. E para vocês que se tornaram sacis da modernidade urbana, leiam as letras de duas pernas, uma no Brasil rural, vilarinho e bucólico e a outra na metrópole industrial. Sintam como de repente tudo se torna vívido, alegre e transformador da vida. Com vocês, na voz de Francisco Buarque de Hollanda:
E quando ainda na marcha expulsa todos se deram conta do que se perdia, explodiu nos rádios a música das perdas. Sem que se compreendesse o salão se inundava de casais tão logo as tocassem. As rádios repetiram-na desesperadas, no amanhecer, na metade da manhã, ao meio-dia, na tarde e á noite como um inegável desejo de se agarrar àquilo tudo que se perdia. E para vocês que se tornaram sacis da modernidade urbana, leiam as letras de duas pernas, uma no Brasil rural, vilarinho e bucólico e a outra na metrópole industrial. Sintam como de repente tudo se torna vívido, alegre e transformador da vida. Com vocês, na voz de Francisco Buarque de Hollanda:
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor...
E como o povo todo cantou, a indústria cultural compreendeu que um sentimento de saudade permeava toda a vida brasileira. E foi assim que Carlos Imperial, num ímpeto oportunista como ele só, na voz de Ronnie Von deixou mais este registro no ano 1967para as lembranças dos vivos de então :
Hoje eu acordei com saudades de você
Beijei aquela foto que você me ofertou.
Sentei naquele banco da pracinha só porque,
foi lá que começou o nosso amor!!!
Senti que os passarinhos todos me reconheceram
e eles entenderam toda a minha solidão,
Ficaram tão tristonhos e até emudeceram,
aí então eu fiz esta canção...
A mesma praça
o mesmo banco,
as mesmas flores,
o mesmo jardim.
Tudo é igual
mas estou triste,
porque não tenho
você perto de mim.
Beijei aquela árvore tão linda onde eu,
com o meu canivete um coração eu desenhei,
escrevi no coração meu nome junto ao seu.
ser seu grande amor então jurei.
O guarda ainda é mesmo que um dia me pegou,
roubando uma rosa amarela pra você,
ainda tem balanço, tem gangorra meu amor,
crianças que não param de correr.
A mesma praça
o mesmo banco,
as mesmas flores,
o mesmo jardim.
Tudo é igual
mas estou triste,
porque não tenho
você perto de mim.
Aquele bom velhinho pipoqueiro foi quem viu,
quando envergonhado de namoro eu lhe falei,
ainda é o mesmo sorveteiro que assistiu,
ao primeiro beijo que eu lhe dei.
A gente vai crescendo, vai crescendo e o tempo passa,
E nunca esquece a felicidade que encontrou,
sempre eu vou lembrar do nosso banco lá praça,
foi lá que começou o nosso amor.
3 comentários:
Quando ando pelas ruas do Crato olho e vivo em dois planos.
A mesma praça , o mesmo banco ...
E nas minhas fotografias , o passado é conta - corrente; o presente é contra-corrente ... e o futuro está num trecho comum... Ali perto do Colégio Diocesano , certamente !
Talvez não fique por lá ...
Talvez antecipe o São João , e me desfaça em cinzas , como na manhã do dia 25.
O tempo é misturado
O coração é limpo ...
Os desejos são tão simples ,
que eu arrisco o querer...
Quero tudo de belo ,
enquanto existo !
"Agora só falta você"...
A Sé do meu coração
tem um sino que chama...
Tem a chama !
Socorro: o que se encontra mais além destas regras que amesquinham a vida não é a completude, o acabamento, a perfeição. Isso é coisa de pântano, água parada. O mais além é que "só falta você" e que você sempre falte. A vida é esta extraordinária força que explode na superfície do planeta em que nada termina, tudo se transforma e sempre tem uma falta para nela se aplicar a conquista da liberdade. Por isso não existe um lugar derradeiro, existe um lugar que se encontra sempre à nossa frente. Quando tentamos o domínio deste lugar ele já é um outro cheio de seduções.
Perfeito !
Sou privilegiada pelo entendimento poético .
Depois de ler o teu comentário , descobri que nada falta ... Está pra acontecer !
Me despedi das ansiedades ... A maturidade nos faz assim... aquietada. Ainda bem que enquanto estamos por aqui , podemos sentir ...
Você é muito lindo de sabedoria ... Quem te pintou assim ? Bem desenhado você ... na tela da Batateira !
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