Como se tem falado tanto na metáfora da praça de reunião ou de congraçamento resolvi contribuir para a reflexão citando um trecho de um livro de Roland Barthes que coincidentemente se chama como viver junto:
"Em todo microagrupamento parece haver um Télos (uma causa), frequentemente expresso por uma palavra vaga, uma palavra maná (comunidades pseudo-hippies: a "felicidade")."
(...) Hipótese de dependência: o grupo se reúne para ser sustentado por um líder, do qual ele depende para sua alimentação, material ou espiritual, e sua proteção (o líder por ser mediatizado por uma idéia -uma Causa: algumas Causas asseguram subsistências e proteção: mosteiros)".
(...) "o agrupamento é definido como pura máquina homeostática, que alimenta a si mesma: circuito fechado de carga e descarga. Visão idílica da mundanidade: máquina sem objetivo, sem transformação, que elabora prazer em estado puro".
(...) "Fantasia do grupo: o Viver-Junto como homeostase, manuntenção perpétua do prazer puro da sociabilidade. Entrtanto, de modo mais filosófico, livra-se da mundanidade (indissociável de uma competição por lugares), e fantasia o paradoxo seguinte: o projeto idiorrítmico implica a constituição impossível (sobre-humana) de um grupo cujo Télos seria o de se destruir perpetuamente como grupo, isto é, em termos nietzschianos; fazer com que o agrupamento (o Viver-junto) dê um salto para além do ressentimento".
Como alguém já citou : viver , mesmo em grupo, é muito perigoso.
6 comentários:
O Maurício Tavares sustenta sua posição no blog com treços do livro Como Viver Juntos do Roland Barthes. Digo sustenta, pois como referência à utopia e à homeostase, retorna à idéia de que na reunião, na metáfora da praça há um significado por trás da reunião que parece reforçar a sua visão do que seja o Cariricult. Digas-se que ele ler, discute e sustenta o debate.
Haveria uma outra possibilidade não em Barthes, mas em Maurício de examinar o blog por outra via. Por exemplo uma em que a província não se subordine à capital devido à sua eterna falta de perpectiva e auto-exame? Eu penso que sim. Maurício sabe o que diz e rapidamente se sustenta.
Uma questão, por exemplo, Salvador como o centro da renovação. Não cito o Maurício, aí as referências são os baianos dos anos sessenta, como Glauber, Caetano, a música Dodecafônica, uma erupção nem sempre espacial, mas certamente temporal em termos dos personagens, incluindo Tom Zé, Capinam e outros muitos mais cultures da arte. Deram norte para uma estética, eis o tema de Barthes em Como Viver Juntos, tanto que a última Bienal paulistana a tinha como tema.
Apenas considero que o Maurício é inteiramente simpático á idéia da praça. Até cita Barthes para lhe dar alguns significados. Só quem tem consciência de estar no mundo, ousa falar do mundo. Então, como diz o Maurício, não entendam de outro modo, viver é perigoso, mesmo é grupo. Mas a questão é esta mesmo.
Maurício Tavares não apenas nasceu no Cariri, é um verdadeiro caririzeiro. Com a mente sobre a Baía de Todos os Santos e o coração deste vale que tanto diz rapadura quanto cachaça. E ante que Mauricio se zangue, pelo menos dizia este vale, parece que nem isso diz mais.
Duas pequenas correções:
1- em vez de "o líder por ser mediatizado" leia-se "o líder pode ser mediatizado por uma causa...." é um pequeno erro que muda bastante o sentido do texto.
2 - "como viver juntos" foi o tema da penúltima e não da última Bienal. a última foi a Bienal do Vazio que tanta polêmica provocou.
Estou fazendo essa pequena correção porque considero vc uma pessoa inteligente e capaz de ser corrigido em público sem se constranger. Só os ignorantes não aprendem com as correções.
Maurício: imagina se a correção nos causaria constrangimento? Sem plural majestático. A correção não é julgamento, é contribuição e a compreensão desta, por incrível que pareça, depende do estilo de quem contribue. Vamos adiante Maurício, a questão como tentas demonstrar se encontra no "éter" das idéias e não no corpo entre outros, que sabemos, é social.
Maurício e José,
tenho acompanhado essa celeuma toda, - que, de uma forma ou de outra, tem dado vida ao blog - sem perder de vista a essencial ironia inerente ao "ser" e ao "estar", e sempre acreditando que o campo do disenso é muito mais legítimo e proficiente do que o campo do consenso, principalmente que agora a coisa toma um rumo bem mais letrado do que ilustrado.
Sobre o assunto da convivência nos espaços sociais, além de Barthes e vários outros pós-estruturalistas, vale a pena conferir também as inferências intelectuais (quem tem medo desse termo!?!?!?)de Pierre Bourdier, através da sua teoria da economia das trocas simbólicas , bem como de Michel de Certeau, através da sua série "A Invenção do Cotidiano".
O que seria da gente se não fossem os outros?
abraços aos dois e aos demais,
que nunca são de menos,
mesmo que se sintam.
Marcos Vinícius
ainda bem que no blog tem espaço para algumas vozes dissonantes mas que às vezes podem concordar só pra contrariar. Parece que citar alguma coisa além de Cazuza no blog soa à pretensão. Tem culpa eu. Ainda bem que você vem em meu socorro. Help, I need somebody! Gosto muito de alhgumas coisas de Bourdieu (só acho o seu livro sobre televisão muito apocalíptico) e já li "A invenção do cotidiano" de Certeau". Leio por prazer e por necessidade profissional.Como tudo depende do contexto posso parecer "acadêmico" em um meio tão poético mas sou uma ovelha negra na universidade. Vá lá! não tão negra mas morena e mestiça por vocação. aqui na Bahia as ovelhas negras são brancas!
abraços.
De tanto corrigir o texto dos alunos fiquei viciado em correção:
1- Quando escrevi "Tem culpa eu" esqueci o ponto de interrogação. Tem culpa tem ponto de interrogação. Mesmo que não tenha.
2- Por um lapsus linguae (é assim?) sempre que citei o título do livro de Barthes coloquei "como viver juntos" quando na verdade o título é "como viver junto".
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