TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Versos no Xadrez

Marta F. tem a língua solta.
Sem parafusos, porcas, embustes.
Tagarela de moer moedas nas bochechas.

Marta F. saca dos provérbios.
Mistura-se aos canteiros.
Andorinhas lhe abençoam com mísseis amarelados.

Marta F. sequer olha pro céu.
Gosta mesmo de pisar as costelas das formigas.
Solta suspiros.

Marta F. inicia um poema se lambuzando do vazio.
Abre as janelas, deixa as persianas, seus cílios enormes.
O sol pede licença, esconde-se sob a sombra.

Marta F. escreve com furor, faíscas -
Dedos facínoras! Grita ela.

Marta F. não gosta de café.
Mas adora bebericar água com vinagre.
Seus versos acres, seus versos lúdicos, seus versos putos.

Marta F. fura o bolo com o olhar.
Assopra as velas enquanto o noviço dorme.

Marta F. escreve pra embalar seus dedos longos.
As unhas choram. Acabou o esmalte.
Marta F. zangou-se.
Roeu o resto.

Marta F. quando boceja para de escrever.

4 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Não conheço Marta F. pessoalmente
Mas parece-me ser esse o seu perfil aproximado
Os poetas se entendem
Mesmo sacando o revólver no meio do salão literário

Marta F. disse...

Barroso, agradeço a exposição da minha figura, em termos. Não piso em formigas, (confesso que não me furto a pisar em folhas secas nas calçadas, adoro o barulhinho)e não uso esmalte, nem sou tão zangada. Pareço?
Gostei do sono do noviço e ela ainda acordada...louco, lúdico e puto sejamos.
Escolhi um beijo bebericado pra lhe dar...de chocolate, nada acre.
Posso ser doce?


Rafael, pessoalmente é que ninguém é normal, deixa ficar esse mistério...

Domingos Barroso disse...

Marta F.-
é que escrevi ao sabor do arrebatamento.
Por tal motivo tantas figuras poéticas.

As andorinhas, as formigas, o esmalte, o vinagre - simbologia.

Um forte abraço,
poeta danada.

chagas disse...

Adorei o poema. Ótimo.