“Uma literatura não se faz com um único tipo de tratamento. Todos estão certos. Cada um escreve da maneira que escolheu, ou que seu temperamento indicou. Uns escrevem bem, outros nem tanto. Uns escrevem bem às vezes, outras vezes nem tanto. Uma literatura não se faz só de obras-primas. E todo grande escritor tem também sua obra menor. Os escritores brasileiros não são uma exceção. É difícil saber o que é do interesse do público. Será que os assuntos de Borges e de Cortázar são do interesse do público argentino? Será que o público colombiano é ‘amarrado’ nos assuntos de Garcia Márquez? Quem será mais certo na literatura brasileira? Rubem Fonseca ou Osman Lins? Jorge Amado ou Guimarães Rosa? Dalton Trevisan ou sei lá quem mais?”
.
Por J.J. Veiga.
Trecho colhido a partir de uma entrevista de J.J. Veiga, citada na Revista LITERATURA - nº 22
3 comentários:
Nem é preciso ratificar minha concordância com este ponto de vista. Além do mais, a produção literária (artística ou o que mais seja) é inicialmente julgada sob os paradigmas de uma época. Somente após ela se libertar deste prisma é que pode ser analisada mais profundamente, tanto na sua essência quanto na sua real qualidade.
É sempre bom lembrar disso por aqui.
Grande abraço!
Carlos Rafael,
Creio que, a exemplo de J.J. Veiga, deve-se buscar o equilíbrio como expressão da linguagem, buscar a diversidade e a multiplicidade de vozes, origens, temas e estilos. Deixar as camadas da realidade à mostra.
Nisto pauta-se o escrever bem.
Abraço,
Claude
J. J. Veiga levanta um ponto importante. Imagino que a maioria dos que se metem a escrever literatura , escreve para si mesma. Escrevemos aquilo que gostaríamos de ler. Claro que a apreciação do texto pelo leitor é um inteira incógnita e sempre que acontece deve-se celebrar a magia do encontro. Sei, por outro lado, que existem escritores programáticos, quase que profissionais e que se antenam com os gostos e preferências do público e escrevem para eles o que certamente explica a maioria dos best-sellers ( os americanos são ases nestas nuances de mercado). Acredito ainda que existe um grupo mais restrito de escritores que são também programáticos mas no sentido de romper as barreiras e amarras do contemporâneo. Buscam janelas e frestas por onde a literatura possa respirar. Estes simplesmente escrevem para tempos vindouros e carregam consigo, muitos, as características mais fortes da genialidade. Serão entendidos só daqui a mais um ´seculo e por isso mesmo sofrem a incompreensão do seu tempo ( como Baudelaire, Joyce, Whitmann, Qorpo Santo). Me parece importante entender estas variações. Tudo que é antigo não é necessariamente ruim;tudo que parece novo, não é consequentemente bom; tudo que parece vanguardista não é intrinsecamente genial ou péssimo. Há que se ter a sensibilidade suficiente para entender que se pode não gostar de um escritor, mesmo entendendo que ele é genial. No final, parece que Oscar Wilde tinha lá suas razões quando dizia que as obras de arte se classificavam apenas em duas : as ótimas e as péssimas.
Postar um comentário