Se pudesse o poeta andar descalço.
Guardar as asas na caixa de sapatos.
Esquecer por uma noite sua sombra.
Apagar a vela de sete dias.
Rezar em silêncio.
Deixar o defunto à vontade
catarolando aquela música da infância.
Talvez alguma ruga conhecida.
Um sorriso desfeito em última hora.
Se pudesse o poeta esquecer o chão que pisa.
Queimar a caixa de sapatos.
Assoprar o fogo.
Ouvir arderem suas asas.
Se pudesse o poeta dormir -
o coração no espetinho,
a língua dormente.
Mas as asas não se controlam
dentro da caixa de sapatos.
E o defunto não dorme.
Nunca canta.
É um defunto morto.
Morto demais da conta.
2 comentários:
E como o morto é morto, volta o poeta para suas asas por que não pode deixar de ser poeta.
As minhas asas,
as suas asas.
Um forte abraço.
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