TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Alguns segundos antes

Agora o que possuo
É esse dia trinta e três
Olho com meus dedos
Essa antinomia falida
Sinto o cheiro corcunda
Do cafezinho que foi
Servido a toda a escória
Aquela mesma que tem
Roubado a minha alma

Meus apelos já não são
Mais sinceros como antes
A padaria em que eu
Hipotequei minhas vísceras
Virou um estacionamento
Olho para minhas pernas
Ainda trêmulas e sinto
Que Maiakovski nunca
Foi um canalha como eu

Agora o que possuo
É da corja da esquina
Também pudera a corja
Toda me pertence inteira
Estão lá perambulando meus
Desejos embalsamados
E meu prazer infinito de
Ser chicoteado até o sangue
Pela balconista zarolha

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Não tenho acúmulos em crítica literária. Isso é, não tenho técnicas, não possuo prática e nem referências estéticas para exercê-la bem. Mesmo assim, como ser no mundo, penso e assim digo: poesia é muito disso que fez o Leonel. O café corcunda faz parte deste clima de padaria da esquina pela qual deu suas víscera. Ao comentar este poema nem é preciso ir ao dicionário em busca de palavras que mais digam, pois o poema está completo de seus significados: escória, roubo, sinceridade, canalha, corja da esquina, perambular, chicoteado, balconista. Quem costuma ler o Leonel, já leu algumas outras facetas sobre tais recantos que são ao mesmo tempo o canto de todos. Este canto que é o mundo degenerado em faz de conta.

Marcos Vinícius Leonel disse...

José do Vale,

o que tenho eu a dizer, além de confirmar que você é o leitor ideal que todo poeta gostaria de ter!?!?

abraços, irmão