TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 26 de maio de 2009

RECAÍDA DISCURSIVA - FORA DO DENTRO DE MIM - ARTUR DA TÁVOLA

From: Sen. Artur da Távola
To: "'Bernardo Melgaco da Silva'"
Subject: RE: (Fwd) MINHA ULTIMA MENSAGEM
Date sent: Mon, 25 Jan 1999 23:37:33 -0300

Prezado Bernardo:

Li seu intenso e denso texto. Depois fui ao poema. Forte
discurso. Opção funda. Respeito-a. Confesso preferir que não deixe de
escrever (pode deixar agora mas com o tempo a ela voltará).
Respeito-lhe, contudo, a opção.
E já que se trata de despedida, envio-lhe como lembrança modesto
poema meu ainda inédito (deixo os poemas dormirem às vezes anos para
depois julgar se os publico). Tiro este do sono e em homenagem à
qualidade existencial de seu e-mail ouso enviar-lhe:

> RECAÍDA DISCURSIVA
> (FORA DO DENTRO DE MIM)
>
>
> Ah não interferir nesta chuva!
> (o eu reinaugura o mundo).
> Retorna a eterna dúvida:
> A chuva lá fora umidadesce.
> E se aqui eu não estivesse
> ela, como tal, existiria?
> Ou existiria chover não a chuva?
>
> Minh'alma baliza o real
> que talvez seja mais poesia do que capto
> ou só poesia e não palavras.
> O mundo existe sem mim ou em mim?
> O eu instaura um real
> que só significa porque é verbo
> mas do verbo independe para existir.
>
> No princípio não era o verbo
> Era o real, que o verbo desqualificou.
> Mas o verbo nomeia e conceitua, logo inventa.
> O verbo inventa o real.
> Por isso o poeta é vate.
> E, vate, inventa. Vaticina.
>
> O mundo é mera extensão do ser
> porém existe sem ele.
> Todos vemos aquele coqueiro
> que existe lá fora do dentro de mim.
> O eu vai longe e abarca o exterior.
> Lá fora nem é o extremo do mim
> Além e adiante são partes do eu.
>
> O real exterior existe:
> É o lá fora do dentro do mim.
> A luz interior não é acender
> mas apagar significações.
> Deixar de conotar,
> Aprender a não saber
> Para viver o milagre de instar.
>
> ARTUR DA TÁVOLA

Um comentário:

ediney disse...

Belo poema do velho Arthur