TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Transtorno

O momento seria este.
Esqueceria todas as antigas farsas -

o pulso riscado,
o aneurisma incubado,
a próstata ainda latente.

O momento apropriado
para a morte definitiva
seria este.

A escolher -
álcool, baques, cachimbo de alumínio.

Cadafalso prometido,
overdose tão sonhada.

Então o que faço?

Entro no casulo,
meto-me debaixo do casco de tartaruga,
divido com os ursos a tepidez da caverna.

Este é o momento da morte verídica
em que a dor de cabeça é legítima
e o vazio transparente -

Mas o poeta tolo que sou
foge com medo do corredor escuro.

"Lá no final só tem uma cadeira de balanço."
Encoraja-me o fantasma.

Nada digo,
a voz não levanto,
não prometo coisa alguma.

Continuo com os olhos esquecidos
dentro de uma alma míope.

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