TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

2ª matéria da denúncia do jornal O POVO (1º/10/2009)



Descuido
Peças históricas convivem com sujeira no Museu do Geopark
Livros, mobiliário, material de informática e fósseis estão misturados dentro do Museu de Paleontologia da Urca, em Santana do Cariri
Larissa Lima
enviada ao Cariri
larissalima@opovo.com.br




01 Out 2009 - 02h09min

O Museu de Paleontologia de Santana do Cariri é considerado o coração do projeto Geopark Araripe, em Santana do Cariri. O POVO foi ver de perto como está o local, em refoma há um ano. Para resgatar como era a rotina do cenário, hoje em construção, a equipe contou com a memória do ex-coordenador de guias do museu e atual guia turístico da Prefeitura, Henrique Duarte. Mas as lembranças começaram a ficar doloridas com a entrada no prédio.

Livros da antiga biblioteca, antes aberta à comunidade, permanecem numa estante, cobertos de pó. Dividiam o espaço do salão principal com os trabalhadores em plena finalização da obra. Os vestígios da reforma também tentam esconder expositores com fósseis dentro, réplicas de dinossauros, uma maquete que antes representava todos os estratos geológicos do Geopark, mobiliário, material de laboratório e equipamentos de informática.

O pó também não é suficiente para acobertar uma pilha de fósseis formada no salão principal do museu. Em outra sala, caixas de papelão rasgadas acolhem outros seres fossilizados, a poucos passos de um acesso lateral para a rua, sem segurança. ``Dá vontade de chorar. Eu sei o valor que isso tem, tanto científico como histórico``, diz, segurando e explicando as peças onde bate o olho. ``Esse fóssil aqui é tridimensional. Dá para saber qual foi a última refeição do peixe``.

Questionado sobre o procedimento da reforma, o reitor da Urca, Plácido Cidade Nuvens, que foi fundador do museu, declarou que O POVO ``atinou para algumas negligências da empreiteira (responsável pela obra)`` e, por isso, estaria ``fazendo drama``. Segundo ele, o cenário encontrado era insignificante diante da importância da reforma, que estaria quebrando um jejum de quatro anos sem investimentos.

Além disso, os fósseis do acervo do museu estariam divididos entre uma sala especial ou guardadas em estantes, trancadas à chave. Os fósseis encontrados no prédio em reforma seriam resultado de apreensão da Polícia Federal (PF) nas ações de combate ao contrabando e estariam sob a guarda do Departamento Nacional de Proteção Mineral (DNPM). De acordo com o reitor, a previsão é de que o museu seja reaberto em outubro.

O geólogo Artur Andrade, responsável pelo escritório do DNPM na região do Cariri, confirma a origem dos fósseis. No entanto, eles teriam sido doados pela PF ao Museu de Santana há cerca de quatro anos. ``Se eles estivessem sob a guarda do DNPM, estariam no nosso escritório, não no Museu. (O material) não deixa de ter valor científico. Deveria estar num lugar melhor preservado, não junto com cimento, poeira, ao bel prazer.``


E-Mais

>Segundo Artur Guedes, os fósseis encontrados no Museu não têm valor científico elevado, por terem sido modificados por quem tentava contrabandeá-los.

> Ele diz que o contrabando de fósseis na região do Cariri tem diminuído nos últimos anos, mas ainda ocorre.

> No ano passado, o crânio fossilizado de uma espécie de pteurossauro foi oferecido em um site dos Estados Unidos por R$ 1,2 milhão. Ele seria proveniente da formação Santana.

> A legislação que protege os fósseis brasileiros é o Decreto-Lei nº 4.146, de 1942. O texto diz, em artigo único: ``Os depósitos fossilíferos são propriedades da Nação, e, como tais, a extração de espécimes fósseis depende de autorização prévia e fiscalização.``

> Com o museu em reforma, as rotas turísticas em Santana do Cariri perderam força. Antes, 24 mil turistas passavam anualmente pelo museu.

2 minutos visuais

Caixas de papelão

01 Out 2009 - 02h54min

Vários objetos fossilizados encontrados na região estão amontoados em um canto do museu, algumas colocados em caixas de papelão e próximas de material de construção. Em um dos andares, O POVO encontrou várias mesas expositoras, cobertas de pó.

Um comentário:

Armando Rafael disse...

Ainda consta na segunda matéria do jornal O POVO, o tópico abaixo:

"Reforma era necessária

01 Out 2009 - 02h09min
O ex-diretor do Museu e professor da Urca, Alexandre Sales, conta que ele chegou a ter 41 bolsistas até meados de 2007.A convivência também teria inspirado os artesãos locais a criarem peças dentro do universo do museu.

A ideia era estimular na comunidade a valorização do patrimônio fóssil e diminuir o contrabando. José Patrício Pereira Melo, do comitê gestor do Geopark, explica que a reforma do Museu era necessária. Ele diz que, durante a obra, também foi preciso refazer todo o sistema elétrico do prédio.

O POVO também visitou outros pontos do Geopark. No Geotope Santana, encontrou o que antes era um sítio arqueológicoi soterrado devido à uma infiltração. Idalécio Feitosa, gerente do Geopark, explica que isso aconteceu por conta do tipo de solo no local.

Em alguns geotopes, as placas bilíngues foram vandalizadas e até roubadas. Um ponto que merece ser visitado é o Pontal da Santa Cruz, no geotope Exu, em Santana do Cariri. Lá, além de restaurante bem estruturado, o turista encontra uma bela vista.(LL)"