Não me queiras mal
por apertar tua mão
os olhos bem abertos
percebendo uma imagem abstrata
da nódoa de chuva no teto
enquanto tu rezas
enquanto tu curas
teus últimos pecados
tuas últimas trapalhadas
de repente tu me olhas
e entendes que estou distante
dos teus salmos, dos teus murmúrios
é que aquela nódoa de chuva no teto
nunca havia visto tão abstrata formando um rosto
talvez um dragão quem sabe um elefante bocejando.
Não me queiras mal
não é desdém
não é pouco caso
das tuas dores
do teu sofrimento vazio
dos teus últimos foras
das tuas últimas ilusões
é que faz tempo que olho aquele teto
nunca vira uma imagem tão intrigante
nódoa de chuva sombras juntas dos pingos
creio que seja mesmo um elefante bocejando.
Termine tua oração sem minha mão entrelaçada na tua
verei de perto essa inebriante imagem no dorso do teto.
Um pulo,
envernizo as asinhas dos meus tornozelos -
outro pulo,
fui.
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