Quando eu canto seu coração se abala
Pois eu sou porta-voz da incoerência
Desprezando seu gesto de clemência
Eu sei que o meu pensamento lhe atrapalha...(Agalopado)
ALCEU VALENÇA
Por Zé Nilton
O bonito em Alceu Paiva Valença, nascido em 1º. de julho de 1946, é essa dupla proximidade dele com sua música e deles com a terra que os originou. O Nordeste e o mundo, eis sua terra. Mas uma vez no mundo, não perde o sentimento e o aconchego telúricos. Quer encontrá-lo quando está em casa? Vá a Recife. A imagem sempre se repete a cada carnaval pernambucano. Aquele homem com cara de louco quedo atrás de um janelão de primeiro andar abençoando a turba de foliões num vai e vem, embevecida pelo autentico som carnavalesco, o frevo.
No memorial de sua arte um dia ele disse:
“No dia em que eu nasci três vezes um galo cantou, Satanás bateu num sino e uma estrela alumiou. Ficou tudo escuro no dia em que nasci. Era meio-dia. E fez um escuro medonho. Em São Bento do Una. Nasceu um bendito.
Um bendito. Mas que acabaria à `profissão de maldito´, já que a música era seu dom.
Sou bendito, isto sim, porque reinvento a MPB e, por outro lado, não sou mais novo. Sou um balzaquiano da música popular brasileira. A base da minha música é praticamente o cordel. Vem das coisas que ouvi diretamente dos cantores da minha terra.
Vem da infância, das histórias contadas pela negra Loló, vem do aboio na voz do vaqueiro ao anoitecer. E tinha lua na caatinga, o menino na garupa, com medo de lobisomem.
Depois, vem dos elementos urbanos que absorvi e misturei a essa base, e tirei meu produto. Um produto novo.
No Recife, comecei a me urbanizar na marra, comecei a ter vergonha do meu sotaque, porque eu era de São Bento e os meninos mangavam muito de mim. Porque eu era matuto. Convivi com a classe média alta, mas meu pai não queria luxo em casa. Mesada pequena, cabresto curto para evitar que seu `gado´ desgarrasse pelo mundo afora. E a vontade de ter roupa bonita. Eu vivia um dilema: morava num bairro bom, mas não tinha dinheiro no bolso. Enfim, um cara diferente no sotaque, no bolso e no gosto. Nunca virei recifense, mas São Bento do Una ia ficando para trás”.
(História da Música Popular Brasileira- Grandes compositores. S. Paulo: Ed. Abril, 1982).
Alceu Valença, diz a crítica, constrói o alicerce da futura música de consumo do Brasil, contudo, digo eu, o invólucro daquela música passou, ou melhor, desmanchou-se no ar. Se a música de Alceu é de consumo, viva a música de consumo de Alceu! E morra a música de consumo de certos “compositores” de hoje e de certos jovens a vista.
Aliás, ele já antecipava tudo isto, se quisermos entender sua crítica para o lado da música, quando disse:
Além de tudo sou moleque mal-ouvido
Sou atrevido, já joguei tudo pro ar
Vai longe a noite do meu sonho colorido
Duvidar? Duvido e insisto em duvidar
Creio na perua
O povo tá comendo vidro
Creio na perua
E o baião vai pipocar
Creio na perua
O que tá pior vai piorar
É como a história da cantiga da perua
Seu Elias fez a sua profecia popular
E Ary Lobo resolveu morar na lua
Partindo do Sputinik do campo do Jequiá... (Fé na Perua).
COMPOSISTORES DO BRASIL, programa musical da Rádio Educadora do Cariri, nesta quinta-feira, a partir das 14 horas, faz uma retrospectiva musical desse excelente compositor brasileiro.
Na sequencia:
PUNHAL DE PRATA, com Alceu Valença
CARAVANA, de Alceu Valença e Geraldo Azevedo com Elba Ramalho, Zé ramalho e Geraldo Azevedo
A DANÇA DAS BORBOLETAS, de Alceu Valença e Zé Ramalho com Zé Ramalho
AGALOPADO, com Alceu Valença
TÁXI LUNAR, de Alceu Valença, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo com Geraldo Azevedo
POR TODA LÃ, com Alceu Valença
CORAÇÃO BOBO, com Alceu Valença
FÉ NA PERUA, de Alceu Valença e Zé da Flauta com Alceu Valença
CHEGO JÁ, de Alceu Valença com Claudionor Germano
COMO DOIS ANIMAIS, com Alceu Valença
CABELO NO PENTE, de Alceu Valença e Vicente Barreto com Alceu Valença
PLANO PILOTO, de Alceu Valença e Carlos Fernando com Luiz Gonzaga e Alceu Valença.
Quem ouvir verá.
COMPOSITORES DO BRASIL
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Rádio Educadora do Cariri – 1020
Quintas-feiras, de 14 às 15 horas
Retransmissão: www.cratinho.blogspot.com
Pois eu sou porta-voz da incoerência
Desprezando seu gesto de clemência
Eu sei que o meu pensamento lhe atrapalha...(Agalopado)
ALCEU VALENÇA
Por Zé Nilton
O bonito em Alceu Paiva Valença, nascido em 1º. de julho de 1946, é essa dupla proximidade dele com sua música e deles com a terra que os originou. O Nordeste e o mundo, eis sua terra. Mas uma vez no mundo, não perde o sentimento e o aconchego telúricos. Quer encontrá-lo quando está em casa? Vá a Recife. A imagem sempre se repete a cada carnaval pernambucano. Aquele homem com cara de louco quedo atrás de um janelão de primeiro andar abençoando a turba de foliões num vai e vem, embevecida pelo autentico som carnavalesco, o frevo.
No memorial de sua arte um dia ele disse:
“No dia em que eu nasci três vezes um galo cantou, Satanás bateu num sino e uma estrela alumiou. Ficou tudo escuro no dia em que nasci. Era meio-dia. E fez um escuro medonho. Em São Bento do Una. Nasceu um bendito.
Um bendito. Mas que acabaria à `profissão de maldito´, já que a música era seu dom.
Sou bendito, isto sim, porque reinvento a MPB e, por outro lado, não sou mais novo. Sou um balzaquiano da música popular brasileira. A base da minha música é praticamente o cordel. Vem das coisas que ouvi diretamente dos cantores da minha terra.
Vem da infância, das histórias contadas pela negra Loló, vem do aboio na voz do vaqueiro ao anoitecer. E tinha lua na caatinga, o menino na garupa, com medo de lobisomem.
Depois, vem dos elementos urbanos que absorvi e misturei a essa base, e tirei meu produto. Um produto novo.
No Recife, comecei a me urbanizar na marra, comecei a ter vergonha do meu sotaque, porque eu era de São Bento e os meninos mangavam muito de mim. Porque eu era matuto. Convivi com a classe média alta, mas meu pai não queria luxo em casa. Mesada pequena, cabresto curto para evitar que seu `gado´ desgarrasse pelo mundo afora. E a vontade de ter roupa bonita. Eu vivia um dilema: morava num bairro bom, mas não tinha dinheiro no bolso. Enfim, um cara diferente no sotaque, no bolso e no gosto. Nunca virei recifense, mas São Bento do Una ia ficando para trás”.
(História da Música Popular Brasileira- Grandes compositores. S. Paulo: Ed. Abril, 1982).
Alceu Valença, diz a crítica, constrói o alicerce da futura música de consumo do Brasil, contudo, digo eu, o invólucro daquela música passou, ou melhor, desmanchou-se no ar. Se a música de Alceu é de consumo, viva a música de consumo de Alceu! E morra a música de consumo de certos “compositores” de hoje e de certos jovens a vista.
Aliás, ele já antecipava tudo isto, se quisermos entender sua crítica para o lado da música, quando disse:
Além de tudo sou moleque mal-ouvido
Sou atrevido, já joguei tudo pro ar
Vai longe a noite do meu sonho colorido
Duvidar? Duvido e insisto em duvidar
Creio na perua
O povo tá comendo vidro
Creio na perua
E o baião vai pipocar
Creio na perua
O que tá pior vai piorar
É como a história da cantiga da perua
Seu Elias fez a sua profecia popular
E Ary Lobo resolveu morar na lua
Partindo do Sputinik do campo do Jequiá... (Fé na Perua).
COMPOSISTORES DO BRASIL, programa musical da Rádio Educadora do Cariri, nesta quinta-feira, a partir das 14 horas, faz uma retrospectiva musical desse excelente compositor brasileiro.
Na sequencia:
PUNHAL DE PRATA, com Alceu Valença
CARAVANA, de Alceu Valença e Geraldo Azevedo com Elba Ramalho, Zé ramalho e Geraldo Azevedo
A DANÇA DAS BORBOLETAS, de Alceu Valença e Zé Ramalho com Zé Ramalho
AGALOPADO, com Alceu Valença
TÁXI LUNAR, de Alceu Valença, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo com Geraldo Azevedo
POR TODA LÃ, com Alceu Valença
CORAÇÃO BOBO, com Alceu Valença
FÉ NA PERUA, de Alceu Valença e Zé da Flauta com Alceu Valença
CHEGO JÁ, de Alceu Valença com Claudionor Germano
COMO DOIS ANIMAIS, com Alceu Valença
CABELO NO PENTE, de Alceu Valença e Vicente Barreto com Alceu Valença
PLANO PILOTO, de Alceu Valença e Carlos Fernando com Luiz Gonzaga e Alceu Valença.
Quem ouvir verá.
COMPOSITORES DO BRASIL
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Rádio Educadora do Cariri – 1020
Quintas-feiras, de 14 às 15 horas
Retransmissão: www.cratinho.blogspot.com
3 comentários:
Em se tratando de Alceu Valença, não tem igual. Me lembrei dele no poema abaixo, que postei aqui há algum tempo. Faço-o de novo, pois Alceu é inesquecível.
É a voz de Alceu, sem licença
para invadir os cantos escuros
do coração,
espalhando fragmentos de um Crato
todo retorcido, nos poucos metros desse quarto
Estou irreconhecível para ti, eu lhe disse
"Deixe eu ir, eu vou só"
No rosto, as marcas de um tempo cruel
a todo o que criou raízes em sua incessante galut
"Deixe eu ir, eu vou só"
As mãos espalmadas mandam palavras
Rua André Cartaxo, 148
Estou irreconhecível para ti,
eu lhe disse
Zé recrutando o garoto para cantar com ele...
Cival sempre romântico...
Muito bem, Chagas, lindo poema.
Rafael, é mesmo.
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