Acabei de deixar o meu pequeno
na catequese. O que mais lhe
apetece (sei muito bem)
são as princesinhas
da sua sala.
Levou consigo debaixo do braço
a Bíblia, o terço e um lápis.
A sua felicidade estampada
(percebo) não é a leitura
dos salmos tampouco a novena
ou os lúdicos desenhos de Jesus.
O meu pequeno levita antes
de pisar à porta da capela
ansioso por encontrar logo
à primeira vista
aquela sua coleguinha
tão delicada, perfumada
sempre a cumprimentá-lo:
"oi, coisinha, tudo bonzinho?"
O meu filho (já prestei atenção)
morde os lábios, enrubesce, treme
as mãos e as pernas e responde
de forma quase inaudível:
"tudo bom, Janaína..."
Uma lágrima nasce no seu olho.
Mas não se derrama pela face.
O meu filho igual ao pai
é um sonhador apaixonado.
Sabe como demonstrar afeto,
recolher-se
e permitir aos sonhos
asas douradas de Querubim.
Vejo que o seu anjinho da guarda
um tanto enciumado faz bico.
Puxo-lhe pelo braço (enérgico)
digo-lhe aos ouvidos: "toda pureza é bela
sem nenhuma queixa ou maus pensamentos"
O anjinho da guarda
tem noção do perigo.
Sorri delicado,
sussurra de volta:
"na paz, poeta
não esquenta"
Todos felizes
à porta da capela:
meu filho,
sua princesinha,
o anjinho da guarda.
Nessas horas é uma dádiva celestial
ter trânsito livre entre margens
etéreas e de sarça ardente.
2 comentários:
belo poema
[de 'transitar' entre o lado escuro e...tudo que brilha]...
abraços
El
Eliana,
doçura tua
de uma alma bela.
Carinhoso abraço.
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