Os meus dedos são os meus melhores amigos.
Eram lisos e límpidos e nunca se orgulharam.
Agora ásperos, velhos e tristes e tudo bem.
Não largam das minhas mãos.
Acompanham minhas unhas
no outono e no inverno
sem questionarem
o tempo.
Seguram com altivez
e com a mesma loucura
a asinha da xícara
e o cadarço do tênis.
Os meus dedos são os meus únicos amigos.
Conhecem meu pensamento antes da unha roída.
Já viraram tantas chaves e doeram-lhes as juntas.
Nunca se gabaram
das suas falanges.
Da plasticidade dos ossinhos.
Dos seus ângulos e diretrizes.
Os meus dedos não me puseram contra a parede
à espera de um anel de aço cirúrgico ou de ouro.
Passaram muito tempo colados
uns aos outros sem ironia
e sem fracasso.
Os meus dedos não duelaram.
Não se sangraram à toa,
salvo sob momentos
de tensão em que
nem eu mesmo
compreendia
seus vãos
e a água
da chuva
escapando.
Também foram eles no outro dia
que me ensinaram a fazer concha
com as duas mãos e me levaram
à boca a mesma água da chuva.
Os meus dedos são os meus senhores.
Apontaram na cara de muitos canalhas a desonra.
Outras vezes apontaram para o céu o sol se pondo.
Os meus dedos são o pai que não tive.
Desde cedo é como se eles soubessem.
E cresceram comigo
e nunca me pediram luvas.
Os meus dedos nunca tremeram,
exceto aquele tempo de frenesi
em que meu coração derretido
veio até eles.
E eles supondo minha dor
tocaram em vez de blues
um samba.
Um samba de roda,
banquete e festejos.
Eram lisos e límpidos e nunca se orgulharam.
Agora ásperos, velhos e tristes e tudo bem.
Não largam das minhas mãos.
Acompanham minhas unhas
no outono e no inverno
sem questionarem
o tempo.
Seguram com altivez
e com a mesma loucura
a asinha da xícara
e o cadarço do tênis.
Os meus dedos são os meus únicos amigos.
Conhecem meu pensamento antes da unha roída.
Já viraram tantas chaves e doeram-lhes as juntas.
Nunca se gabaram
das suas falanges.
Da plasticidade dos ossinhos.
Dos seus ângulos e diretrizes.
Os meus dedos não me puseram contra a parede
à espera de um anel de aço cirúrgico ou de ouro.
Passaram muito tempo colados
uns aos outros sem ironia
e sem fracasso.
Os meus dedos não duelaram.
Não se sangraram à toa,
salvo sob momentos
de tensão em que
nem eu mesmo
compreendia
seus vãos
e a água
da chuva
escapando.
Também foram eles no outro dia
que me ensinaram a fazer concha
com as duas mãos e me levaram
à boca a mesma água da chuva.
Os meus dedos são os meus senhores.
Apontaram na cara de muitos canalhas a desonra.
Outras vezes apontaram para o céu o sol se pondo.
Os meus dedos são o pai que não tive.
Desde cedo é como se eles soubessem.
E cresceram comigo
e nunca me pediram luvas.
Os meus dedos nunca tremeram,
exceto aquele tempo de frenesi
em que meu coração derretido
veio até eles.
E eles supondo minha dor
tocaram em vez de blues
um samba.
Um samba de roda,
banquete e festejos.
Um comentário:
Simplesmente você arrasou nesta.
Sem maiores comentários, meus dedos recusam-se a obedecer-me. Ha! Esse dedos!
Íris Pereira
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