Assim como o “LEITOR” expedito há de ter a perspicácia de encontrar “detalhes” incertos nas entrelinhas de um texto a fim de compreender o conjunto da obra, ao “ELEITOR” cabe a tarefa de entender que na “construção” de uma candidatura política se escondem inusuais nuances. Sim, porque como no serpentário que é a arena política vige a desfaçatez, a hipocrisia e o cinismo, com toda a gama de conseqüentes resultados propiciados, o terreno torna-se fértil para variadas elucrabações ou à semeadura de culturas às mais exóticas.
Aqui em Fortaleza, por exemplo, todos os dias surgem especulações sobre se será mantido ou não o acordo que já vige há anos entre a atual prefeita da cidade (Luizianne Lins) e o Governador do Estado (Cid Gomes), cujos grupos se apoiaram mutuamente nas respectivas eleições pretéritas (para a Prefeitura e para o Governo), o que foi fundamental para o sucesso de ambas as empreitadas.
Só que, agora, às vésperas das eleições municipais, a cultura endógena foi posta de lado e surgiu um fator exógeno, uma célula cancerígena por demais perigosa, que poderá “melar” a união governador/prefeita: é que, como está desocupado já há bastante tempo, o irmão do Governador, Ciro Gomes, arranjou com o próprio para que fosse nomeado “consultor” do PSB (regiamente remunerado) embora ninguém saiba o que na prática isso significa.
Fato é que, como não existe detalhamento ou exigências do que fazer na nova função, o governador acabou por ganhar um “inimigo-íntimo” com potencial para lhe criar sérios problemas. Explica-se: pressentindo que o irmão mais novo começa a afrouxar o laço, que as rédeas da coleira de repente folgaram, o irmão mais velho resolveu obstar tal perspectiva, não permitindo que o “caçula” liberte-se do seu jugo (já que responsável pela “construção” política de todo o clã Ferreira Gomes: a ex-mulher e mais dois irmãos lhe devem o acesso à vida publica e, por extensão, aos polpudos salários que recebem).
Autocrata de primeira hora, prepotente, arrogante e não acostumado a ser cobrado ou questionado, Ciro Gomes entende que, mesmo sendo Cid Gomes o presidente do PSB, ele é que tem que mover a peça determinante do xeque-mate que definirá que o partido lance candidatura própria à Prefeitura de Fortaleza; portanto, o acordo entre o PT e PSB estaria a equilibrar-se no fio da navalha. E a sinalização do Governador, por excesso de respeito ou por reconhecer a ascendência do irmão sobre todo o clã, é de que entendeu o recado, já que teria baixado a guarda e passivamente admitido as novas regras impostas.
Isso posto, num primeiro momento, enquanto fala de “fidelidade” e faz juras de amor no tocante à aceitação do candidato do PT e da Prefeita, Cid Gomes trata de lançar “balões de ensaio” de uma possível candidatura do PSB, borrifando a discórdia e embaralhando o quadro sucessório. Primeiramente, se falou no nome de Camilo Santana como candidato preferencial (que parece não ter entusiasmado); depois, surgiu o nome do neófito Deputado Roberto Cláudio, atual presidente da Assembléia (e outros virão).
Só que tais figuras não passam de “bucha de canhão”, autênticos “bois-de-piranha”, porquanto o verdadeiro “queridinho” dos irmãos Ferreira Gomes parece ser o senhor Ferrúcio Feitoza, até outro dia um ilustre desconhecido de gregos, cearenses, troianos, moicanos e por aí vai. O que fazer para tentar viabilizá-lo junto à mídia e à população, já que um desconhecido ??? Ora, como Fortaleza será uma das sedes da Copa do Mundo, em 2014, simplesmente colocá-lo como Secretário Estadual Especial para a Copa do Mundo, encarregá-lo de cuidar da reforma do Estádio Castelão (única e exclusivamente), delegar poderes para que represente o Governador em reunião da FIFA e, mui principalmente, abarrotá-lo de dinheiro, muito dinheiro, dinheiro a perder de vista, a fim de que, em tempo recorde, surja como o primeiro do Brasil a cumprir o cronograma da FIFA, entregando a “Arena Castelão” antes do prazo. A partir daí, usar de forma competente a mídia (onde o Secretário tem amigos em postos chaves) objetivando mostrá-lo como um gestor jovem e competente, um administrador sagaz e dinâmico e, portanto, capaz de gerir a própria cidade de Fortaleza. Tai, como se constrói um candidato, vapt-vupt. Ou será que se o senhor Ferrúcio Feitoza fosse responsável pela esquálida Secretaria da Agricultura ou da Pesca, teria o mesmo destaque, o mesmo generoso espaço midiático ???
Mas...será que administrar uma cidade complexa e do porte de Fortaleza, guarda alguma similitude com o se administrar a reforma de um mero estádio de futebol ??? Ou, ainda, será que outra pessoa, um técnico, colocada na mesma função hoje exercida pelo “queridinho” dos Ferreira Gomes, não teria feito igual ou melhor, em lhe sendo garantida a mesma montanha de dinheiro, o mesmo oceânico fluxo monetário, a mesma exposição na mídia ???
Ante o exposto, não tenham dúvidas: a aliança PT/PSB dificilmente vingará aqui em Fortaleza, de vez que o candidato do Governador à Prefeitura de Fortaleza tende a ser o agora “midiático” Ferrúcio Feitoza. A não ser – e prestem atenção nesse “detalhe” - que o ex-presidente Lula da Silva e a atual presidenta Dilma Rousseff entrem no jogo e convençam Cid Gomes a não participar da “conspiração” arquitetada pelo mano Ciro Gomes (ainda hoje um pote até aqui de mágoas por não ter conseguido ocupar o Ministério da Saúde, seu objeto de desejo).
Agora, uma particularidade: existem rumores de que o PT aceitando o candidato imposto pelos Ferreira Gomes, aqui em Fortaleza, o Governador (ou o PSB) abdicaria de lançar candidato no Crato, apoiando “full time” o candidato que o PT cratense indicar. E agora, José ???
Um comentário:
No primeiro parágrafo, poderíamos, também, ter usado a palavra
"inSerto" (que se inseriu, introduzido,inserido, incluído), mas optamos por "inCerto" (que inspira, transmite dúvida, duvidoso) já que ambas cabem (ou atendem) ao que pretendemos expor.
Postar um comentário