TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O Circo



Rejane Gonçalves(*)


Há um homem que no primeiro dia é o palhaço, no segundo dia é o espectador, no terceiro dia é outra vez o palhaço e depois outra vez o espectador. Essa troca de papéis repetida indefinidamente através dos tempos embota-lhe o espírito. Sua mente transtornada é surpreendida com freqüência embaralhando os papéis; e assim é comum o palhaço cochilar na platéia e o espectador fazer mesuras no palco. Pode também suceder de essas duas figuras se postarem uma em frente à outra e, vítimas inconscientes dessa dualidade, não sabendo de imediato quem entrará em cena, impedir uma o desempenho da outra, sem que por nenhum momento se dêem conta disso.
O homem (acho eu) conhece o caminho que leva à porta de saída; todavia, devido às dimensões exageradas da casa onde se apresenta o show, antes que de todo seja tomado pela réstia da luz com que a porta o presenteia, uma voz autoritária aponta-lhe um lugar no palco ou na platéia . O homem, desconhecendo o que o aguarda lá fora, volta sempre para a monotonia do espetáculo.


(*) Rejane Gonçalves é uma grande amiga de Recife(PE). É uma escritora de muita sensibilidade e tem a minha admiração desde quando morei por lá (1976/78). A partir da CaririCult retomamos um contato passadas mais de duas décadas. Somente os nossos corações sabiam quando e onde nos reencontraríamos.

4 comentários:

socorro moreira disse...

Arrepiei! Um texto de Rejane, sempre me arrepia! Fico entalada de admiração e ternura, por essa moça que conheci um dia, e me tornei amiga, até hoje! Tomara que ela nos presenteie com seus escritos, mesmo em doses homeopáticas, todos os dias! Rejane é meu Kafta, minha Clarice, minha Cecília,minha Raquel...Meu referencial feminino de quem sabe dizer as coisas ,sem precisar falar muito! Rejane é arte!

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Eu conheci a Socorro Moreira através da Rejane (Graça e Lúcia) numa ponte sobre o rio Capibaribe e ela estava de freira. Ainda bem que era só seu vestido!

socorro moreira disse...

Salatiel,

A impressão naquela manhã de abril foi tão forte, que nunca por muitos anos ,você me olhou nos olhos! Achava sempre que era pecado, despir meu vestido branco? kkkkkkkkkkkkkkkkk Eu era apenas um arquétipo de ìsis, menino...procurando no Capibaribe, uns pedaços de Osiris! risos.

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Qualquer comentário agora seria um desrespeito a nossa memória. Quem sabe outro dia...
Um beijo intenso,