O Colégio Agrícola do Crato inaugura hoje, dia 15 de outubro de 2007, a TRILHA ECOLÓGICA PROFESSOR JOSÉ DO VALE ARRAES FEITOSA. O que será inaugurado pelo diretor do Colégio Professor Joaquim Rufino é muito mais que um trajeto na mata da chapada do Araripe. O nome completo – trilha ecológica professor José do Vale Arraes Feitosa – guarda muito mais que a soma de vários conceitos. Trilha, ecologia, professor e o nome próprio do homenageado. Na verdade estas partes se fundem numa unidade completa. Um tipo de unidade que fala ao coração das pessoas que vivem na Bacia Sedimentar do Araripe.
Começa pelo nome próprio, José do Vale Arraes Feitosa, de quem um aluno da Universidade Regional do Cariri fez uma monografia e dela extrai uma homenagem lida no dia de hoje. Para localizar o personagem, passo à palavra a um ex-aluno. Há duas semanas, numa praça do Bairro do Flamengo, próxima ao Largo do Machado, no Rio de Janeiro, passou-me à frente um casal: um homem de aproximadamente 60 anos e uma mulher mais jovem. Enquanto descia do carro estacionado, ele voltou do meio da rua em que ia e se aproximou abordando-me. Estabeleceu-se um diálogo de identidade, ele nascera em Crato, de uma tradicional família da cidade e fora aluno do Professor José do Vale. Pretendi localizar-me no tempo e espaço em relação a ele, mas não era de mim que ele queria saber. Queria falar do seu professor. E falou, olhando para o filho do professor, para a nora dele, para dois netos e até anteviu a bisneta na barriga grávida de sua nora neta. A síntese do aluno: José do Vale estimulava o aluno, nós sentíamos a presença dele na sala de aula antes mesmo dele nela chegar. José do Vale tinha uma energia que seguia à frente dele e a doava para seus alunos.
Então, o professor José do Vale é síntese de trilha: aquele que pode ou deve ser imitado, caminho a seguir, exemplo, modelo. É quando o conceito de trilha e professor se confundem, quando a educação não é mero instrumento de ganhar a vida e sim um sentido teleológico para a civilização. A síntese do professor e da trilha, traduzindo as palavras do seu ex-aluno é o que chamamos carisma. Não o carisma no sentido sobrenatural, que arrasta multidões, mas o carisma no sentido da perfeita consonância entre o professor e o aluno em torno do dever e transcendência do aprendizado. A trilha e o professor se fundem como tradução de filosofia, ideologia, doutrina, religião. E isso José do Vale Arraes Feitosa foi.
Outra síntese da nomeação hoje inaugurada no íntimo do Araripe é aquela que junta professor, trilha e ecologia. Nos sustos que hoje passamos, com o aquecimento global, com o degelo das calotas polares, com os vendavais que tudo destroem, com as secas que levam a fome, a poluição dos mares, dos lagos, do ar, de toda a vida. Mais do que nunca a humanidade inteira precisa de um conceito que seja ao mesmo tempo um aprendizado, uma trilha e que proteja o seu próprio ambiente natural.
Por isso existe, dos bisnetos aos filhos do professor, de sua mulher Maria do Carmo Arraes Feitosa e da filha Diana Maria Arraes Feitosa, neste dia de homenagem, o sentido que aquele professor foi do mundo. Mas foi de um mundo nominado. Um mundo ao mesmo tempo universal e local. Um mundo que se chamava sua amada Crato, sua imensa e geográfica Chapada do Araripe, seu Cariri inteiro. Quando todos os filhos se foram, se tornaram anúncio de visita ou a trilha de um avião a jato sobrevoando a bacia verde do vale do Cariri, o professor aqui ficou para sempre.
2 comentários:
Chorei de emoção!
Merecida homenagem!
O seu texto é revelador.
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