Emerson Monteiro
Um desejo me persegue, o de escrever como quem conta histórias, sem ter de invadir o território das abstrações racionalistas no campo das teorias, matéria especializada para os mestres e doutores dos foros acadêmicos. Porém admito o quanto se torna difícil a quem escreve e lida com as palavras nos recantos da solidão, transação particular ele e a máquina, fazê-lo ao estilo das pessoas simples a narrar histórias fantásticas, diante dos olhares acesos de quem ouve maravilhado.
Ainda que seja por vezes residual, ronceiro, insisto em querer contar as minhas histórias do tipo que elas chegam na ponta dos dedos, o que recai na casa do sem jeito.
E é nesta intenção de falar do tempo de final de ano em que o fogo esturrica mais que tudo os padrões florestais já quase sertanejos das encostas da Serra do Araripe, nosso filão de natureza e sonhos ambientais do Cariri, que quero aqui produzir qualquer coisa.
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Vários desses incêndios eclodiram em lugares inesperados. Na mata assim considerada, em que os órgãos destinados a evitá-los, ou debelá-los, cumprem as suas partes do modo que os meios permitem. Pois as heróicas guarnições dos Bombeiros, auxiliadas pelo IBAMA, pela Guarda Municipal e pela Polícia Militar, vêm mostrando unidade e eficiência, no que pese a intensidade da demanda.
Em Juazeiro do Norte, no entanto, o fogo chegou diferente, pelo centro da cidade, destruído a loja Zenir Móveis, na Rua São Pedro, incêndio momentoso, que causou espécie neste início de semana. Em Barbalha, vitimou quase a totalidade do patrimônio do Campo da Embrapa, onde havia depositados resultados preciosos de décadas de pesquisa no reino vegetal.
O fogo, este amigo de largo tempo da Humanidade, merece cuidados especiais. Não existisse, quiçá inexistiria civilização na Terra, pode-se dizer. Contudo ocorre de apresentar facetas de largo risco.
Nas guerras, mesmo, quando disparos dos próprios exércitos aliados ferem seus soldados, por equívoco ou desaviso das tropas, chamam tais ações de fogo amigo. O instrumento de uso a destruir quem dele se utiliza.
A propósito disso, no cotidiano da rotina, torna-se urgente que adotemos comportamentos de validação das amizades, na devida proporção em que nosso fogo vital de criatividade e inteligência não fera os nossos aliados, no fragor das contingências e situações ocasionais.
Por isso, a necessária união de esforços em prol da construção dos ideais superiores da decência humana em métodos satisfatórios.
Houve um período, no Brasil, quando se encontraram, numa cela da Ditadura Militar, dois dos maiores intelectuais deste País, o escritor Antônio Callado e o cineasta Glauber Rocha, e entre eles se estabeleceu diálogo demorado a respeito das forças se unirem em favor da nacionalidade e da revolução social, e um terceiro nome desses valores inestimáveis da cultura comentou:
- A esquerda brasileira só se une na cadeia – uma triste constatação tardia que bem pode servir para analisar os prejuízos acarretados pelo fogo amigo em quaisquer circunstâncias.
Um comentário:
Que esse desejo continue te perseguindo e que você sempre nos ofereça textos com essa maestria, e te prometo que eu, na minha simplicidade, terei olhos acessos e ouvidos maravilhados.
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