TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 23 de abril de 2008

É doce morrer no (m)ar?


O padre queria voar. Era domingo, vinte de abril, tarde escura. E a noite ia ser de lua cheia. Depois da missa, mil balões de festa levaram o padre pro céu. Havia nuvens e chuva, mas o padre não desistiu. Os balões foram encontrados e o padre continua perdido. No ar ou no mar? Os balões estão no mar... e não se sabe se o padre aparecerá vivíssimo em terra firme ou se já partiu pro firmamento. Será que o padre resolveu fugir? Cansou da vida de padre, cortou os fios dos balões e está tomando água de coco em alguma ilha paradisíaca? Dizem que ele era indisciplinado como uma criança, que foi expulso da escola de vôo, que não sabia usar pára-quedas nem GPS. Dizem também que ele queria chamar atenção pros problemas da pastoral dos caminhoneiros. E alguns dizem que era corajoso e estava bem-preparado. Outros dizem que foi bobagem, irresponsabilidade, que o padre queria aparecer. Dizem muita coisa. Mas eu digo que - por mais trágico que seja - é bastante poético alguém se perder no espaço, pendurado em mil balões coloridos, e morrer no mar.

7 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Quantos pescadores/jangadeiros morrem no mar e deixam vi�vas e filhos na praia? � po�tico mas tr�gico! O padre fez o que queria e cumpriram-se "as escrituras".

Carlos Rafael Dias disse...

Amanda,

Que mensagem linda.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

O comentário excluído: houve um comentário excluído pelo administrador do blog. O que teria seu conteúdo? A morte de um padre, o parto de uma verdade ou a ferida de quem nem quer ouvir falar de outro modo a que se acostumou às tragédias humanas? O que haveria naquele comentário excluído? A transformação lupina em plena lua cheia de alguém que não suportou a poesia onde queria apenas o féretro? Alguém que não gostou de transformar em vida o que já era dado como termo? O que haveria naquele comentário excluído?

Carlos Rafael Dias disse...

Simplesmente um spam

Amanda Teixeira disse...

É, Salatiel... as coisas seriam mais bonitas se só houvesse tragédia na ficção...

Carlos Rafael: obrigada!

José do Vale: como o Carlos Rafael disse, era apenas um spam... mas seu comentário quase se transformou em poesia, então o spam excluído valeu a pena! rs

Marcos Vinícius Leonel disse...

Belo texto.

Muitas vezes eu fico me perguntando o que leva uma pessoa a correr risco de vida deliberadamente. Pense numa vida louca!