TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

MPB (Muita Poesia Brasileira)

Fotografia 3X4

Belchior

Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei
jovem que desce do norte pra cidade grande
os pés cansados e feridos de andar légua tirana
e lágrima nos olhos de ler o Pessoa e de ver o verde da cana
em cada esquina que eu passava um guarda me parava
pedia os meus documentos e depois sorria
examinando o 3 X 4 da fotografia
e estranhando o nome do lugar de onde eu vinha
pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade
disso Newton já sabia! cai no sul grande cidade
São Paulo violento, corre o rio que me engana
Copacabana, zona norte e os cabarés da Lapa onde eu morei
mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar
que o homem é pra mulher e o coração pra gente dar
mas a mulher, a mulher que eu amei não pode me seguir não
esses casos de familia e de dinheiro eu nunca entendi bem
Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do norte e vai viver na rua
a noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
e pela dor eu descobri o poder da alegria
e a certeza de que tenho coisas novas pra dizer
a minha história é talvez, é talvez igual a tua,
jovem que desceu do norte e que no sul viveu na rua
e que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo
e que ficou desapontado, como é comum no seu tempo
e que ficou apaixonado e violento como você
eu sou como você que me ouve agora

2 comentários:

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Belchior por um bom tempo foi fundo musical para as nossas estrepolias. Do mesmo "long-play" �:"N�o conte vit�ria muito cedo n�o/ nem leve flores para a cova do inimigo/ que as l�grimas do jovens s�o fortes como um segredo/ podem fazer renascer um mau antigo".
Um abra�o RAFA.

Domingos Barroso disse...

Teus poemas,
manda-os!
Teu lirismo.
Teu abismo.
Teu salto.
Um abraço,
meu camarada.