Fotografia 3X4
Belchior
Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei
jovem que desce do norte pra cidade grande
os pés cansados e feridos de andar légua tirana
e lágrima nos olhos de ler o Pessoa e de ver o verde da cana
em cada esquina que eu passava um guarda me parava
pedia os meus documentos e depois sorria
examinando o 3 X 4 da fotografia
e estranhando o nome do lugar de onde eu vinha
pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade
disso Newton já sabia! cai no sul grande cidade
São Paulo violento, corre o rio que me engana
Copacabana, zona norte e os cabarés da Lapa onde eu morei
mesmo vivendo assim, não me esqueci de amar
que o homem é pra mulher e o coração pra gente dar
mas a mulher, a mulher que eu amei não pode me seguir não
esses casos de familia e de dinheiro eu nunca entendi bem
Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do norte e vai viver na rua
a noite fria me ensinou a amar mais o meu dia
e pela dor eu descobri o poder da alegria
e a certeza de que tenho coisas novas pra dizer
a minha história é talvez, é talvez igual a tua,
jovem que desceu do norte e que no sul viveu na rua
e que ficou desnorteado, como é comum no seu tempo
e que ficou desapontado, como é comum no seu tempo
e que ficou apaixonado e violento como você
eu sou como você que me ouve agora
2 comentários:
Belchior por um bom tempo foi fundo musical para as nossas estrepolias. Do mesmo "long-play" �:"N�o conte vit�ria muito cedo n�o/ nem leve flores para a cova do inimigo/ que as l�grimas do jovens s�o fortes como um segredo/ podem fazer renascer um mau antigo".
Um abra�o RAFA.
Teus poemas,
manda-os!
Teu lirismo.
Teu abismo.
Teu salto.
Um abraço,
meu camarada.
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