TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ode à Rua da Vala - Para Armando Rafael





Na ponta da rua ...
Moreirinha é arte !
Núbia confeitava ?
Eunice ...
O doce do leite ,
a delícia da puba .
Seu Tôta ,
um jogo pra virar a noite ...
Tête , cadê você ?
Dona Evanir
Figurinos ,
desfile na praça ,
e nas matinais ...
Dona Carlinda e Carlindo ...
Seu Nenem ...
Fábio e Jairilene
Dona Zélia e Seu Decim
Lilita ,
rosto pincelado ,
boneca de carne ,
sempre linda !
Elsa Ramos ,
Dr Macário ,
E os Coriolanos ?
-Nossa Iracema do Crato...
Amélia , Iara ,
Mãe Ceiçinha ...
Dona Socorro e Seu Carlos ...
Teresinha Amorim ,
O Tenente Luiz ...
Minha mãe,
Minha avó , minha casa ...
Meu pé de algaroba
Minha catapora ...
Tudo para trás !
Casa dos apertos
Redes pelas salas
Pão , ovos e leite ...
e banana prata ...
Um banheiro só
Uma fila grande
Toalhas úmidas ,
um lençol gigante ...
Dona Leni e seu Esmerindo...
O carteiro
Um amor distante ...
Outros ,
na beira da vala ...
vigiados
por janelas intrigantes
Os Tavares Leite
Ângela ...
lembro tanto !
Telma Saraiva
pose , pincel , e arte !
Retrato falado ,
espelho de uma época ,
glamour, encanto !
A vala ,
e o mergulho dos carros
A queda dos meninos ...
Até a morte,
teve a sua história :
um tiro , um enfarte ...
uma chuva , um sumiço ...
Casamentos na sacristia
Fatalidades , mescladas de
alegrias ...
Vala dos limites
Dos gritos ,
das muriçocas ,
do calor dos ânimos ...
Brigas , amores, discórdias ...
Uma ode a esta rua ...
hoje tão estranha !
Dr Maurício e Dr. Hermano ...
Consultório de Dr. Zé Ulisses
Palacetes , casas enfileiradas,
dentro de um só plano.
Saudades ...
Cadeiras na calçada
e a gente a passar...
A deixar ...
Hora íntima ,
no ar...

9 comentários:

Armando Rafael disse...

Socorro:
Obrigado pela dedicatória.
No romance "A rua e o mundo", de Fran Martins - cuja história se passa na Rua da Vala, em Crato - tem uma frase de abertura:
"...Era uma rua como todas as outras;apenas,nela passei a minha infância".
A rua da infância de Fran Martins, embora igual a qualquer outra, tem um significado especial para ele.
E também para você que, com sua reconhecida sensibilidade, resgata - nesta poesia - retalhos da sua meninice/adolescência com imagens bonitas, tocantes, magnéticas...

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Eis a incontestável natureza líquida das palavras, a flexibilidade como se entremeia na rigidez das paredes sociais da vida. A mesma vala que denomina esta rua não é aquela pela qual correm os rejeitos dos domicílios, não é a vala comum em que os corpos anônimos foram enterrados, não é um substantivo metafórico para toda a corrupção da vida.

Não. Não é nada destes conceitos.

A vala desta rua é como a Socorro Moreira, um cosmo de gentes, um universo de domicílios, um anfiteatro de enredos.

A sensibilidade não é matéria prima da Socorro, a Socorro é a matéria prima da sensibilidade.

O modo como verseja não é na ponta do lápis, frase-a-frase, sílabas pensadas, lapsos e preenchimento. A Socorro é como os nossos repentistas: de súbito, como um Sabiá, verseja toda a dinâmica desta incontinente vida.

socorro moreira disse...

Armando estou curiosa pra ler Fran martins.


Esqueci de dizer que , na ponta final , a gente esbarra na Duque de Caxias , bem na calçada de José do vale... Passei tanto por lá , mas nunca o vi . na porta ...(Uma pena !)

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Socorro: eu nunca morei na cidade. Sempre fui do sítio. De lá, numa madrugada de transição da adolescência, peguei um trem direto para a Capital.

socorro moreira disse...

Ah....tá ! Que os auto-falantes da Batateira anunciem tuas passagens vindouras ...

socorro moreira disse...

Zélia Maria disse...
".Era uma rua como tantas outras.."
Que nada ela era muito especial, era a nossa rua!
Essa dimensão de posse, somente a ingenuidade da infãncia /adolescencia pode nos dar. Nosso espaço era tão simples , tão pequeno...mais a idéia de mundo a conquistar, era enorme!!!!!
Tudo pra nós aconteceu alí...primeiro namorado, primeiro noivado, primeiro filho, primeira tv, primeiras ilusões e desilusões afetivas...Nem preciso repetir..vc fala tudo tão bem, tem tão boa memória.Parece que viveu a sua vida e por tabela , de todos nós!!!!!!
Amei!!!!!!!

30 de Outubro de 2008 15:12

Dihelson Mendonça disse...

Amiga Socorro,

Como o poema tem tudo a ver com o CRATO, eu tomei a liberdade de postá-lo também lá no Blog DO CRATO, para o deleite dos nossos outros amigos.

Bjus!

Dihelson Mendonça

Diocesano disse...

Mas que maravilha Socorro!
E eu, que morei nas beradas da Rua da Vala, ali, logo ao lado dos Correios, atravessava-a todo dia para ir pra Cantina do Oliveira. Ou então, quando ia pra o Diocesano e queria mudar de rota (sempre ia pela Nelson Alencar). Lembro perfeitamente de todos esses artistas que fazem as cena descritas por você. Ainda lembro de um amigo, que morava vizinho a dona Evanir, que a gente chamava de Dodô. Nunca mais o vi.À noitinha, essa rua era enfeitada de cadeiras nas calçadas. Um bate-papo gostoso, ainda sem o intrometimento da tv. Tempos ótimos. Saudades muitas.
Bjão querida! Sucesso sempre.

socorro moreira disse...

Kaika , a Cantina do Oliveira é um capítulo à parte ...
Tenho um carinho especial pela sua família.


Mas você é um dos mais meninos ...rs

Abraços.