TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Foto por Claude Bloc


Decidi levantar-me mais cedo. A noite fora longa e de sono inquieto. Não me adiantavam os exercícios insensatos da imaginação. De nada me serviriam. Tentei em vão domar um sentimento de ansiedade e entender, em meio ao vendaval que me desassossegava, essa minha relação com o tempo, para aceitá-lo como elo invisível de/na minha história...

Um torpor intenso ainda me afetava e me deixava presa à exterioridade do instante e ao devir das coisas inexatas. O sono ainda me obscurecia o raciocínio. Sentia-me lassa. Sustentava-me, nessa hora, de começos e tropeços imanentes sem a consciência precisa do que se passava comigo. O tempo refluía e vinha-me a quase absoluta certeza de que, naquela hora, o sentimento latente tinha apenas o poder de inaugurar os sonhos sem jamais poder consumá-los.

A ausência passava a se fazer presente ostensivamente e esse traço deixado pela saudade batia em retirada. Perguntas emergiam do meu íntimo: silêncios que nunca consegui entender. Desfilavam ali todos os sonhos expondo suas fraturas, diluindo suas fronteiras...

Todos os sonhos! – essa fonte de anseios que permanecia pulsando até a consumação de minha alma e que paradoxalmente, num pequeno lapso, se enfraquecia , desaparecia salientando as rupturas. Os sonhos representando o desejo pleno de fotografar o instante, a fantasia, a tessitura das emoções, a vontade impalpável, mas efetiva e ao mesmo tempo indomável de poder realizá-los, a possibilidade mesma do alento nesses caminhos deixados em aberto...

Sonhar nesse momento seria querer deter o tempo nas frações dos minutos e vencer o desânimo, o sono, o cansaço e seus sucessivos deslocamentos. Vencer as querelas da noite mal dormida. Extenuar-me de tanto sentimento, nessa emergência difusa de um desejo. Deixar o olhar se perder nas sendas da vida. Ter consciência de que o sonho é mais visível no alvorecer do sentimento. Sonhar e poder despertar sem sofrer.


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Texto de Claude Bloc

8 comentários:

Domingos Barroso disse...

Que ritmo maravilhoso,
toda alma, toda alma...
Boa noite, abraços.

Claude Bloc disse...

O ritmo, o sonho embala.

Abraço,

Claude

Dihelson sempre comenta sobre os meus horários de postagens.Percebo qua não sou a única a estar aqui a esta hora. Agradeço pelas palavras de incentivo.

Dihelson Mendonça disse...

Só que você se vai embora mais cedo. Às vezes eu começo a postar depois das 3... rs rs

Abraços,

DM

Claude Bloc disse...

Dihelson,

Cá estou de novo...
Sou dura na queda.
Leu meu texto? Teve um tempinho?

Abraços,

Claude

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Claude esgrima com o tempo. Numa elegância de odor floral e olhar de revelação. Então os parágrafos vão como um canto, que logo encanta, sintetizando indistintas partes pois é como um lago cujas margem podem aumentar ou diminuir (a depender das águas do tempo) mas, independente disso, todos reconhecemos o lago. Qual parágrafo é representativo do todo, é difícil perceber-se. Pois deste tipo de escrita o Domingos, o Dihelson e a própria Claude entenderam tudo: falaram do tempo que perpassa a madrugada.

socorro moreira disse...

Aposto que estas duas margaridas , enfeitam a franja do teu cabelo.


Zé do Vale fez uma colocação tão linda , que o jeito é esperar a próxima poesia , que vive no caminho da Claude.

Claude Bloc disse...

José do Vale e Socorro,

Nem sei dentre vocês quem mais se parece com a própria poesia... Dentre tantos encantamentos, mais me encanta lê-los. Sabê-los lendo o que escrevo e sentindo comigo esse poder que as palavras têm de remexer com os sentimentos e consumi-los num instante.

Abraços aos dois

Claude

Dihelson Mendonça disse...

O Surgimento de Claude Bloc na "blogosfera caririense" é um fenômeno poético em todos os sentidos. Não me animo dessa forma desde que vi os poemas de Socorro Moreira, de igual consistência.

Abraços,

Dihelson Mendonça