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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O DIA DA CONSCIÊNCIA BRANCA !

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Esse título lhe causou impacto ou indignação, não foi?
Já se perguntou se esse impacto não foi exatamente por causa do seu preconceito interno e involuntário contra os negros? Estava eu aqui a ler as notícias do Brasil e do Mundo, vendo o que devo postar no Blog do Crato, nesses dias por ocasião do dia da Consciência Negra: Consciência Negra ?? E o que vem a ser "consciência Negra" afinal ?

Porque se no Brasil não existe preconceito em relação aos negros, já perceberam que toda vez que se fala dos negros já é uma espécie de discriminação ? Nunca pararam para pensar ?
Por exemplo, vagas especiais nas escolas para os negros. Isso não já é um tipo de preconceito, de separação ?

E as piadas ?
Se eu começasse uma piada dizendo: "outro dia vi um bando de brancos que estavam num bar quando..." nada aconteceria, porque branco não se importa com nada. Muitas vezes não é o branco que tem o preconceito. O que existe é um resquício, um ranço criado pelos próprios negros em torno do problema, pelo fato de negros serem minoria. E toda minoria sofre com esse tipo de problema. No mesmo exemplo supra-citado, se a piada começasse assim "outro dia vi um bando de pretos que estavam num bar quando..." Aí sim, seria a maior celeuma! Iam acusar de piada discriminatória, preconceituosa etc e tal... perceberam aonde quero chegar ? Voltando ao caso do já famoso "Dia da Consciência Negra", acho que quando se elege um dia para as minorias já é um tipo de preconceito. Por exemplo, o dia do Índio. O dia da Mulher, O dia da Consciência Negra, o dia do aleijado, essas coisas assim. Porque todo dia é dia de branco, todo dia é dia de gente normal e ninguém se importa. Então porque criar-se esses dias especiais para homenagear as minorias? Puxa vida! que me perdoem os que pensam o contrário, mas acho que a discriminação começa logo daí. Porque quem está por cima, não está nem aí se tem o seu dia ou não... Ah, é dia dos negros ? Os brancos aplaudem também, sem nenhum problema, sem nenhum preconceito!



Agora, que tal criar o DIA DA CONSCIÊNCIA BRANCA ? Ah! não, isso é coisa da KU KLUX KLAN, é pecado, é satânico...é preconceito desafiando os negros! Existe uma banda musical chamada "So preto sem preconceito" . Já pensou se alguém criasse a banda "Só Branco sem Preconceito" Iria ser processado...

Existe uma musiquinha que acho altamente preconceituosa chamada "Black is Beautiful" ( O Negro é Lindo ). E quem falou que não era ? Se alguém criasse uma música "White is Beautiful" iriam chamar de Nazista!

Pois é: E eu pergunto: Quem é que faz esse preconceito afinal ? Conheço brancos que têm a consciência negra e negros que têm a consciência branca. Mas o que importa afinal, é que não haja qualquer tipo de discriminação entre QUALQUER raça, etnia e cor. Salve todas as etnias sem qualquer preconceito! Principalmente aquelas que não geram preconceito entre os seus.

Por: Dihelson Mendonça
( by the way, Moreno ).

3 comentários:

Armando Rafael disse...

A propósito de negritude, abaixo uma cronia de Bia Couto:

E se Obama fosse africano?

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

Dihelson Mendonça disse...

Em uma nação altamente discriminatória contra os negros como os Estados Unidos, onde até meio século existiam banheiros diferenciados para brancos e pretos, a vitória de OBAMA é um marco, e o Presidente Lula está muito certo ao afirmar: "Obama não pode errar!" porque todos os olhos estarão voltados para ele e sua cor. Ao menor erro, sempre alguém irá dizer: "Ele é Negro".

Então, a vitória de Obama numa nação dessas é muitíssimo importante. É como em menor grau, se em Israel fosse eleito um Árabe para um alto cargo no governo.

Dihelson Mendonça

Domingos Barroso disse...

O Dia da Consciência Negra é um momento de reflexão. Que não sejam esquecidas todas as injustiças contra os negros. Tal como o dia do Holocausto contra os judeus.

No entanto é óbvio que muitos negros e muitos judeus sequer têm uma consciência libertária.

Discriminam, mentem e ultrajam a si próprios.
Afinal a "consciência" (aquela visão momentântea das idéias)é tão volátil quanto o tempo em que se vive.

Meu caro Dihelson, entendi perfeitamente a que terreno quiseste adentrar e louvo-te por isso.
Abraços, maestro.

AS INJUSTIÇAS SOCIAIS NÃO TÊM PREDILEÇÃO POR COR - MAS SE FOR NEGRO E FAVELADO O INFERNO É BEM PRÓXIMO.