TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 13 de dezembro de 2008


1
Devagar os tijolos subiam um a um. Se abstraísse, subiam sozinhos. Casas que se montam. Maria pintava seus quadros, de olhos vendados, enquanto os homens, capacetes brancos, montavam um edifício. O que é maria, senão um edifício de tintas, pincéis e capacetes – brancos pensamentos – que a montam? O que é maria enquanto ela monta um sorriso, um corpo, uma alma crepon e pêssego, lazúli alma. E o que é um edifício, senão um montão de marias e seus sonhos coloridos por dom e desejo?
2
E então moça do sobrenome esquisito, eu resolvi dar nome aos bois. O primeiro boi eu vou chamar de eurípedes, e todos os que vierem dele se chamarão “os filhos de eurípedes”. O segundo boi eu chamarei de dumará. Porque? Eu é que sei? Bois, quase que se auto-denominam, nominam, batizam-se pelos olhos. Então, moça do cabelo preto que eu nunca vi, resolvida a questão da nomeclatura bovina, vamos ao sentido exato: saudade. É certo, nunca te vi, e muito provavelmente nunca verei. Logo, essa saudade deve ser a ausência de um ser, que sei, vem de um planeta similar ao meu. Você estuda história, eu, conto histórias. Imagino histórias, que depois de imaginadas não sei se são reais. O que é real? O que sei, penso que sei, é que em minha história meu coração é um anfitrião onipresente. E, estando em todos os lugares, ri do teu riso. E enxuga a lágrima de alguém que chora em qualquer canto. Onipresente coração moça de cor indefinida, ta vendo lá? É ele. Com o espanador na mão. Tirando o pó que não deixa seu sorriso brilhar na madrugada de sábado.
3
Os segredos que ficam de costas, nas esquinas do olho que mira. Mirando o quê? O gole grande está dentro do copo. O copo está dentro do contexto. Um bode amarrado no quintal do pesadelo. A cobra cascavel sibilina saindo de dentro da cartola do mago dos aspargos. Dancem!!! Dancem!!! Manuelina olha pro céu e quer saber, por que quer, onde termina o céu. Manuelina quer saber qual é a cara de deus. Manuelina quer saber quem é que merece um sorriso. Manuelina sabe, que em algum lugar, em um jardim existe uma fruta do conhecimento. Ela viu na bíblia.
4
Aprendo o que cabe. Abro o que posso. Olho o que me é permitido. Acredito nas possibilidades. Sonho com coisas que não podem ser vistas.
5
Não aponte o dedo para o rosto do outro. Do número oito. Do que come em pé suas bolachas recheadas de nada. Calíope da silva morde morfologicamente o livro dos vampiros. Calíope da silva sabe que cada um dos que ela conhece tem um umbigo explosivo, só esperando uma chance. O jogador inverterado encosta-se no balcão. Liga o gravador e conta sua história pra ninguém. Uma bela história de frases curtas e de sentido nenhum. Ele diz: quando era pequeno um cachorro mordeu minha perna. Um dia desenhei uma vaca. Meu pai bebia uma bebida verde. Minha mãe chorava por um olho só. Calíope da silva se apaixona. Tira do cós da sua saia larga uma gilete platinum plus. Corta de orelha a orelha o pescoço do jogador. Ela nunca suportou ficar apaixonada.
6
Daqui debaixo da ponte vejo a lua. Penso nos olhos dos hipopótamos. Realmente não sei porque penso nos olhos dos hipopótamos. Talvez por causa dos seus olhos mesmo, que vi, assim, na discovery chanel. Eles estavam com sono. Abriam bocas enormes. Um deles parecia tim maia. Olho de novo a lua. Penso em tim maia. Nos hipopótamos. Peço a conta. Acho que bebi demais.

4 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Um texto deste apenas se escreve nas Américas. Só um mundo mestiço, que junta a civilização clássica com uma cena de um bar e jogadores. Quando se constrói um edifício filosófico vem a própria paisagem, de sua dominante ponte franciscana e os olhos de um animal africano. Vale pelo tempo que o olhar se abre para interpretar o conteúdo. Uma luz neón das vendas comerciais e uma lua tão antiga quanto a Grécia.

Lupeu Lacerda disse...

porra zé do vale! muito obrigado meu camarada. cada vez que leio um comentário seu sobre um texto meu, tenho que reler o que escrevi pra saber onde você vê tanto. porra zé do vale! você é meu terceiro olho cumpadi.
hasta siempre.

Marcos Vinícius Leonel disse...

E eis que a embriaguês solta o seu fermento em fragmentos,
são circulatórios,
são andatórios,
inventam o desmomento,
fundam os vórtices
do desmoronamento
em signos que se refletem
no dorso espelhado
de um óculos pendurado
numa banca de camelô,
os dados continuam espertos
agora em um relance
quem tiver bugalhos
que vejam seus alhos
sublimados em olhos

O grande texto é aquele que gera outros textos. Beleza de prosa, meu brother, cada vez melhor.

abraços

Lupeu Lacerda disse...

lobo bom
aloprou velho!!!!!!!
que puta poema, (como todos né cara? porque nóis é jeca mais é jóia). o texto já se justifica: zé do vale e lobisomem. é a trincheira da anti-monotonia na batalha.
ducaralho cumpadi.
hasta siempre