TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Evidências da crise

O governador do Illinois virou notícia de corrupção. Queria vender o mandato de senador do recém eleito presidente da república. O regulador do mercado Nasdaq saiu, virou dono de um fundo e com um esquema de pirâmides financeiras quebrou poupadores de classe média. Os presidentes das montadoras de veículos automotores chegaram com um pires de ouro, descendo como deuses alados dos seus jatinhos, para pedir dinheiro do povo dos EUA. Tomaram um susto com a própria arrogância e soberba. Fizeram ainda pior: chegaram da outra vez, de muito longe, em carros com baixo consumo de combustível. Tudo efeito especial: logo eles que apostaram nos carrões consumidores de combustíveis.

Todos os dias pacotes saem do orçamento público para financiar capitalistas. Mas o desemprego aumenta, o consumo baixa, as famílias perdem suas casas. Todos os dias uma notícia de uma potência encolhendo-se envenena o clima geral da humanidade. A notícia já tem um script pré-definido: cai a bolsa e as taxa de desemprego sobe. A crise a bem da verdade é muito mais do trabalho do que do capital. Como toda crise deste sistema, sempre sobra o cipó de aroeira no lombo de Adão. Eva diminuiu a progenitura, as escolas não ensinam os que já cresceram, não tem serviço de saúde, condução e nem renda.

Mas aí um soldado, deste de uma viatura qualquer, de uma rua qualquer do mundo na tensão de sua missão, atira e mata um jovem. A Grécia explode por todas as ruas. Saques, veículos incendiados, gases lacrimogêneos, pedradas, máscaras, provocação, ódio e vingança. Algo novo? Não mesmo. Mas isso é sintoma já visto nas ruas desde as revoluções dos finais do século XVIII. Por vezes promovem revoluções profundas. Noutras só lentamente mudam alguma coisa. O povo da Grécia não se manifesta fora do contexto da crise. É a crise mundial por inteiro.

Mas há quem diga que é parte, também, das disputas territoriais dos conflitos imperialistas das nações dominantes. Estes territórios estariam mais marcantes nos Bálcãs, na Região do Cáucaso, seguindo pelo Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão e Índia. Mesmo o batido genocídio da África, segue esta lógica das zonas sob intensa disputa da forças imperiais, especialmente EUA, países da Europa, Rússia e China. Do mesmo modo isso já estaria na América Latina, envolvendo todas as tensões aqui existentes. A visão mais pessimista viria por aí um novo autoritarismo de direita, preconceituoso e violento.

A visão, por outro lado, do quanto a autoridade americana desmilinguiu-se no reinado do Bush. Numa manobra típica de um manipulador, chegou de surpresa para respaldar o retardo da eventual retirada de tropas americanas pelo novo governo. A manhã no ocidente começou com o estranhamento desta incursão de Bush. Mas a noite chegou com dois sapatos voadores em sua direção. E o todo poderoso, todo majestoso, bravo quando ao lado de mísseis e de meganhas fardados, feito qualquer humano medroso, se abaixo duas vezes para se livrar do chulé voador.

São ou não evidências de uma baita crise.

Um comentário:

Domingos Barroso disse...

Quando um "investidor" falido e arrombado saca de uma pistola - engaveta o cano traquéia abaixo - e puxa o gatilho, talvez ainda lhe restasse algumas moedas no banco. Não importa a crise e suas dimensões - a alma (antes do bolso) é a primeira a ser atingida. Mesmo que a vítima ache piegas a palavra alma e só creia em números e gráficos.
Bem, de qualquer modo, que os chulés voadores não me passem próximo das narinas.
Tenho coisas mais aprazíveis a cheirar. Que péssima pontaria.
Grande texto, meu caro José.
Abraços.