TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Poema de agradecimento para o Marcos Leonel


...Já o meu coração, sim,
poderá ser uma poça de
iluminados elefantes
que colhes com lábios amarelos,
para destrinchar a touceira de sonhos
machucados por meus pés de ar
que a solidão das ladeiras
pisam o infinito marron
dos teus saborosos desaforos.
...
E aprende-se muito no desaforo de um Poeta...

Dedicado ao Poeta Marcos Leonel em retribuição pelo "daguerreótipo" que recebi no Natal. Aliás, hoje em dia é mais valioso um daguerreótipo que uma máquina fotográfica digital.

Abraços,

Dihelson Mendonça

5 comentários:

Marcos Vinícius Leonel disse...

Eu me ausento um pouco do blog e eis que me deparo com essa sua postagem abobalhada, cara você precisa trabalhar melhor os seus sentimentos e os seus sentidos, você precisa saber distinguir quem é seu amigo de quem é seu inimigo.

A sua dificuldade de interpretação não é novidade para mim, como também essa sua birra em retrucar de qualquer forma quando se sente atingido em seus brios. Você tem se tornado um mestre em cutucar com vara curta e se espetar com um palito de dentes. Você ironiza tudo que acha que deve ironizar e depois não tem estrutura para receber de volta. Quem foi desaforado aqui foi você, que recebeu uma dedicação e foi extremamente deselegante em sua recepção e que continua sendo ao ilustrar o seu poema com uma adoração a um elefante – que ridículo, cara, tudo isso por um simples comentário em resposta às suas ironias, por achar que teria uma mensagem cifrada ou sei lá o quê. Da mesma forma você foi deselegante para com Domingos numa outra postagem dizendo que nem tudo o que se escreve, achando que é poesia, é poesia, isso por que o tema da poesia dele era uma barata, lembra disso?! É por essa e por outras que eu coloquei em meu comentário que compreendia a sua dificuldade.

Já eu diria diferente, cara, nem tudo o que se lê é o que se pensa que lê, principalmente nos textos da pós-modernidade, período em que estamos a abordar a arte sob uma perspectiva descontínua e fragmentada, pois isso é próprio da nossa época, devido ao aniquilamento do tempo e do espaço pelo fluxo de informação. Falo em uma concepção textual semiótica. Não falo da poesia receita de rosquinha, com uma métrica correta, uma rima bombástica e um conteúdo patético. Cara, nós caminhamos, decididamente, em caminhos opostos. Eu acredito em linguagem trabalhada, não em formas fixas, muito menos em manuais de escrita. Eu acredito na opacidade da obra, como teorizaram sobre isso Otávio Paz, Ezra Pound e Humberto Eco. Mas nem por isso eu desconheço você, de forma nenhuma.

Mas já que você insiste tanto no hermetismo do meu poema eu falarei dele para você e vê se compreende agora, pois eu não quero trocar agressões com você de nenhuma espécie. Vou começar falando dos poemas que estou escrevendo agora. Não sei se você percebeu, eles têm como títulos objetos que se tornaram obsoletos, embora conservem uma certa magia: daguerreótipo, elmo, ânfora etc. Todos esses poemas têm como tema a linguagem, a cognição, o significado, os signos etc. Todos eles giram em torno de uma mulher, que representa a continuidade da língua em sua diacronia e sua sincronia, bem como em seu processo de junção disjunção. A minha intenção é provocar a reflexão sobre a interação do homem com o seu passado, o seu presente e o seu futuro, a partir da comunicação, inclusive com os seus objetos, seus utensílios, seus mitos, seus fetiches e suas distonias, bem como seus símbolos e seus ícones. Nem sempre nessa ordem e nem sempre seguindo uma linha definida, pois acho desnecessário. O daguerreótipo é, pois, um desses poemas.

Esse poema é dividido em três partes e tem como centro Valquíria e sua prole. Na mitologia as Valquírias são as guerreiras que levam os soldados assassinados para Odin. A partir da simbologia lacaniana, a partir de Jung, as Valquírias representam uma intersecção entre o lado obscuro da nossa mente e a vigília. Elas representam um instrumento seguro de auto-conhecimento, em que podemos mergulhar na escuridão supremas de nossos infernos e desse mergulho sairmos renovados, renascidos e mais conscientes.

Na primeira parte do poema Valquíria recebe um monumento movediço, que é o poder da academia, advindo do Iluminismo e toda aquela parafernália lingüística científica, que estabeleceu os parâmetros dos cânones universitários como verdades supremas, eternas e intocáveis. Essa é a história provisória, aquela que cria factóides doutorados em nada e que cria seus papagaios falantes através do asujeitamento ideológico, da expansão do capitalismo e da sedimentação da revolução industrial. Daí o prazo de validade da baixa modernidade, agora travestido em um discurso positivista, tais como o determinismo biológico de um Victor Hugo ou uma pirotecnia inócua de um Bilac, prontos para serem ultrapassados pelos autores da alta modernidade. Por isso Valquíria não quis esse monumento e nem essa devoção.

Na segunda parte do poema saímos do pensamento arcaico e entramos em algo mais estendido. A presença do realismo-fantástico nessa segunda parte é proposital e representa a ruptura com o retilíneo, da mesma forma que atesta a expansão do capitalismo, do consumismo globalizado, bem como a expansão da quinta revolução industrial, a partir da nanotecnologia inteligente. As vacas e os motores representam a dialética da civilização, que convive com o velho e o novo. Portanto, a segunda parte do poema representa a evolução da linguagem aos moldes das vanguardas européias e das novas ciências, tais como a neurolinguística, a semiótica e a semiologia. O novo cânone é formado pelas estéticas da contracultura, da iconoclastia, do experimentalismo e da livre colagem de idéias, sem romantismos, sem esquematismos, sem formas fixas, sem concepções arcaicas da linguagem.

Mas a prole de Valquíria não aceita esse novo templo do fluxo da informação, posto na sala, como uma televisão, um rádio ou um DVD. Devido às configurações do capital e do trabalho, bem como da tecnologia a prole de Valquíria prefere correr riscos individualmente ao compreender a realidade à sua maneira, daí a venda para os olhos, que é simultaneamente uma venda de venalidade, como venda de proteção, como também venda de alienação. Daí a necessidade remarcada. Esse é o instrumento de Valquíria, possibilitar uma viagem no escuro das fragmentações interiores para uma reificação da realidade. Por isso que o poema é circular, vem outra prole e outra. Na realidade o daguerreótipo é a carnavalização do mito da história completa, irretocável, sem perdas. O poema trata da evolução da linguagem do Iluminismo para cá, entendeu? É essa a poesia que eu acredito, que provoca a reflexão, que cria um estranhamento necessário para que se entenda que existe uma ruptura entre o real e o simulacro da realidade.

abraços

Dihelson Mendonça disse...

Prezado Marcos,

Vou considerar somente a segunda parte da sua mensagem, que é de extrema importância para quem deseja obter a compreensão dos seus poemas pelo seu método. Estou muito feliz pela elucidação desse que era um enigma, e pedi a várias pessoas pessoas para me traduzir, e ninguém me atendeu. Como lhe falei há uns artigos atrás, muita gente aplaude certas obras-de-arte achando que estão entendendo. Longe de mim tal coisa. Hoje posso aplaudir ainda mais veementemente e agradecer pelo seu belo poema, devido à compreensão que agora veio junto e pude entender.

Não há sentido em se aplaudir o que não se compreende apenas pelo uso de belas palavras e belas construções. O sentido interno, imanente é o mais importante. Assim, agradeço bastante pelo seu daguerreótipo.

Vejo-me também incompreendido pela sua pessoa, quando postei um poema em retribuição ao seu. Você veio de lá com 7 pedras, achando que de alguma forma eu quis debochar do que vc havia escrito. Não, meu querido!

também vou te explicar, já que você, mesmo no alto da sua sapiência não entendeu a minha intenção:

Esse poema que postei, faz parte da chamada poesia surrealista, e o trecho, é um dos mais famosos poeta s surrealistas, Orlando Tejo. Quando o poema fala em poças de elefantes iluminados, nada me vem mais à cabeça do que os elefantes cor-de-rosa, que usei para ilustrar o texto. E se você observar bem, as pessoas não estão reverenciando o elefante, ele na verdade é um balão de gás, veja o cilindro do outro lado, de um campeonato de balonismo. As pessoas estao a encher o balão-elefante de ar.

E mesmo se fosse uma reverência, o que teria a ver se eu ilustrase a poça de elefantes iluminados com um elefante ? Acaso você não tomou para si a imagem do elefante, decerto, pois tem gente que vê maldade em tudo, quando a vida mesmo, é tão mais simples...talvez pelo fato de voce trabalhar em lingaugens figuradas já está se esquecendo que quando se mostra a foto de um elefante, além das trilhões de coisas que ele possa significar, esqueces o mais óbvio: de que é apenas um mero elefante.

E explicando também, o trecho "Saborosos desaforos" faz parte do poema de Orlando Tejo, não é criação minha. Portanto, me eximo de qualquer culpa e dessa violência escrita que vc descarregou em mim por causa dessa palavra "desaforo".

E se eu não louvasse tanto a poesia do Domingos Barroso nem admirasse a grande pessoa que ele é, eu jamais o haveria presenteado com um Blog só para ele, e que irei fazer a manutenção, coisa que irá me dar um certo trabalho, mas que em reconhecimento pelo imenso talento e coração humano que ele possui, eu faço de bom grado.

Às vezes, o Mal está mais dentro da gente do que na língua das pessoas, querido Marcos.

Obrigado pela interpretação do texto. Eu só tenho a agradecer.
Se você não gostou do elefante cor-de-rosa, basta soltar o fio que o amarra, e ele sobe até o céu...

Abraços,

Dihelson Mendonça

Dihelson Mendonça disse...

Marcos,

E ouso dizer mais...
Eu até duvido que haja alguém por aqui que tenha entendido aquele seu poema em todo o sentido que você descreveu agora, e levou duas ou 3 vezes mais palavras para explicar. Há coisas que só o autor mesmo entende pelo modo de dizer as coisas. O resto finge que entende para parecer intelectual, ou para não demonstrar o fiasco de parecer ignorante, aplaudindo na primeira fila, e até comentando certos trechos. tsc...

Em música existe muito isso também. Fazemos certas obras que os outros aplaudem, mas temos certeza ABSOLUTA Absluta que nenhuma daquelas pessoas está entendendo patavina, o real significado de tudo aquilo, mesmo em coisas tão banais quanto um improviso em "Satin Doll" do Duke Ellington se ele é feito pelo Michael Brecker, por exemplo. Todos aplaudem e dizem: "O Brecker é o máximo". Só que nós músicos que estudamos a fundo essas linguagens complexas dos sons, nos vemos diante de um caos, estudando dias e dias um mero trecho para que se compreenda o real significado de certas passagens, e os maiores do mundo ainda sentem essas dificuldades, que dirá aqueles pobres ouvintes que vão ao teatro ouvir Brecker, Hermeto, Zappa, Corea, e saem felizes como se houvessem entendido tudo que foi exposto ali.

Qual o quê...
Qual o quê...

Os tolos fazem isso. Mas eu penso que não adianta aplaudir o que não se compreende. Por isso, mais uma vez, muito obrigado pela explanação. Acho que você deveria nos dar o prazer de umas aulas sobre literatura moderna, que vejo, é mais a sua praia, lá na Oficina de Produção Literária de Janeiro. Não consigo ver alguém mais competente e capacitado para fazê-lo.

Um abraço,
Dihelson Mendonça

Marcos Vinícius Leonel disse...

É, cara, realmente é melhor desconsiderar mesmo esses três primeiros parágrafos do meu comentário, absurdamente cegos e individualistas, pura agressão gratuita.

Muitas vezes eu me pergunto o motivo de minhas atormentações, mas sigo sem respostas concretas. Não sou depressivo e nem bipolar, mas sou tempestivo, muitas vezes a minha vista se turva e não consigo
reconhecer simples reflexos. Algumas pessoas mais próximas afirmam que é pelo fato d'eu ser áries em áries, mas isso soa como mais um escapismo.

Mas, é isso, maestro, cada um com sua cruz.

abraços

Dihelson Mendonça disse...

Tudo em Paz, meu querido!

Às vezes, todos somos meio intempestivos. Quantas vezes não o sou também, por entender as coisas a meu modo quando outros falaram de outras formas totalmente alheias à minha compreensão ?

O que seria de nós se não fossem os amigos ? Amigo é pra levar porrada mesmo, já que nao podemos dar nos inimigos. Mas o amigo se levanta e compreende o outro amigo.

Um grande abraço,

DM