TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 17 de março de 2009


Existe sim uma ilusão de ser feliz. Mas não sei quem sabe fazer isso a ponto de ensinar. Olho pra trás e vejo o menino com o copo de danone cheio de cola. Depois ri. Rio também. Acho que ele não me vê. Acho que não o vejo se olhar direito. Tenho um relógio no pulso. Isso significa que tenho horários a cumprir. Metas. Subo as escadas apressado. Por um instante me deu vontade de descalçar os sapatos. Sentar do lado do menino. Cheirar um pouco de cola também. Rir. Assim como se rir fosse a coisa mais importante a se fazer nesse dia de sol tão absolutamente filho da puta.

3 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Tem ocasião que a ilusão da escrita nos faz cair feito um peixe na rede. Este texto do Lupeu parece um paralelo entre o relógio e a cola no copo de danone. Mas não é um paralelo. Na verdade são solutos e solventes que formam a mesma solução geral. Por isso a vontade sentar-se que era para subir escadas.

Domingos Barroso disse...

Meu camarada,
esmorecer-se não por sentar-se
e por lombrar-se,
mas pelo suspiro intenso e profundo.

Deixe-me dar-lhe um forte abraço.

jflavio disse...

Caro Lupeu,

Diz o velho Nykos que esta vida não dá para suportar sem anestesia. Até o menino miudinho torce a corda do balançador para rodar no seu currupio e sair dali tonto e lombrado.Aí variam apenas as marcas: uns usam cola, outros coca, outros religião, outros lexotan,outros análise, outros álcool. Talvez porque não queiram viver de "coca" ou porque esta vida sem sentido não "cola".