Eu que tenho muito a dizer
Que por mil porquês sempre fico calado
Cansei dessas primaveras cratenses de flores murchas
Cansei de crepúsculos nos prados
Dos contos, de histórias e de bruxas
Cansei da roda-viva no ataúde
E que nesta cidade, em amiúde debulham meus pecados
Eu, que já não me desvio dos dardos
Não suporto os tiros de carabina
Eu que sorrio de boca aberta na neblina
Que danço balés nestas ruas
Que nuas abrem as penas para mim.
Eu, que outrora atingido por mil carabinas
E pela chuva de canivetes dos pivetes
Hoje, como poeta, decreto que tudo que é fogo vire neve
E que tudo que me atinja seja de festim
Foto:Gabriel Gonçalves
3 comentários:
Meu camarada,
há poemas que na primeira tragada
enchem-se a garganta e alma
de bons e frutíferos ares.
Este é um filho extasiante.
Um forte abraço.
Obrigado Domingos. Há pessoas que com sua presença (embora distante) nos trazem a mesma sensação. Obrigado pelo comentário.
Corajoso Sávio, parabéns pela armadura. Assim vestido fica imune aos dardos.
Um beijo.
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