Retrato de Tiradentes foi idealizado, diz historiador
As pinturas que retratam Tiradentes com barba e cabelos nos ombros foram inspiradas em Jesus Cristo
Desde cedo, as crianças aprendem nas escolas que o feriado de 21 de abril marca o Dia de Tiradentes, um personagem da Inconfidência Mineira, movimento em defesa da República, e que por isso foi condenado e enforcado em 1972 em Vila Rica, Minas Gerais. O que poucos sabem é que a imagem que vemos nos livros escolares de Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, é uma idealização de quem o retratou.
Desde cedo, as crianças aprendem nas escolas que o feriado de 21 de abril marca o Dia de Tiradentes, um personagem da Inconfidência Mineira, movimento em defesa da República, e que por isso foi condenado e enforcado em 1972 em Vila Rica, Minas Gerais. O que poucos sabem é que a imagem que vemos nos livros escolares de Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, é uma idealização de quem o retratou.
Segundo o historiador e pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Minas Gerais, Olinto Rodrigues, as pinturas que retratam Tiradentes com barba e cabelos nos ombros foram inspiradas em Jesus Cristo. “Provavelmente essa não é a imagem de Tiradentes. Ele, quando foi enforcado, vestia roupa branca, mas deve ter sido conduzido à forca com a cabeça e barba raspadas, o que era comum aos enforcados na época”, explicou o historiador em entrevista à Rádio Nacional. Segundo ele, não é possível reconstruir a imagem fiel de Tiradentes, já que não há pinturas anteriores ao enforcamento que o identifiquem.
Joaquim José da Silva Xavier ficou conhecido com Tiradentes por ter exercido a profissão de dentista. Foi preso depois de se envolver no movimento chamado de Inconfidência Mineira que tinha, entre os seus objetivos, o de estabelecer um governo republicano independente de Portugal. O historiador Olinto Rodrigues explica que a Inconfidência Mineira foi um movimento localizado, que abrangia principalmente Minas Gerais e o Rio de Janeiro. “Pretendia-se um governo republicano primeiro em Minas Gerais, talvez com Rio de Janeiro e São Paulo. Essa idéia de um país homogêneo surgiu apenas a partir do Segundo Reinado”.
Depois de ser preso, Tiradentes negou inicialmente a participação no movimento, depois foi o único a assumir toda a responsabilidade pela inconfidência. O processo contra os inconfidentes durou três anos e, ao final, apenas ele permaneceu com sentença de morte.
(Agência Brasil)
(Agência Brasil)
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Há 30 anos, o historiador inglês Kenneth Maxwell, autor do livro "A devassa da devassa" (Rio de Janeiro, Terra e Paz, 2ª ed. 1978.) já defendia outro olhar sobre a Inconfidência Mineira, a ver:
"Novos estudos históricos apresentam uma inconfidência mineira diferente daquela que nos narram os livros didáticos.Embora a historiografia oficial considere a inconfidência mineira (1789) como uma grande luta para a libertação do Brasil, o historiador inglês Kenneth Maxwell, autor de "A devassa da devassa" (Rio de Janeiro, Terra e Paz, 2ª ed. 1978.) que esteve recentemente no Brasil, diz que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa", e que objetivava, não a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais.
Esses novos estudos apresentam um Tiradentes bem mudado: sem barba, sem liderança e sem glória. Segundo Maxwell, Joaquim José da Silva Xavier não foi senão o "bode expiatório" da conspiração. (op.cit., p. 222) "Na verdade, o alferes provavelmente nunca esteve plenamente a par dos planos e objetivos mais amplos do movimento." (p.216) O que é natural acreditar. Como um simples alferes (o equivalente a tenente, hoje) lideraria coronéis, brigadeiros, padres e desembargadores?
A "Folha de S. Paulo" publicou um artigo (21-04-98) no qual se comentam os estudos do historiador carioca Marcos Antônio Correa. Correa defende que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792. Ele começou a suspeitar disso quando viu uma lista de presença da Assembléia Nacional francesa de 1793, onde constava a assinatura de um tal Joaquim José da Silva Xavier, cujo estudo grafotécnico permitiu concluir que se tratava da assinatura de Tiradentes.
Segundo Correa, um ladrão condenado morreu no lugar de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. Testemunhas da morte de Tiradentes se diziam surpresas, porque o executado aparentava ter menos de 45 anos. Sustenta Correa que Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Silva (maçom, amigo dos inconfidentes e um dos juízes da Devassa) e embarcado incógnito para Lisboa em agosto de 1792.
Isso confirma o que havia dito Martim Francisco (irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva): que não fora Tiradentes quem morrera enforcado, mas outra pessoa, e que, após o esquartejamento do cadáver, desapareceram com a cabeça, para que não se pudesse identificar o corpo.
"Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pelo Brasil". Como só tinha uma, talvez Tiradentes tenha preferido ficar com ela".
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