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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Endêmico

Relatório confirma abuso de milhares de crianças por parte da Igreja Católica da Irlanda

Publicada em 20/05/2009 às 23h46m
O Globo
Agências internacionais

RIO - Cerca de 12 mil meninos e meninas de escolas e orfanatos sofreram abusos sexuais de padres e freiras da Igreja Católica da Irlanda. Segundo uma investigação iniciada em 2000 e publicada nesta quarta-feira em Dublin, o governo fez pouco para impedir as violações, que ocorreram entre as décadas de 1930 e 1990.
O juiz da Suprema Corte, Sean Ryan, afirmou que o resultado conta com 2.600 páginas, organizadas pela Comissão para a Investigação de Abusos a Crianças com base em testemunhos de milhares de ex-alunos e funcionários das cerca de 250 instituições dirigidas pela Igreja. Quase todas elas foram fechadas nos anos 80 e 90. No entanto, houve casos de abusos, em menor escala, registrados até o ano 2000. Há relatos de crimes até mesmo em hospitais para crianças com necessidades especiais.
" As meninas eram golpeadas em todas as partes do corpo com objetos desenvolvidos para provocar o máximo de dor "
Mais de 30 mil crianças acusadas de roubo, abandono de escola e filhas de mães solteiras foram enviadas para a sombria rede de escolas técnicas, reformatórios, asilos e orfanatos católicos por cerca de 60 anos.
"As escolas eram administradas de forma severa, impondo uma disciplina opressiva e não razoável às crianças e funcionários", diz o relatório.
O relatório concluiu que os líderes da Igreja sabiam sobre os crimes - inclusive sobre os abusos sexuais de meninos, cometidos por padres e funcionários -, mas acobertaram de forma sistemática a prática. Ainda assim, o documento não aponta responsabilidades nem recomenda abertura de processos.
Os abusos sexuais eram "endêmicos" dentro das instituições para rapazes, dirigidas principalmente pela ordem dos Irmãos de Cristo. As meninas eram orientadas principalmente pela ordem das Irmãs da Misericórdia, que as humilhavam e as faziam se sentir desprezíveis.
A Igreja Católica tentou repetidamente impedir a publicação do relatório elaborado por uma comissão independente irlandesa, que ouviu os depoimentos de milhares de pessoas, atualmente com idades entre 50 e 70 anos.
"Em algumas escolas os rituais aconteciam rotineiramente. As meninas eram golpeadas em todas as partes do corpo com objetos desenvolvidos para provocar o máximo de dor", informa o relatório.
Há muito tempo as vítimas do sistema exigem que suas experiências sejam documentadas e publicadas para que as crianças irlandesas não voltem a padecer com os mesmos sofrimentos.
No entanto, a maioria dos líderes das ordens religiosas nega as denúncias, afirmando que as declarações são exageradas e mentirosas.
O relatório propõe 21 formas de o governo se redimir dos erros cometidos no passado, incluindo a construção de um memorial, um serviço de acompanhamento psicológico para as vítimas, muitas já aos 50 anos, e a melhoria dos serviços de proteção à criança na Irlanda.
No mês que vem será divulgado um outro relatório sobre supostos abusos de padres católicos em paróquias perto de Dublin, capital da Irlanda.

8 comentários:

jose nilton mariano saraiva disse...

Zé Flávio,
São números impressionantes (uma média de 200 vítimas por ano). Como impressionantes foram os métodos (nazistas) utilizados na consecução do objetivo final.
A pergunta que se impõe: serão excomungados os seus autores ou tal monstruosidade será creditada à fraqueza do ser humano e, por consequência, obliterada ???
Quanta desumanidade, não ???

Marta F. disse...

Viu a saída estratégica da igreja não permitindo divulgar os nomes dos autores? O crime foi assumido totalmente pela instituição a que pertencem. Pediram licença pra lavar a batina suja em casa. Como são educados e ricos, deixaram. Será que não chegou a hora da igreja pelo menos dividir em duas opções o celibato? Uma parte para padres "casáveis", e outra para celibatários convictos, seria uma escolha aos que tem vocação.

Carlos Rafael Dias disse...

Caríssimo Zé Flávio,

Não só existe abuso sexual nas "sacristias" da Igreja Católica Apostólica Romana, como em muitas outras instituições, a exemplo de escolas, empresas, palácios de todos os poderes e instituições de saúde. Aliás, nos hospitais existem, cotidianamente, outros tipos de abuso contra crianças, adolescentes, adultos e, principalmente, velhos. É o abuso do mau atendimento ou da preferência pelos planos de saúde ou atendimento particular em detrimento da saúde pública. Sei disso na carne, pois experimentei o detratamento sofrido pelo meu velho pai, enfartado e no final de vida, humilhado que foi por um “brilhante” médico cratense. Nem por isso, deixo de acreditar em pessoas sérias e honestas como você e tantas e tantas e outras que espero que sejam maioria no meio desta verdadeira “máfia” infiltrada nos nosocômios da vida.
Não devemos, pois, tirar o continente pelo conteúdo.
Graças Deus, tive o privilégio de conviver com sacerdotes exemplares, de estirpe espiritual e moral irrepreensível como Antonio Feitosa, João Bosco Cartaxo, José Honor de Brito, Elias, Rocildo Filho, José Vicente, Manuel Feitosa, Ivan e tantos e tantos e outros. Alguns destes, convivi na minha fase de pré-adolescência e nunca tive a mínima prova de desvio de conduta destes preclaros presbíteros. Devo a eles, e em grande monta, valiosos ensinamentos de vida, indeléveis e decisivos.

Portanto, é importante, até indiretamente, não contribuirmos nas injustas generalizações, que, deixo claro, não ser objetivo seu ao reproduzir esta reportagem.


Obs.: Sou favorável que todas as injustiças sejam apuradas e punidas.

jflavio disse...

Caro Rafael,

Claro que os abusos não são uma instituição apenas da Igreja Católica. Existem também nos hospitais, nas escolas e nas universidades como tão bem vc sabe.O único probleminha , amigo, é que o Cristianismo veio ao mundo justamente para mudar isso, para trazer a boa nova, para mudar todas as deformidaes pregadas pelo Velho Testamento. Nunca imaginei que a Igreja dos homens apenas fariam a mesmíssima coisa, seguisse os mesmos erros, as mesmas taras, os piores crimes . As outras instituições ao menos não chegaram ao mundo se arvorando de perfeitos e com a missão defintiva de afastar-se do inferno e trazer o céu para terra. Se , conforme mesmo você conclui, eles abusam só na irlanda de masi de 12.000 crianças, mas os médicos também o fazem, os professores também o fazem, os mafiosos também praticam... o que separa esses santos homens de deus dos outros tortos mortais? Por que Deus lá céu ( que destruiu Sodoma) não toma nem uma providência radical para mudar um descalabro desses? É também conivente ? Cansou do mundo que criou?
agradeço ao Nilton e à Marta tb pelos comentários

Armando Rafael disse...

Caro Zé Flávio,

1) Pelo menos já houve um mínimo progresso na sua antipatia – diria mesmo na sua ojeriza – contra a Igreja Católica. No seu comentário acima, você reconhece: “Claro que os abusos não são uma instituição apenas da Igreja Católica”. Traduzindo: essa perversidade ocorre também em outras instituições;

2) Entretanto, ocorre aí o primeiro equívoco. Na realidade é profundamente injusto acusar a instituição “Igreja Católica” pelos abusos sexuais cometidos por alguns de seus poucos membros contra menores. Por não ser um procedimento generalizado a acusação deveria ser lançada contra “alguns religiosos” que tiveram esse desvio de conduta. Já em 2002, o Papa João Paulo II afirmou que "não há lugar, no sacerdócio e na vida religiosa" para padres que maltratam menores, ao tempo que condenou vigorosamente a pedofilia como um "crime" e também "um terrível pecado aos olhos de Deus";

3) Não conheço a realidade de outros países no tocante à ação da Igreja Católica. Meu conhecimento se limita à realidade da Diocese de Crato. Ao que me conste, nunca se deu publicidade de abusos sexuais cometidos por sacerdotes contra menores, nestas paragens. Pelo contrário, ninguém de sã consciência pode obscurecer a imensa bondade espiritual e social que foram feitas por bons sacerdotes da Igreja no Sul do Ceará. A obra social do Padre Ibiapina foi muito voltada para a proteção de meninas órfãs as quais, sem um lar, estavam à mercê da exploração por pessoas inescrupulosas. Quem, da nossa geração, pode olvidar o imenso bem aqui feito por sacerdotes do estilo de Mons. Pedro Rocha, Mons. Montenegro, Padre Frederico Nierhoff, Mons. Rubens Lóssio, Padre Antônio Vieira, Padre Davi Moreira, Mons. Antônio Feitosa, dentre outros? Quem nunca ouviu falar dos frutos da ação pastoral-social de Dom Quintino, Dom Francisco e Dom Vicente?

4) Ademais, o abuso contra crianças é um grave sintoma de uma crise que afeta não só a alguns membros da Igreja Católica que praticaram esse desvio de conduta. Ele afeta a sociedade no seu conjunto, haja vista as notícias diárias da mídia de pais que abusam dos próprios filhos;

5) E não é correto o argumento de que: “outras instituições ao menos não chegaram ao mundo se arvorando de perfeitos e com a missão definitiva de afastar-se do inferno e trazer o céu para terra”. Não. A Igreja Católica ensina justamente o contrário. No Catecismo da Igreja Católica, art. no. 827 diz: “Todos os membros da Igreja devem reconhecer-se pecadores. O joio do pecado continua mesclado ao trigo até o final dos tempos. A Igreja reúne pecadores presos pela salvação de Cristo, mas em via de santificação”. Entretanto, sabemos, que a Igreja conta com milhares de sacerdotes dignos e santos, que vivem o seu sacerdócio com todo empenho e alegria, e servem ao povo de Deus com zelo e santidade, realizando magnífico trabalho pastoral;

6) A realidade, caro Zé Flávio, é que estamos vivendo um momento difícil na Igreja Católica, por causa do sensacionalismo dos meios de comunicação. A mídia tem divulgado escândalos e infidelidades envolvendo membros da Igreja. É profundamente lamentável que eles tenham caído na tentação, tenham ferido seus compromissos religiosos causando males e escândalos. Infelizmente, sabemos que houve casos verdadeiros, porém não podemos generalizar nem dar crédito a tantas manchetes alarmantes. A nós cristãos cabe sermos fiéis a Igreja de Cristo, respeitando e colaborando com nossos sacerdotes, humanos como nós, que dedicam as suas vidas ao trabalho religioso em total renúncia do mundo material, salvo os casos das “tentações” que todos os seres humanos estão sujeitos.

Muito Cordialmente,
Armando

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Prezado Zé Flávio

Acredito que nada poderei acrescentar, além do que já foi comentado aqui pelos que me antecederam, principalmente às brilhantes intervenções dos irmãos Armando e Carlos Rafael. Em todas as missas, que diariamente nós católicos celebramos pelo mundo afora, há uma oração em que reconhecemos que a Igreja é Santa e Pecadora. Pecadora porque é composta de homens. E muitos deles escondem suas opções sexuais por trás do celibato sacerdotal. Providências estão sendo tomadas. Posso afirmar que uma delas, aqui em Fortaleza, e creio ser orientação para todo o Estado do Ceará, é que os jovens “vocacionados” ao sacerdócio passam antes por uma profunda avaliação psicológica, com o objetivo de evitar que pessoas desequilibradas emocionalmente façam a opção de abraçar a dura vida que enfrentará um sacerdote.
Sou favorável que o celibato seja abolido da Igreja Católica. Assim teríamos mais sacerdotes. Mas não será a abolição do celibato que resolverá o problema aqui abordado. Errar todos nós humanos estamos passível disso. O que se pode chamar de “acobertamento” pela Igreja, pode ser definido por “perdão” aos que erram. Mas, enfim, quem somos nós? Como tão bem disse Jesus ante a mulher adúltera em via de ser apedrejada, “quem de vós poderá atirar a primeira pedra?”

jflavio disse...

Caros amigos Armando e Eduardo,

Pode até parecer que tenho uma ojeriza total para com a Igreja Católica, pelo histórico de postagens e comentários no blog. Primeiro preciso deixar claro que respeito integralmente a crença de vocês: cada um busca o anestésico que melhor nos apraz para ir tocando essa vidinha terestre, com possibilidades várias de sobrevivência num outro plano(?) o que nos minora um pouco o medo da morte . Ao contrário do que possa parecer tenho uma grande proximidade com ela: minha família é profundamente religiosa e eu, próprio, quase era filho de padre( meu pai abandonou o Seminário no último ano). Tenho grandes amigos católicos e padres. E é verdade o que Armando coloca quanto à grande quantidade de figuras sensacionais dentro de suas hostes( só entre ods Dominicanos se tivemos torquemada tivemos também Giordano Bruno e Frei Beto). O grande problema é que a Igreja tem duas visões bem claras: de um lado uma visão secular e da outra uma visão estatal e, muita e muitas vezes, estes interesses são conflitantes e a balança pesa sempre para o lado político( como no Nazismo, por exemplo). Os abusos sempre existiram e vocês sabem bem disso, só que antes não havia possibilidade de divulgação( o poder da Igreja na Idade Média era gigantesco) e é ótimo que venham à tona , quem sabe assim, com risco de punição todos pensem duas vezes antes de atacarem o primeiro inocente. Por trás de tudo está sempre a visão estatal: por que exigir o celibato? De onde se arrancou isso dos livros sagrados?o próprio Pedro( o primeiro papa) era casado. Por que não admitir que o homosexualismo é uma realidade biológica e não uma doença, se as próprias hostes religiosas estão apinhadas dessas figuras? Se Deus permitiu que eles assim fossem, por que expô-los ao ridículo, à execração? Por que o acúmulo desenfreado de riquezas por tantos, se o que Jesus rpegou foi justamente o total desapego às coisas materiais? São Francisco, a meu ver, é a figura mais improtante do Catolicismo após Jesus, por que a Igreja como instituição não segue seus passos? Já repararam que nunca houve nenhum papa chamado de Francisco? Ter um olho voltado eternamente para o céu e outro fixado na terra , esse estrabismo é que tem levado a tantas deformidades , a tantos desvios. Sem que esssas deformidaes sejam reveladas, como a Igreja acordará para saná-las e reconhecer sua falibilidade?Quando o Armando e o Eduardo colocam que a igreja é feita por pessoas comuns e falíveis, fico feliz e imagino que muitas das suas leis criadas por falíveis também são como nas questões envolvendo a camisinha, o anticonceptivo, o homossexualismo, as células tronco e concluo que eles não podem ter as resposatas definitivas sobre a visão íntima de Deus sobre esses assuntos

jose nilton mariano saraiva disse...

Zé Flávio,

Brilhante sua exposição.
A verdade é que, embora ainda timidamente, os menos radicais dos seus integrantes já admitem que ou a Igreja se recicla (em termos de ciência, de sexo e por aí vai) ou tende a esvaziar-se, progressivamente, por conta de posições anacrônicas assumidas lá atrás, não consentâneas com o mundo atual (o celibato, por exemplo).
Enquanto isso, a debandada rumo a outras seitas mais flexíveis é uma realidade insofismável, adimitida pelo próprio Vaticano, apesar do conservadorismo do Ratzinger (Bento XVI).
Só não vê quem não quer.