TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O cordel do promotor.

Em Alagoas, um promotor solicitou ao juiz que soltasse dois homens presos por terem roubado cocos. Para o promotor, o furto dos cocos  demonstra a necessidade da soltura dos homens a partir do princípio da insignificância das prisões. 

E ele tem razão. 

Leia o cordel: 

"MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE ALAGOAS

PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PORTO DE PEDRAS

Autos nº 031.08.500055-9

Sr. Julgador;

A vida é tão ingrata, e o pior quando dá muitas vezes é injusta no ato de cobrar.

o processo em curso é mais um dos casos que somente se quer punir os desamparados.

A estória é bem simples que da dó até de falar, pegaram três cabras tirando coco e a recomendação da polícia era cadeia já!

E assim foi, por conta do acontecido, ficaram dois deles quase dois meses detidos.

E o caso não terminou não, e o valor dos cocos que os acusados levarão era sem expressão.

No todo foi R$ 69, na divisão, caberia a cada um valor tão insignificante que é até uma injustiça tratá-los como meliantes.

O pior, é o que a gente ver no meio político, nas rodas das altas autoridades, onde se mete a mão e com vontade.

Os acusados, coitados, desempregados, sem condição de ganhar o pão, a custa de tudo isso passaram grande privação.

Ficaram presos, mesmo sendo primários, e ainda tiveram que levar a fama de ladrões e homens safados.

Interessante, o que se vê é que os verdadeiros ladrões do erário, que metem a mão em mais de um milhão, são tratados de homens de bem e pessoas da mais alta distinção.

Um dos acusados, na polícia falou, "eu levei os coco seu doutor.

Mais seu doutor, estou desempregado, e com três crias para dar de comer, na verdade o que eu queria era fazer os meninos parar de sofrer".

Enquanto o homem do colarinho branco, quando é pego metendo a mão, grita logo, eita seu juiz é um absurdo tão me chamando de ladrão!

Os acusados por conta dos cocos, confessaram a condição de ter metido a mão, mas eu pergunto seu Juiz, é motivo para prisão?

Sessenta e nove reais, quase dois meses de detenção, será que precisa de mais aflição?

Para corrigir uma injustiça, cabe ao defensor da lei, dizer, senhor juiz vamos então resolver, reconheça a insignificância e diga que esse fato não pode ter importância.

Agindo assim, justiça vai fazer e dessa forma, fica o desejo desse humilde promotor, que um dia coloquemos nem que seja por um dia na prisão os que metem a mão no dinheiro das nossas crias.

É o parecer.

03/06/09

Flávio Gomes da Costa

Promotor de Justiça "  

Nenhum comentário: