Segue abaixo parte do capitulo 2 da minha dissertação de mestrado defendida em 1982 na COPPE/UFRJ:
Os valores são os "nutrientes culturais" ou os alimentos de uma sociedade. Se ela está mal nutrida, a consequência é a debilidade psiquica-espiritual. A qualidade dos valores determinará a saúde de cada sociedade. A desorganização dos valores da sociedade moderna se reflete na desorganização psíquica do indivíduo que se "infecta" cada vez mais, sem conseguir recuperar o equilíbrio psíquico-espiritual.
"Os meios de comunicação - televisão, Hollywood, rádio, revistas e jornais - literalmente bombardeiam o ser em crescimento com toda sorte de estímulos e elementos sobre o que acreditar, como comportar-se, que espécie de linguagem usar, como vestir, que estilo de vida seguir, e até como evitar o envelhecimento. Há sempre a mensagem implícita: É assim que deve pensar e agir se quiser ir para a frente, ter sucesso, impressionar seus superiores e ser atraente sexualmente. Depois vem o grupo de pares, uma das mais influentes entre as forças moralizadoras. "Se quiser pertencer e ser aceito, eis como deve pensar e agir". Acrescente-se a essas os líderes políticos, os líderes do movimento juvenil, os heróis folclóricos e do rock, os vultos do esporte, cada qual acrescentando à confusão um novo conjunto de moralizações. e eis o dilema da criança de hoje.
Qualquer uma dessas moralizações pode ser muito sábia ou muito tola, útil ou prejudicial, moral ou imoral. Mas, quem sabe? Por certo, não o ser jovem, que, apanhado em meio ao fogo cruzado, mal pode entender alguma coisa.
Tentamos ensinar valores, mas num mundo de confusão e conflito em torno de valores isso não é bastante. Não importa o quão sinceros sejamos em nosso desejo de ajudar, tudo o que damos ao ser jovem é mais um elemento, mais uma mensagem moralizadora, que entra em seu superlotado computador para ser processada junto com o resto" (KIRSCHENBAUM e SIMON,1977,p.287-288).
Ainda segundo SKOLIMOWSKI (1989,p.3), os quatro valores que moldaram a psique ocidental são:
a) os valores gregos ou homéricos;
b) os valores judaico-cristãos ;
c) os valores renascentistas;
d) os valores econômicos e tecnológicos da sociedade moderna.
Esses valores podem estar num equilíbrio harmônico ou podem se rejeitar, originando um desequilíbrio conflituoso e particularmente grave quando operam sem a supervisão de nossa consciência. E as técnicas de "sutilização da sensibilidade" são importante apoio para reforçar essa necessária supervisão.
A "areté" helênica, que podemos traduzir como "virtude", é um conceito significativamente mais amplo do que o nosso conceito de excelência técnica, vista em termos de eficiência industrial. A cultura grega não estava preocupada com a especialização mas sim com a busca da versatilidade. Segundo SKOLIMOWSKI (1989):
"Tal cultura abarcou uma diversidade de aspectos nos quais as coisas particulares tinham significação como partes de um todo maior [...] A mente moderna divide, classifica, especializa, pensa através de categorias enquanto a mente grega buscava a totalidade, a visão mais ampla e um todo orgânico" (p.4).
Embora ainda admiremos a areté dos gregos, infelizmente perdemos de nosso campo de visão seu significado de "sutilização da sensibilidade".
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