Depois dos olhos abertos
percebo o quarto escuro
nem tão tenebroso.
O Vazio me prende -
e tive nas mãos a chance
de abrir a janela.
Quando passar pelos canteiros
levarei no vento as antenas das formigas.
Ao tocar o sino da Catedral
o velho pardal me chamará de herege.
Serei eu apenas e as minhas asas esticadas
com todo o furor do primeiro elástico de baladeira.
Na ponta -
um oiti verde.
Meu alvo é aquela andorinha
que há muito esqueceu o canto.
Só grita,
só berra,
só tem vodu no bico.
Sei que mais tarde
as minhas asas caem sobre o formigueiro.
As formiguinhas vingativas
hão de comer minha carne
e o pardal inteligente
fará petisco da minha memória.
Nada me falem sobre aquela andorinha.
Fez-me muito mal o veneno das suas palavras.
Minhas asas logo outra tinta
outra textura
outro ruído.
Pode ser uma simples hemorroida
ou um maligno câncer.
Visível apenas a lâmina de sangue
no fundo do vaso sanitário.
2 comentários:
Poeta,
Com sua permissão, recitarei esse poema no próximo programa Cariri Encantado.
Amplexos...
Meu dos Anjos, o pior câncer é no pensamento.
Poeta não morre... Poeta se eterniza !
Abraços
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