TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Crítico


Roberto Jamacaru

Que olhar cirúrgico é esse teu, velho parceiro, que só consegue enxergar um despropositado desalinho nos fios de meu sapato? Será que, mesmo vendo, não consegues enxergar o meu sorriso aberto e o perfeito caimento do resto do meu terno?

Vejo que essa bisbilhotagem do alheio é para ti um vício inconseqüente que já não consegues dominar. Também, pudera... Numa rede a balançar, essa tua pobre imaginação não consegue outra coisa pensar a não ser criticar, criticar e criticar... Aliás, só para aparentar ser o máximo e ter o prazer mórbido e maníaco de criticar!

Lembro-me que certa vez não poupastes, sequer, os meus lapsos involuntários de escrita. Fizestes o mesmo com meus livros, hobbys e músicas que são gostos pessoais. Deles, sobre a alcunha pusilânime de anônimo, resolvestes falar, só para não perder o velho hábito de aparecer e muito falar. Falar, falar e falar... Aliás, só para ter o prazer doentio de falar!

Que pena, “nobre” crítico! Por que será que nunca tentas conjugar, ao menos uma vez, o presente do indicativo dos verbos elogiar ou criar? Será isso uma deficiência da tua gramática que, de tão limitada, só consegue apresentar, no pretérito, presente e futuro, uma única conjugação em suas páginas, a cômoda criticar?

Mas vamos em frente em frente, minha cara e restrita imaginação!

De um lado eu continuo nessa minha incansável e prazerosa missão de criar, criar e criar... Sem, contudo, só com os erros e as críticas me importar. Do outro, tu continuas nessa tua obsessiva mania de criticar, criticar e criticar... A de só com a vida e os erros dos outros se importar. Depois, vamos ver, poluída e inoperante mente, qual de nós dois conseguirá o mundo encantar e melhorar!

No entanto, peço não ficar pasmo e confuso com o que agora te confesso, pois minha proposta, parece ser uma contradição, mas almeja tão somente a paz e a conciliação.

Tu e tua arte são para todos nós um bem especial, necessário e fundamental! Vocês, munidos de argumentos arguciosos, são brilhantes no que fazem e nos induzem a crescer. Mas isso só é possível e real quando, criticando, fazem com argumentos inteligentes, respeitosos e criativos, dignos de um verdadeiro artista, culto e colaborador.

Nesse ressurgir das cinzas, longe dos escudos do anonimato e da pobreza de espírito, vejo-te não só poeta, mas um ser de caráter, inteligente, essencial e participador!

Saibamos, pois, parceiro das artes, lidar muito bem com essas nossas poderosas ferramentas. Os verbos Criar e Criticar, se aplicados em favor de um crescimento artístico inteligente, poderão gerar, nas nossas mentes fecundas, substantivos nobres e poderosos chamados conscientização e evolução.

Finalmente deixo para ti, com muita humildade, a seguinte sugestão: sejamos eternamente fiéis e persistentes na prática dessas nossas ações... Eu criando e tu criticando, porém com ética, munidos de idéias de crescimento e, acima de tudo, aprovisionados de independência e sabedoria... Sempre!

Agradecida, e fortalecida, em meio a essa cumplicidade, a arte evolutiva não será tão somente de “nosotros”, criadores e críticos. Será minha, será tua e principalmente do leitor, esse ser especial, que precisa, aprecia e cresce sob a deferência daqueles que, disseminando a boa cultura, dão, com respeito e dignidade, o melhor que têm de si!

(a pedido do autor)


5 comentários:

Maurício Tavares disse...

Roberto Jamacaru
Não o conheço mas pelo nome provavelmente você deve ser irmão de Abidoral e Pachely. Seus irmão são muito simpáticos e talentosos. Não sei o que você cria portanto embora seja um dos fazem uso da crítica no blog não me sinto diretamente atingido pelo seu texto. Mas percebo em você a mesma cantinela dos que não gostam de crítica ("quer aparecer", "quer ser o maioral"). Acho esses argumentos um tanto simplórios. Parece que os "criadores" não querem aparecer mas como você diz só encantar o mundo (uma pretensão pequena, diga-se de passagem). Mas vou humildemente (já que não sou um "divino" criador) tentar expor pra que serve a crítica. No meu caso ela tem como objetivo melhorar o texto dos outros (afinal de contas li muito e estudei bastante para isso). No seu texto, por exemplo, você comete um grave pecado de não "criar " uma musicalidade pessoal agradável. Uma eufonia. A rima exagerada no interior do texto: " numa rede a balançar...não consegue outra coisa pensar...a não ser criticar..." Não é agradável aos ouvidos e também não é um primor de estilo literário. Recomendo que você leia alguns bons textos que criticam a crítica."A crítica que não se meta com a poesia ...") é uma frase lapidar, você não concorda?
Não seria também interessante uma análise sobre o ego desmedido de quem tenta produzir arte? Fica uma sugestão para um próximo texto
Um abraço carinhoso de quem tenta colaborar e não é entendido. "Ele já não gosta mais de mim, que pena!"

Maurício Tavares disse...

"seja um dos QUE fazem uso"

Roberto Jamacaru disse...

Caro Maurício

Antes de tudo meu abraço e obrigado por conversar comigo. Prazer enorme!
Arte poética à parte, que não foi a propósito do texto, estou feliz porque, que no seu caso, que usou de argumentos abertos (não anônimos), portanto inteligentes e e participativos, vejo que dá para entender que é disso que precisamos, justo o que abordo no final do que escvrevi.
Beleza... Li - atencioso - tudo que você escreveu. Isto porque, Maurício, a crítica sugestiva retrata o nível de quem a faz e nos induz à substancialidade do crescimento.Meu asco é claro: refere-se aos fazem a crítica pelo mero prazer de criticar, o que, no seu texto, embora incisivos em alguns pontos, não deixou denotar tal atitude.
Adoro argumentos frontais como o seu, mas tenho repúdio à covardia do anonimato.
Cara, de coração, estou feliz! Vejo que, no cerne da questão, foi exatamente isso que objetivei no argumento. Seu talento crítico transpareceu participativo no bailar de suas idéias e isso foi soma.
Obrigado e creia-me amigo!

Roberto Jamacaru

Maurício Tavares disse...

Roberto
Se todos agisem assim como você o diálogo seria muito mais proveitoso. Sem mestres e sem discípulos como dizia Nietzsche.
abraços.

Dihelson Mendonça disse...

Meu prezado Amigo Roberto jamacaru,

Receba meus cumprimentos por tão inteligente artigo, que gostria de publicá-lo no Blog do Crato, tamanha a minha felicidade em lê-lo.

Não tenho muito a acrescentar. Apenas que como sou dos que também cria algo, todos estamos sujeitos a críticas, algumas positivas, ainda que contrárias, outras negativas, ainda que elogiosas.

Embora na história da Arte não haja nenhuma estátua erigida a nenhum crítico, considero-os de qualquer forma, pelo menos um balizador, quando alguns conseguem dar palpites para que possamos melhorar aquilo que já construímos. Esse deveria ser em primeira instância, o papel benéfico do crítico. Ajudar o Artista a se aperfeiçoar.

Olha, como vc já sabe, muitas vezes, é das piores bocas que recebemos as melhores lições para o nosso aperfeiçoamento, e das melhores bocas, os elogios vergonhosos que só nos fazem estagnar.

Por isso, como diz o Millôr Fernandes, é preferível a crítica ao Elogio, porque o elogio, você não sabe se é sincero. A crítica, você tem certeza!

Abraços,

Dihelson Mendonça