TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sonhos sonhados - Por Claude Bloc


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Embaraçante aquela umidade em seu rosto. Levantou-se. Desligou o computador. Apagou a luz e pôs-se a relembrar o momento aflitivo por que passara. Deitada, manteve-se em silêncio absoluto. Pensava apenas. Mas não conseguia sonhar. Mantinha um duelo íntimo com essas lembranças que incomodavam.... Chorava? Sentia-se boba, insegura.
A morna sensação de tristeza ia se dispersando na madrugada. Pequenas coisas, pequenos céus pareciam perambular pela sua memória. Palavras. Muitas delas. Todas povoando os vazios de sua alma. Onde encontraria as respostas que buscava?
Cruzou as pernas tentando dissipar o desconforto e a tensão Na escuridão, miríades de estrelinhas imaginárias circulavam pelo seu quarto... Pensava no mar, na maresia., os tais caminhos já percorridos. O mar varrendo o passado e o repetido prazer de encontrar nele um sorriso que nunca vira.
Escutava os sons da noite. Remexia-se impaciente na cama. O sono não chegava! Pensamentos esvoaçantes iam e vinham... Mas... estava ali deitada, estranha, sem reação, sem vontades nem desejos. Olhava para o teto, para as paredes negras da noite. Sentia um par de olhos seguindo seus movimentos... O mesmo que incognitamente vasculhava sua vida através da telinha e a acompanhava noite após noite, madrugada a dentro. Suspirou longa e pausadamente... Lembrou-se novamente de seu discurso sentido e triste. Queria passar incólume por tudo isso, não como uma presa, mas por entre admiração e respeito.
Passou os dedos por entre os cabelos em desalinho e fechou os olhos desalentada. Tentava não pensar, mas tudo lhe vinha aos borbotões. Tudo lhe soava como um instigante mistério. Queria saber, sentir a verdade. Por que lhe sonegavam a verdade?
Enrodilhou-se procurou abrigo no interior do novelo que lhe enchia o peito. Sentiu que a saudade não morava longe. Habitava ali mesmo na sua solidão.
Não lhe vinham respostas. Somente as estrelas bebiam-lhe as lágrimas dos sonhos sonhados.

Texto e imagem de Claude Bloc

4 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Claude narra, tateia o mundo dos sentimentos, se põe na condição de sujeito de uma oração cujo predicado tanto lhe é reflexivo como paradoxalmente autônomo, independente do sujeito. Eis uma razão pelas quais a coletividade é antes de tudo a defesa intransigente de cada segundo as suas grandes separações ou idiossincrasias. Para todos nós a defesa do livre manifestar em junção com a consideração pela diversidade. Uma boa norma para isso é a queda irrevogável do preconceito de qualquer natureza. E por isso defendo aqui e agora a presença das mulheres no Cariricult.

Este texto da Claude, em seu valor literário próprio, é tipicamente um texto de gênero. É reconhecível como feminino. E destes textos temos escassez aqui: da Socorro Moreira, da Marta; da Glória e não tem muito a acrescentar, basta olhar a lista de colaboradores do blog.

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Prezada Claude

Desejo expressar o quanto gostei do seu texto. Você expôs seus sentimentos de forma tão forte, que nos fez participantes deles.
Abraços

Claude Bloc disse...

Antes de tudo, o meu agredecimento aos meus dois grandes amigos pelas palavras e pela sabedoria em saber acolher, comentar e semear o conhecimento maior ao expor seu pensamento...
Abraço sincero aos dois. Um também para Magali esta amiga sempre presente mesmo quando não aparece.

Claude

socorro moreira disse...

Claude,

-A moça que sonha com beleza e maturidade !