TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Não somos um estoque de tempo, mas os capitalistas assim entendem

Por José do Vale Pinheiro
O público e o privado formam esquinas perigosas do capitalismo moderno. Baseado na exploração econômica de um ser humano pelo outro, o capitalismo já é em si um dicotomia em conflito: o capital (acumulado e manipulado por terceiros) e o trabalho (a única forma dos demais obterem renda).

Sobre a base há, no capitalismo, uma dinâmica muito simples: o capital aciona a produção (no atual modelo financista a moeda é o próprio produto), distribui a mesma e é remunerado no consumo. Acontece que o consumo para remunerar o capital implica em que os consumidores possuam renda (ou moeda para comprar a mercadoria). Os consumidores conseguem isso vendendo o seu tempo.

O mecanismo básico da acumulação do capital e de sua remuneração é o mesmo: o consumo do tempo das pessoas. Por isso mesmo é que “time is Money”, que a remuneração do tempo é diferenciada entre as pessoas e que do ponto de vista psicológico e filosófico o modelo capitalista de percepção de vida das pessoas é de um estoque de tempo se esgotando.

Literalmente o capitalismo consome o tempo das pessoas de um modo duplamente contraditório: em relação a cada indivíduo ele é estoque não renovável e do ponto de vista social (ou público) o nascimento de pessoas renova o estoque. Então, retornando ao princípio do texto: no capitalismo moderno existe uma esquina perigosa formado pelo público e o privado.

Se observarmos esta esquina perigosa vemos claramente que existem muitas possibilidades de uma nova arquitetura das estruturas simples do capitalismo. Uma delas se encontra na consciência de cada um: cada pessoa se vendo como o privado e o público simultaneamente. Ao tomar-se desta unidade, tornar a produção, distribuição e consome das necessidades essenciais o que são e não o único modo que o capitalismo permite se viver: consumindo tempo.

Em seus fundamentos (no sentido ontológico) a vida é construção de tempo e não o seu consumo. Apenas o capitalismo inverteu esta fórmula em face da maioria, pois a classe econômica capitalista que se tornou por isso mesmo uma classe social (com mecanismos de reprodução hereditários) mantém a natureza de fazer tempo e não de consumir tempo. Este modo de viver construindo tempo já é uma prova que a todos é possível assim viver.

E por falar nesta questão: o petróleo da camada de Pré-Sal na costa brasileira é uma boa oportunidade para observarmos não a síntese, mas a luta das esquinas entre o Público e o Privado. Os governadores do Rio e Santa Catarina gritam por mais recursos, o de São Paulo se cala. O sistema Globo de comunicação grita contra o público.

A síntese possível é a superação do público e do privado, com revolução social e política e o estabelecimento de uma nova forma de organização da civilização feita pela construção do tempo.

8 comentários:

Unknown disse...

E ainda querem entregar o petróleo. E o mais absurdo, tem assalariado defendendo o capital estrangeiro.
Que pena, que lástima.

Carlos Rafael Dias disse...

Ao longo de quase 44 anos de vida (muito tempo, ganho ou perdido, dependendo do ponto de vista ideológico), não tive a oportunidade nem a honra de conhecer um verdadeiro comunista autoconfesso (no sentido estrito e lato da palavra).

Talvez, quem mais se aproximou do conceito (ou rótulo) tenha sido Jefferson da Franca Alencar, que passou os últimos dos seus longos anos de vida (87 anos), recluso no Sítio Fundão, preservando uma réstia de floresta nativa que sobrou após quarocentos anos de colonialismo capitalista e dizimador. (Seu Jefferson faleceu em 1986).

Lembro também de Cícero Amizade, um operário da Usina de Algodão de Antonio Alves que investia o pouco que "a mais valia" lhe permitia em projetos esportivos. Ele era, ao mesmo tempo, treinador e patrocinador de um time de futsal infantil e realizava torneios que envolviam vários times e uma grande fatia de crianças carentes que, por conta, não enveredaram no mundo das drogas e de outros perigos.

Também, poderia citar Luiz Carlos Salatiel, que usava grande parte do seu salário de bancário para financiar os movimentos culturais do Crato (e foram muitos). Salatiel era um capitalista na aquisição de recursos e um socialista no seu investimento.

Poderia citar outros e tantos outros (e são muitos). Mas, infelizmente, não poderei citar nenhum desses que hoje se arvoram em ser comunistas e defendem o morimbundo regime a troco de não-sei-lá-o-quê...

Falar é fácil, difícil é fazer...

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Carlos,

Pelo que sei da nossa convivência não me tenhas por falar fácil. Aliás esta é a mais fácil das críticas aos socialistas, especialmente aqueles que militaram em movimentos revolucionários. Mais fácil talvez pela inconsciência da pós-ditadura, quando certas conquistas já não são risco. De qualquer forma quanto ao sistema capitalista não tenha muitas dúvidas de que críticas lhes cabem. E como sistema hegemônico mais ainda é a crítica uma necessidade histórica. Além do mais é preciso que toquemos em teorias sobre o capitalismo e até mesmo em teorias revolucionárias pois de outra forma cairemos nas facilidades da crítica a quem ousa pensar. E se critica o ousado, mas não a teoria. Aliás se critica a teoria por uma forma extremamente pessimista e conservadora: não existe solução fora do capitalismo. O teu relato, me desculpe, se tornou mais raso do que és, confundiu a charitas cristã com a teoria revolucionária do capitalismo. Se ainda tenho algo para conversar contigo, creia-me temos de discutir este sistema até pelo qual se encontra me crise.

Unknown disse...

Sugestão de leitura então:

- MARX, KArl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã.
- MARX, Karl. A Miséria da Filsofia.
- GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História.
- LÊNIN, V. I. As tres fontes e as tres partes constitutivas do marxismo.
- MÉSZÁROS, István. O desafio e o fardo do tempo histórico.
Fora o Manifesto do Partido Comunista e outros.

Ser comunista é uma opção política consciente. Estão "confundindo" com o clichê de "ser proletário". Ou com os outros clichês que comunistas usam só sandálias, não podem consumir. Todos sabemos que não é assim e que não se pode confundir posicionamento político e visão de mundo, a comunista, com outras posições (também justas e legítimas).
Numa coisa concordo com o colega Carlos Rafael e traduzo a frase "falar é fácil, difícil é fazer" para uma conduta comunista, "a prática é o critério da verdade".

Unknown disse...

"Os filósofos não tem feito mais do que interpretar o mundo de diferentes maneiras, mas o que importa é transformá-lo."

(Teses sobre Feuerbach - A Ideologia Alemã)

Carlos Rafael Dias disse...

Professor Darlan,

Quando escrevi o comentário acima, confesso, não foi para lhe provocar.

Se alguém, neste blogue faz jus ao rótulo (ou qualquer outra coisa equivalente) de comunista, sem nenhuma ironia ou outra figura de linguagem (ou metáfora)- essa pessoa é você.

Admiro sua coerência ideológica. E vi a prova concreta disso quando de sua (breve) passagem pela administração da URCA.

Quando falo de pseudos-comunistas não me refiro aos filiados dos PCs.

Assim como os membros do PSDB são tucanos e os filiados do PSB são chamados hoje de socialistas (incluindo o ex-tucano Ciro Gomes), nada mais justo de que os associados do PC do B sejam, com justiça, identificados como comunistas históricos.

Quando faço alusão aos que "se arvoram em ser comunistas", falo tão somente daqueles que há pouco eram do PDT(pelo fato de que este partido estava no poder carioca, com Brizola e, mais recente, com Garotinho); e depois migraram (como aves de arribação) para o PSDB, quando os tucanos mandavam no governo federal (do hoje ex-conjurado FHC); e agora se mimetizam em petistas-lulistas-anti-capitalistas simplesmente porque o vento sempre sopra para o lado dos oportunistas (ou seja, é só mudar de posição).

Nada mais fácil e cômodo, pois...

Unknown disse...

Eu sei , Carlos Rafael. Apesar de termos estado em lados opostos na URCA, pelas contingências da vida, sempre o respeitei também. E entendo suas posições. E sei também do seu trabalho na CEVE, que foi correto. E o futuro da universidade depende de todos nós.
O que eu comentei foi sobre a visão que confunde o comunista com aquele que deve viver como o proletário mais humilde, o que não é desonra. Apenas é incorreto.
O comunismo é uma filosofia, uma ideologia, que pode através da política, organizar regimes socialistas, objetivando o comunismo ao fim.
O comunista não quer dividir o pão da casa do proletário, ele quer socializar a padaria, rs.

Mesmo com todas as distorções que houve na luta pela implantação do socialismo, assim como há na defesa do cristianismo, os princípios são válidos.

Na minha opinião, quais seriam os princípios do comunismo que tem validade? São esses:
- A política como mediação.
- A ação política consciente por parte do proletariado, a vinculação da teoria à prática. Daí o termo "filosofia da práxis" ao materialismo histórico.
- A organização comunitária, a vida dos comuns.
- A cada um conforme sua necessidade, de cada um conforme sua capacidade.

E outros. Mas não caberia aqui no blog.

Creio serem princípios que devem ser diretrizes para uma ação comunista.
Na prática, devem se traduzir em programas, projetos e ações políticas por parte dos comunistas e seus aliados.


Um abraço.

Unknown disse...

E sobre os comunistas, nem todos estão no PCdoB, e no PCdoB, nem todos são comunistas.

Saudações.