TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Um texto para chamar a atenção dos historiadores. - Luiz Felipe de Alencastro

Esta postagem me foi autorizada pela autor: Professor Luiz Felipe de Alencastro, grande amigo de Violeta e Miguel Arraes. Mora em Paris onde pesquisa e ensina. Ele tem um blog muito interessante chamado Sequências Parisienses (http://sequenciasparisienses.blogspot.com/). Apenas postei o texto dele após me autorizar com muito carinho: Sr. José, Pode publicar, sim, a postagem. fico muito honrado de estar num blog do Crato, terra dos meus queridos e saudosos Miguel e Violeta

O texto que segue abaixo é muito interessante pois revela que haviam estrutura intercontinentais, no bojo do mercantilismo, que organizavam forças militares que juntavam as duas faces (América e África) numa só força militar. Aliás quando se observar a própria formação da bandeiras paulistas, talvez se encontre nelas uma forma de organização deste tipo de força. É um texto para historiades se interessarem pelo tema.

O texto abaixo é extraído de um artigo meu intitulado História Geral das Guerras Sul-Atlânticas: o episódio de Palmares que será publicado em Flávio Gomes (org.), Mocambos de Palmares. História, historiografia e fontes. 7Letras editora/FAPERJ, R.J.,2009.

O tema do artigo é mostrar (de novo) que o Atlântico Sul configurava um só espaço colonial unindo o Brasil à África portuguesa, e principalmente à Angola. Noutra parte do artigo, mostro como Palmares também foi atacado por milicianos reinóis e “brasílicos” (colonos do Brasil que ainda não possuiam o sentimento nacional) que haviam combatido em Angola. E tinham, portanto, a prática das guerras africanas. Aqui me concentro num poema sobre milicianos pobres que reclamam por não ter recebido prebendas após a destruição de Palmares. Nas notas de pé página marquei as diferenças entre esta interpretação e as análises de Luiz Mott e de Clóvis Moura, que também estudaram o poema. Marco, antecipadamente, o aniversário da morte de Zumbi, no dia 20 de novembro.

***
« Um texto de um pé-rapado brasílico reinvidica sua parte de glória na defesa do ultramar. Trata-se de um poema sobre a petição dirigida ao Conselho Ultramarino por um soldado raso que combatera como “praça de pé” (sic) no ataque final a Palmares, em 1694. Pereira da Costa, sempre atento à documentação, publicou o poema em seus Anais Pernambucanos. Mas não indica de onde o extraiu, nem se havia papelada anexa. Composto no esquema de rima abbaaccddc, o poema é uma variante da „décima espinela‟, forma literária do barroco ibérico utilizada, entre outros, por Calderon de la Barca (“La vida es sueño”) e Gregório de Matos (“Define sua cidade”). Na sequência, a décima popularizou-se na América Latina, sendo ainda celebrizada nos dias de hoje pela guajira cubana, a literatura de cordel e os violeiros nordestinos. Neste caso -, como no gênero “dez a quadrão”-, a décima é dialogada, com um violeiro entoando um verso, o outro o verso seguinte, e os dois juntos cantando os dois últimos versos. Assim, a décima dá ao poema o tom de uma queixa picaresca que pode ter sido lida, recitada ou cantada em Pernambuco, dando grande alcance às sentenças dos versos. Zebedeu, nome de origem bíblica tornado folclórico em Pernambuco e noutras partes, “filho de Braz Vitorino” (para rimar com Conselho Ultramarino), não se refere aqui a uma pessoa precisa, mas a um grupo de soldados pobres, preteridos na distribuição de presas e prêmios depois da guerra de Palmares. O apelo ao Conselho Ultramarino -, “justiceiro” e “afamado”-, merece reflexão.

Os versos ilustram o conhecimento amplo, nesta parte do ultramar, de que este foro palatino -, mais que o governador da capitania, o governador-geral e o próprio rei -, apresentava-se como a instância legítima e adequada para a solução definitiva dos contenciosos coloniais. Em seguida, como apontei alhures, evidencia-se a repactuação entre o centro e a periferia mediante a distribuição de cargos e o reescalonamento do mérito dos combates ultramarinos.

Contemporâneo da obra de Gregório de Matos, o poema retrata a situação do praça de pré, recrutado “quase menino” e despachado mal equipado, descalço (talvez venha daí a autoironia da expressão “praça de pé”), para a friagem da Serra da Barriga. “De fome e frio morrendo, descalço de pés no chão”, para ali combater “noite e dia”, onde “se estrepou” (isto é, se feriu no “estrepe”, paus pontiagudos postos em torno de Palmares ou enfiados em buracos dissimulados, os “fojos”). Sem receber nenhuma recompensa em propriedade, em soldo ou em promoção, nem “terras, [nem] dinheiro, [nem] patente”. O verso sobre o “valentão” Félix José pode referir-se à generalidade dos camponeses açorianos vítimas de recrutamento forçado, cuja inexperiência de combate valia-lhes frequemente o apodo de “bisonhos”. Tanto Zebedeu, pobre “bolônio” (bocó), como seus aparceirados, foram em frente, dando batalha feroz aos palmaristas, “vis escravos” a quem “não trataram como gente”, quer dizer, a quem trataram como se fossem bichos. No final das contas, foram os soldados e cabos que se acovardaram que receberam recompensas.

Sem recomendações de seus superiores ou de potentados locais, estes “zebedeus” invocavam a proteção e o testemunho de santo Antônio, de quem traziam o santinho ou a medalha (“junto a mim noite e dia”), e que fora oficialmente declarado patrono e soldado pago das tropas que atacaram Palmares. E no final, o pedido para o que dá o direito de juntar bandoleiros e pilhar índios e quilombolas com a chancela da Coroa. A única saída para quem não tinha nome ou propriedade. O lugar de quem tudo pode no sertão: capitão

Eis o poema em verso quebrado do praça estrepado:
“Ao Conselho Ultramarino
Que tão justiceiro é,
Zebedeu praça de pé
Filho de Braz Vitorino,
Bem moço, quase menino,
Para Palmares marchou,
Pelo que lá se estrepou
Sendo um dos desgraçados,
Que voltaram aleijados
E por fim nada ganhou.

Ali de arcabuz na mão,
Dia e noite combatendo,
De fome e frio morrendo,
Descalço, de pés no chão,
Ao lado do valentão Félix José dos Açôres
Que apenas viu dos horrores,
O painel desenrolar-se
Foi tratando de moscar-se
Com grande sofreguidão.

Do que venho de narrar,
Apesar de ser bolônio,
Pode o padre Santo Antônio
Muito bem corroborar,
O que não é de esperar
Proceda d'outra maneira,
A sua fieira
Sua afeição, valentia,
Pois junto a mim noite e dia
Não desertou da trincheira

Ele viu, bem como eu,
Quando o combate soou
Quando a corneta tocou,
A gente que então correu;
A essa foi que se deu
Como garbosa e valente
Terras,dinheiro, patente
Com grande injustiça e agravos
P'ra aquêles que aos vis escravos
Não trataram como gente.

A vós Conselho afamado
Que a justiça só visais,
Para que não amparais
O pobre do aleijado?
Que no mundo abandonado
Sem ter quem lhe estenda a mão,
Tem por certo a perdição,
Da vida, pois quase morto,
Só poderá ter confôrto,
Se o fizerdes - capitão.”

Quer tenham sido mercenários dos fazendeiros na América, quer fossem milicianos agregados às tropas regulares em Angola, tais combatentes – capitães, cabos e “zebedeus” -, faziam valer seus talentos de bugreiros e de capitães do mato nos dois lados do mar.

Para além dos documentos, e na ausência de outros textos como o poema acima, é preciso considerar a troca de experiências facultada pelo convívio destas tropas tricontinentais, multiétnicas e de variada condição social, cujo traço comum era o Atlântico Sul, e não o Brasil ou Angola. Torna-se essencial mapear os itinerários para saber quem conversava com quem, num mundo em que muita gente sabedora das coisas não sabia escrever. Nos arranchamentos angolanos e brasileiros, nos tombadilhos dos navios que atravessavam o oceano, nos serões africanos e nas selvas americanas, essas tropas compunham um gênero de novo exército colonial de brancos, negros, índios e mestiços que, “de pés no chão”, pilhava rebeldes e nativos dos dois continentes.

Não há exemplo de tropas deste gênero e com este raio de ação, agindo nos outros teatros da moderna expansão européia.

VENHA VER MEU TEATRO


Com o espetáculo BR 116 foi aberto o programa Venha Ver o Meu Teatro, organizado pela Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte. O evento se estende até o mês de março de 2010, no Teatro Marquise Branca, e servirá para o público acompanhar o que Juazeiro tem de melhor nas artes cênicas. Em cartaz até o dia 05 de dezembro, BR 116 é um espetáculo encenado pelo grupo Alysson Amâncio Companhia de Dança. A peça traz fatos, lendas, sonhos e tragédias que acontecem na maior rodovia do país, mas usa a estrada como uma espécie de metáfora com nossos medos, obstáculos e desejos. As encenações acontecem sempre nas quintas, sextas e sábados, às 20 horas, com entrada gratuita. Até março do próximo ano, oito espetáculos serão apresentados.

CONFERÊNCIA DE CULTURA

Está confirmada para amanhã, 1º de dezembro, a realização da Conferência Regional de Cultura. O evento acontece na unidade SESC de Juazeiro do Norte, a partir das 8 horas da manhã e vai reunir representantes da cultura popular de vários municípios da região do Cariri e Centro-sul. Após discussão dos vários temas e ouvidas as sugestões, a plenária vai eleger representantes que participarão da conferência estadual, a ser realizada em Fortaleza. A conferência regional faz parte das articulações e discussões referentes à Conferência Nacional de Cultura, que será realizada em Brasília

domingo, 29 de novembro de 2009

O INVENTÁRIO DAS PALAVRAS...Wilson Bernardo!

BOCA DE SAPO...LAGOAS!
O sapo engole a brasa
pela intensidade da luz.
Noite clara de lua cheia
o sapo morre engasgado.
Wilson Bernardo(Poema & Fotografia)

Provocação















pelo buraco que há do lado de cá

-- ser brasileiro?
ser brasileiro
é uma dor de se caminhar
sobre vidros que mais parecem folhas
mas são vidros finos para o corte
sob um céu todo crivado de desgosto
e sobre a língua um amargo sabor
lágrima de meu peito que se desgasta

há um sorriso (sim!) que arrebenta aqui
no acre no piauí em qualquer parte
em que a fome aparta os corpos
com pancadas firmes no estômago
e os corpos espatifam-se em fumaça fria
e dissolvem-se na água morta
meu rosto que se crispa
cansado de palavras

ser brasileiro assim (antônio) é uma dor
além dos jornais além dos palcos
além da lente sobre romário
além da luz que cerca tua voz
por onde versos de pessoa
passam e enfeitiçam
muito além das cores
o dia quase morto
é ter a mão cortada o chão da favela
marcas de látegos e o nome
escrito nos muros do medo

-- medo dança efígie no meu olho
atrás da porta
o filho que sorri no escuro
plantado nas calçadas
um brasil (sim!) tão alto muro

brasil fincado nas margens do brasil
centro do silêncio do nada
do choro que não será ouvido
e ao olvido será relegado

-- ser brasileiro assim (antônio) é uma dor
que vem de dentro da palavra

ausência


200?

Poema e foto: Chagas.

ARTE POSTAL


sábado, 28 de novembro de 2009

A filosofia de cada um de nós.

Antonio Gramsci, um filósofo da práxis.

Publicado originalmente em meu blog pessoal, "História e seus afins..." (em 27/11/2009)


Para Antônio Gramsci, todos os seres humanos são "filósofos". Como militante da filosofia da práxis (marxismo), ele entendia que as pessoas tem sua concepção de mundo, ainda que não consciente, ainda que acrítica, e essa concepção é expressa na linguagem. O que difere em cada ser humano é como ele atua nesse mundo. Então, não somos "filósofos" no sentido estrito da palavra. E nem estou desmerecendo os profissionais da filosofia, professores que dão aula dessa disciplina. Apenas estou referenciando o uso da palavra "filósofo".


Os trabalhadores "braçais" também são filósofos!

Se todos somos "filósofos" porque algumas concepções são coerentes, integradas, críticas e levam à mobilização enquanto outras causam o "estranhamento", a submissão e a alienação?
Para Gramsci, a consciência dos humanos, abandonada à própria espontaneidade, sem ser crítica de si mesma, vive sob influências ideológicas diferentes, elementos díspares, que se acumularam através de estratificações sociais e culturais diversas. Ou seja, a consciência dos humanos é resultado das relações sociais, sendo ela mesmo, uma relação social.

"Filosofia é a concepção do mundo que representa a vida intelectual e moral (catarse de uma vida prática) de todo um grupo social, concebido em movimento e considerado, consequentemente, não apenas em seus interesses atuais e imediatos, mas também nos futuros e mediatos; ideologia é toda concepção particular dos grupos internos da classe, que se propõem ajudar a resolver problemas imediatos e restritos. Mas, para as grandes massas da população governada e dirigida, a filosofia ou religião do grupo dirigente e dos seus intelectuais, apresenta-se sempre como fanatismo e superstição, como motivo ideológico próprio de uma massa servil. E o grupo dirigente não se propõe por acaso, perpetuar esse estado de coisas?" ¹

E olha que Gramsci faleceu há bastante tempo e nem soube do fenômeno religioso do Padre Cícero e das romarias no interior do Nordeste brasileiro...

Romeiros que visitam a estátua de Padre Cícero - Juazeiro do Norte -CE

Mas para Gramsci, apesar de haver um domínio das ideologias dominantes sobre as classes subalternas, isso não ocorre de forma mecânica e integral, apesar do exercício de hegemonia. Há resistência e há também uma reformulação dessa ideologia e filosofia. A verdade é que as necessidades efetivas, as reivindicações, inclusive as relativamente espontâneas, provocam um impulso para as lutas, reivindicações e movimentos. E quando as classes subalternas tem um comportamento que entra em contradição com a concepção de mundo na qual foram educadas, ou adestradas, a gritaria de quem domina é logo ouvida. Pedem logo a "paz" e a "segurança". A "paz" que geralmente pedem é a paz da hegemonia, do domínio de classe e a "segurança" quer dizer, "povo, ralé, fiquem no seu lugar!".

Brasileiros indo para o trabalho de Metrô.

Também pudera. Se olhamos para o quadro de miséria que ainda existe no Brasil e pensarmos que os mais pobres estão condenados eternamente a esse mesmo quadro, cairíamos em um determinismo ou fatalismo chocante. Mas a filosofia da práxis não tem nada de fatalista ou determinista. Mesmo assim, a maior parte dos trabalhadores leva uma vida difícil, só um exemplo, o do transporte coletivo, dá bem a imagem que retrata essa situação. Nas grandes cidades, ônibus, vans, trens lotados. No "Brasil profundo", ainda transitam os "paus-de-arara", mas isso sempre para os trabalhadores, nunca para as classes dominantes, nunca para nossa "elite branca".

E Gramsci deixa-nos uma questão: Onde está a "filosofia real"? Para ele, a filosofia real do indivíduo e da coletividade deve ser buscada no agir. A filosofia de uma pessoa está na política dessa pessoa. Enquanto existir contradição entre a ação e a concepção de mundo que a guia, a ação não poderá ser consciente, será sempre fragmentada. Ou seja, ações extremadas, espamódicas, estagnação, rebeliões desesperadas. Depois, passividade, extremismo ou oportunismo. Desse entendimento, Gramsci como adepto da filosofia da práxis aponta que a a ação consciente exige ser guiada por uma concepção de mundo, por uma visão unitária e crítica dos processos sociais. Aos trabalhadores cabe formular essa concepção. Assim sugeriram Karl Marx e Friedrich Engels ao gritarem no Manifesto: "Proletários de todos os países, uni-vos". Ainda estamos bem longe disso, mas, as classes dominantes ainda dormem intranquilas, sonhando com sua "paz e segurança" que a cada dia ficam mais distantes.


¹ GRAMSCI, Antonio. Concepção Dialética da História. 9ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p. 226-227.





A VERGONHA DA CENSURA É BEM MAIOR POIS SANTIFICA A HIPOCRISIA...MOSTRA SESC UMA LATA DE CONSERVAS.

MINHA SINCERA HOMENAGEM AOS QUE ME CENSURARAM,POIS AQUI NÃO PERNOITAM já levantaram voo com seus bolsos recheados de GRANA fácil a farta dos enlatados,curadores embebecidos em orgias de poderes exclusos,o que tudo pode nos bastidores de uma mostra de comadres,barganhados no interresse pessoal de furtarem a cultura local e famigeral a nossa arte,e não somos provincianos,escutar o improvável e o inesperado se faz necessário que me fechem as portas pois minha poesia é bem mais forte e recheada de becos, cabarés e guetos muito mais honestos do que esses importadores de orgias regados a ervas de santa madre manipulação.CENSURAR A POESIA é muito mais vergonhoso do que as palavras proferidas no transe da poética e viva sim o absurdo seus comedores de ervas defectiveis seres.

IMORAL É O POETA QUE ESCREVE RUIM.
ESSE É PORNOGRÁFICO ATÉ DORMINDO...
José alcides pinto
Wilson Bernardo(Texto & Fotografia)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Oficialmente velho



Leonardo Boff


Neste mês de dezembro completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo damorte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas éuma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensãobiológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nosdebilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamentede todas as coisas. De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe,impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente àslágrimas,
Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapado crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamosprontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir aexistência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar onosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamosnascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Entãoentramos no silêncio. E morremos.
A velhice é a última chance que a vida nos oferece paraacabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Nestecontexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: "na medida em quedefinha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenesce o homeminterior"(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Queé o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de sere de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical.Esta identidade devemos encará-la face a face.
Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vidanos impõe. Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis.Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo,filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator dealgumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano,submetido ao "silêncio obsequioso" e outros papéis mais. Mas há ummomento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Entãodeixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal, quemsou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios meatormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida emque tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem àlume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se paradentro do Inefável.
Este é o desafio para a etapa da velhice. Então nos damos conta deque precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavraessencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porquesimplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgarnovos horizontes e criar sentidos de vida. Especialmente para tentarfazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhosque nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com osfracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com avelhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como aetapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.
Por fim, importa preparar o grande Encontro. A vida não éestruturada para terminar na morte, mas para se transfigurar através damorte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidadee encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Aísaberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento:"contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para aeternidade".
Por fim, alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiroé escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e osegundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua epoetisa:"eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver". Mascomo isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus.Parafraseando Camões, completo: mais vivera se não fora, para tão longoideal, tão curta a vida.

Varal

Fundo de quintal. Uma corda estendia-se diagonalmente entre um galho de jaqueira e um ramo de figueira. Como que delimitava uma fronteira imponderável entre o pomar e o resto do mundo. Do fundo, a goela da manhã soprava um vento alísio que vibrava as folhas das árvores , arrancando do verde uma música lânguida e reconfortante. A um lado, logo abaixo da figueira, mal se entrevia uma mulherzinha atarracada, defronte a um tanque de alvenaria. Pano envolvendo a cabeça, vestido longo, desfalecendo o tecido solto até os pés, parecia uma afegã se dirigindo à mesquita. Uns braços roliços saltavam das mangas e, ritmicamente, iam batendo contra a laje do tanque, untadas de água e sabão, uma montanha de roupas. Elas se ajuntavam dentro de uma bacia posta por cima de um tamborete, ao pé da árvore. Lavadas, as peças iam sendo paulatinamente colocadas no varadouro, presas a pegadores, ao doce sabor adocicado do vento. Aos poucos, o sopro cálido , espargindo as roupas úmidas , como bandeiras desfraldadas, lhes roubava a umidade. Abaixo do varal estendiam-se vários buraquinhos, quase que milimetricamente esculpidos pelas gotas que escorriam das malhas de tecido.
À medida que as roupas se iam enxugando, alguns resquícios de manchas se tornavam mais visíveis em meio ao encardido das vestes. Como se o varadouro fosse um mastro e cada peça uma bandeira a expor simbolicamente histórias de batalhas pretéritas e seus espólios de guerra. A cueca do adolescente tentava esconder a mácula próximo a braguilha, resultado do míssil lançado, a contra gosto , na polução da noite anterior. A fraldinha do bebê , por outro lado, não estava nem aí para nódoa amarronzada que lhe marcava o centro do quadrilátero, como se calculada geometricamente por prumo de pedreiro. A calçola rósea da mocinha avermelhava-se ainda mais, tentando esconder a marca rubra da primeira menstruação. A colcha de cama tomava egoisticamente grande espaço do varal e fora virada com o lado avesso para o mundo, quem sabe assim não se ocultavam melhor os claros sinais da batalha de Eros travada por um casal na noite anterior ? No meio delas, uma mancha oleosa escura fazia um contraponto esquisito com as outras mais esbranquiçadas. A calça comprida parecia olhar com empáfia para os outros trajes pendurados na corda, entendia-se claramente ser do dono da casa, até porque mostrava como vestígios o respingado da tinta, um pouco esmaecida de um pintor de paredes. A Samba-Canção do vovô , com as desvanecidas manchas amareladas da incontinência, olhava algo sorridente para a fralda, presa do outro lado da corda, percebia claramente que as extremidades se tocam. O vestido de cambraia da dona de casa estampava manchas indeléveis, já aparentemente imunes à lavagem , típicos resquícios da cotidiana batalha doméstica.
De repente, a repetitiva e costumeira paisagem pareceu estilhaçar-se. Os galhos entrelaçados da figueira e da jaqueira fremiram como se assumissem o testemunho ocular de um crime perpetrado. Um macacão jeans, rapidamente esfregado pelas mãos da mulher, foi colocado, disfarçadamente, no varal. Mal ocultava marcas de óleo escuro que resistiam ao enxágüe. A colcha o observou com um ar de indisfarçável familiaridade. Um lufada de vento mais forte fez com que suas pernas enroscassem languidamente o vestido de cambraia, sob o visível olhar de reprovação de todo o varal. Abaixo, na terra úmida , os fluidos escorridos se mesclavam em homogeneidade, sem preconceitos. Corriam líquidos , como afluentes de um rio maior chamado vida. Unidos na fluidez , já era impossível definir sua origem. Apenas uma nódoa oleosa destoava , sobressaindo-se heterogeneamente no fluxo, dificultando a respiração dos peixes e a conciliação dos elementos a caminho da foz.

J. Flávio Vieira

recife é tão longe

(P/ Orlando Rafael)

porque hoje é sexta
e recife é uma cidade muito longe
pulsando neste que jamais
viu suas ruas
suas pontes
mas nem por isso lhe falta
uma saudade que vem
na voz de um cantador

recife é tão longe!...

se lhe mandasse um sorriso
o último de uma alegria cearense
ilusão de são paulo
para que fosse uma lembrança
de quem nunca esteve
e na ausência
se faz presente
pela voz de um cantador

recife é tão longe!...

o barulho do mar
a cidade entre as cordas do violão
crescendo no canto
suas imagens por trás das notas
esse lamento essa faca cortando
a alma de quem
jamais esteve
na cidade que vem
da voz de um cantador

recife é tão longe!...

de tão longe não se perde na distância
assoma-se das paredes do teto amarelo
toda a sua presença etérea e pesada
salta sobre esse instante
que para sempre ficará
pela voz de um cantador

recife é tão longe!...

Os cegos e a geopolítica da América Latrina



Falar sobre o estado crítico em que se encontra a cultura do Brasil, do Nordeste e mais especificamente do Cariri tem se tornado necessário já que a visão sobre isso não é nem de longe vislumbrada pelos nossos jornalistas da mídia maior (seja televisiva ou escrita). A respeito desta última, perdemos no Brasil nos últimos anos a qualidade da erudição dos nossos escrevinhadores de notícias, que ia de um Nelson Rodrigues a um José Guilherme Merquior.

Se alguma cabeça pensante quiser perceber o fosso que separa a geração desses escritores/jornalistas basta consultar seus livros, onde alguns deles são compostos das matérias que os mesmos escreviam, para a qualidade da escrita que hoje vemos em nossos jornais, assim como o grau de completo desconhecimento sobre o que passa na cultura ocidental, pondo assim gigantescas viseiras em nossos “(de) formadores de opinião”. Não podemos dizer que “ignorar” seja o verbo perfeito para classificá-los, pois assim seríamos displicentes com outros como “disfarçar”, “enganar” ou “cegar”. Todos eles encaixam-se perfeitamente para noventa e nove por cento da mídia nacional aonde alguns chegaram a denominá-la de PIG (Partido da Imprensa Golpista).

Torna-se curioso tais observações, pois a mídia que é acusada de ser golpista é aquela que aparentemente sucumbe às tentações “do capital”, que supostamente vai de encontro às mudanças que atualmente ocorrem no Brasil, e/ou, no continente sul americano. A visão de uma impressa ineficiente de fato existe, porém, enxergar a grandiosidade do processo exigiria aos militantes de esquerda honestidade e percepção (quem achar um militante de esquerda com tais características não me mostre, pois será um oximoro). Numa perspectiva mais estadual podemos dizer que não sabemos de nada da geopolítica mundial e muito menos do importante processo de crescimento das esquerdas (seja por golpe de estado, ou por um aparente processo democrático de eleição) no continente latino americano iniciado desde os anos 60. Através da estratégia política traçada pelo italiano Antonio Gramsci, ideólogo que a maioria do povo brasileiro desconhece, e que a elite Cult que o conhece nega tal fenômeno, o povo brasileiro foi e é diariamente catequizado por uma doutrina socialista em que consiste primeiro ocupar a cena cultural, para que somente depois, caso a ala revolucionária esteja devidamente preparada possa acontecer à tomada do poder.

Ao ler as linhas acima o leitor pode imaginar que isso só pode ser fruto de uma mente muito fértil, ou do presente texto ter sido elaborado por algum partido de “direita” (como se houvesse algum partido de direita hoje no Brasil). Para não confundi-lo, demonstro com algumas poucas provas (e que se o leitor desconfiar poderá estudar alguns livros e verificar em outros sites) a extensão do processo. Como disse, o intuito de tomar o poder lentamente, ocupando primeiramente todos os espaços possíveis como jornais, (que ajuda a difundir para a grande massa a idéia esquerdista que a política socialista seria uma coisa benéfica, que o capital estrangeiro é culpado pela atual situação social do país, e que a imagem do capitalismo é de um conjunto de países que exploram outros países pobres) escolas, onde boa parte das disciplinas de história e geografia não só distorcem fatos como falsificam provas e difundem através de um extenso mercado editorial (que vai das primeiras séries até a universidade). Para conferir essa doutrinação observe no número de denúncias que o site http://www.escolasempartido.org/ tem conseguido organizar através de um trabalho notável totalmente desconhecido pela maioria dos pais. Aí estão denúncias de fraudes de conteúdos históricos nas mais diversas séries em escolas particulares públicas. Para que o leitor não fique assustado, é bom saber que o mercado editorial que produz a “elite” da intelligentsia é contaminado pelas mesmas fraudes de conteúdo histórico, cortes de obras importantes que rebateram os absurdos do socialismo desde co começo do século XX e que são omitidas criminosamente nas faculdades, dando aos alunos uma visão totalmente falha do processo, os induzindo de forma criminosa a adoção de ideologias que eles mesmos desconhecem. A editora Boi Tempo ( http://www.boitempo.com/ ) é uma das tantas que ignora totalmente gênios da economia que rebateram cabalmente o socialismo em todas as suas possibilidades como os economistas da escola austríaca, que vergonhosamente são publicadas no Brasil de modo improvisado por algumas poucas edições, ou agora pelo trabalho notável do jovem Rafael Hotz, estudante que traduz as obras do inglês para o português e as publica em seu blog http://enxurrada.blogspot.com/ .No blog (e não em nossas faculdades) encontramos obras traduzidas de Von Mises, Hayek, Rothbard, Charles Jhonson, entre outros, só para citar alguns dos maiores economistas do mundo que a mentalidade brasileira ignora quase que por completo.
Se o leitor até agora não leu nenhuma obra acima e nem nunca ouviu falar na figura do senhor Antonio Gramsci, infelizmente ignora do quanto foi catequizado, não só você através dos jornais, mas seu filho em sua escola, ou nas compras de sua esposa. Afinal, saber que produtos falsos vindos da China (comunista) como bolas Adidas, brinquedos de pelúcia, carvão, cimento, produtos elétricos entre tantos outros, são fabricados através da exploração de trabalhadores em regime de escravidão não é fácil de ser percebido. Como adivinhar o que se passa no outro lado do mundo? Certamente não é através da globo, da recordo ou tampouco no diário do nordeste ou no jornal o povo. O leitor que quiser tais informações terá que fazer um notável esforço que consiste em pesquisa e montagem de um extenso quebra cabeça que é gramscianamente escondido. Para dar uma colher de chá fica abaixo uma pequena lista de sites que poderá conferir as barbaridades do PT, sua relação com as FARC, MIR, os crimes do comunismo, fuzilamentos, corrupção e toda sorte de crimes que jamais você saberia se esperasse pela competência de quem comumente você pode ler: http://www.heitordepaola.com/index.asp, http://www.averdadesufocada.com/, http://alkimistasdobrasil.blogspot.com/ , http://www.cubaarchive.org/home/index.php , http://cubaarchive.org/home/index.php, http://www.armandoribas.com.ar/ , http://www.austriaco.blogspot.com/, http://movimentoordemvigilia.blogspot.com/ , http://www.nivaldocordeiro.net/, http://www.ordemlivre.org/files/hayek-ocaminhodaservidao.pdf .

Estar no Cariri e ignorar toda essa articulação socialista que atualmente se passa na América Latina é quase que uma regra. Prolongar-se através do tema exigiria espaço que não daria para relatar nem mesmo através de um livro. No mais espero ter contribuído para um debate que está em águas profundas sufocadas não pela mão invisível de Adam Smith, mas pela mão discreta do senhor Antonio Gramsci.

POP ART...WILSON BERNARDO.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

cartum de MASSOUD Z.ZARDKHASHOEI


Agende-se

Centro Cultural BNB Cariri: Programação Diária




Dia 26/11, quinta-feira

Especiais - Oficina - ARTE RETIRANTE
Local (Caririaçu)
14h Arte Mural. 240min.

Programa de Rádio – Rádio Educadora AM 1020
14 h Compositores do Brasil. 60min.

Música - CURSO DE APRECIAÇÃO DE ARTE
14h O Protesto na Música Popular Brasileira. 180min.

Literatura/Biblioteca - BIBLIOTECA VIRTUAL
18h Recursos Avançados de Utilização da Internet. 180min.

Artes Visuais - SEMINÁRIO AVANÇADO DE ARTE
18h Identidades Culturais na Pós-Modernidade. 180min.

Música - PALCO INSTRUMENTAL
19h30 Pipoquinha. 60min.

Rua São Pedro, 337 - Centro - Juazeiro do Norte
Fone (88) 3512.2855 - Fax (88) 3511.4582

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Luiz Carlos Salatiel encerra Semana de Iniciação Cientifica da URCA



A XII Semana de Iniciação Cientifica da Universidade Regional doCariri – URCA que esse ano tem como tema “Ciência & Sociedade:Caminhos para o Futuro que iniciou na última segunda-feira, dia 23 eserá encerrada com o show muisical “Os Girassóis” do multiartista Luiz Carlos Salatiel, nesta sexta-feira, dia 27, a partir das 20h00, no Salão de Atos do Campus Pimenta.

(foto: Pachelly Jamacaru)

Depois de seu “Contemporâneo”, o compositor e intérprete Luiz Carlos Salatiel nos traz neste novo espetáculo as canções que poderão constar do seu próximo Cd e que também receberá o nome de “Girassóis”, umareferência positiva à flor que sempre está voltada para a luz.

No repertório constam músicas autorais e em parceria com Zé FlávioVieira, Geraldo Urano, Abidoral Jamacaru, Pachelly Jamacaru, Zé NiltonFigueiredo, Cleivan Paiva, Tiago Araripe, dentre outros.

Neste show, a voz expressiva desse grande intérprete da canção caririense receberá o acompanhamento do melhor “time” de músicos da região, ou seja: Ibbertson Nobre: teclados; Lifanco: violão e guitarra; João Neto: contra-baixo; Bonifácio Salvador: sax; Saul: bateria; CíceroTertuliano: percussão.

Surpresas Dolentes

Não, não foste embora nas horas mortas
Do fim de tarde
Não foste, não feriste teus passos
Nessa longa e triste estrada
Deixando-me as cinzas do tempo,
Deixando-me no ar tuas lembranças,
Teus olhares, tua presença nos livros
Nos discos, nas réstias de sol,
Nos restos de mim.
Pois não creio no que some de repente,
Não creio no que escorre entre meus dedos
No que some de minhas retinas,
No que escapa fulgás pelo ar...
Sumiste cortando o ar deste sertão
Sumiste cortando meu peito,
Colorindo o chão com o rubro do meu sangue
A chorar...

Foto: Hugo
Fonte: http://br.olhares.com/solidao_foto944574.html

Calé Alencar no Centro Cultural BNB


Temporada do novo espetáculo musical do compositor cearense, com suas canções e sucessos nacionais, comemorará o Dia Nacional do Samba, a partir de 2 de dezembro

Cantor, compositor e produtor musical surgido no cenário artístico cearense ao final da década de 1970, Calé Alencar festeja o Dia Nacional do Samba com o musical SambaZiloas, no período de 2 a 5 de dezembro de 2009, em apresentações gratuitas no Centro Cultural Banco do Nordeste de Sousa e no Teatro Murarte, em Pombal, na Paraíba, incluindo no roteiro as cidades de Juazeiro do Norte e Nova Olinda, no Cariri cearense.

Neste novo trabalho, Calé Alencar mostra parte de sua significativa obra autoral dedicada ao carnaval de rua fortalezense, dando continuidade a uma trajetória expressiva como criador de canções em parceria com nomes destacados da música popular brasileira, a exemplo de Fausto Nilo, Carlos Pitta, Ricardo Alcântara, Lauro Maia e Gilberto Gil, além de inserir no repertório canções de Jorge Benjor, Sérgio Sampaio, Gordurinha, Lennon & McCartney, Assis Valente e Tom Jobim.

Novo espetáculo musical SambaZiloas
O novo espetáculo musical de Calé Alencar, SambaZiloas, traça um painel da carreira do músico a partir de seus primeiros trabalhos, incluídos nos discos Um Pé Em Cada Porto e Estação do Trem Imaginário, estabelecendo um fio condutor com o momento atual, no qual são apresentadas criações inéditas e músicas registradas em trabalhos coletivos e discos mais recentes como Dragão Vivo, Loas de Maracatu Cantigas de Liberdade e É de Bambaliê, disco do Maracatu Nação Fortaleza, do qual Calé Alencar é autor e intérprete das loas apresentadas nos desfiles.

SambaZiloas enseja o encontro com a musicalidade festiva e vibrante do ambiente carnavalesco traduzida em variadas vertentes rítmicas a partir de canções criadas tendo como base os ritmos do maracatu, ijexá, samba-enredo, samba-reggae, samba-rock, baião, sambalanço, afro-samba e frevo, incluindo a bossa nova e a leitura de canções dos Beatles no ritmo bossanovista.

SambaZiloas surpreende pela atualidade do cancioneiro inédito, pelo vigor da interpretação de Calé Alencar, dono de uma voz potente e canto certeiro, pelo domínio da execução instrumental, na qual o violão soa muitas das vezes como instrumento de percussão, e pela perfeita costura de canções já apresentadas em outros espetáculos e registros com uma produção musical instigante e em sintonia com a atualidade.

Concebido como momento de celebração musical comemorativo dos 15 anos de dedicação de Calé Alencar ao carnaval de rua, SambaZiloas é, ao mesmo tempo, reverência ao Dia Nacional do Samba, festejado em 2 de dezembro, e homenagem ao líder negro Zumbi dos Palmares, citado em várias canções incluídas no roteiro e na letra Z, em destaque, do título. Neste novo trabalho, Calé Alencar se revela um músico inovador, repleto de influências e referências a partir da convivência com a cultura tradicional popular nordestina e as linguagens contemporâneas.


Serviço - Show Musical SambaZiloas, com o cantor e compositor Calé Alencar, acompanhado de Nilton Fiore, na percussão.

Dia 2 de dezembro (Dia Nacional do Samba) - Teatro Murarte / Pombal - PB, 20h.

Dia 3 de dezembro - Centro Cultural BNB / Sousa - PB, 19h30.

Dia 4 de dezembro - Centro Cultural BNB Cariri / Juazeiro do Norte - CE, 19h30.

Dia 5 de dezembro - Teatro Violeta Arraes / Nova Olinda - CE, 19h.

As apresentações terão entrada franqueada ao público.

Fonte: CCBNB

terça-feira, 24 de novembro de 2009

SOPA DE LETRAS


UMA ONDA DE GUERRILHAS NO CARIRI

Grupo de Guerrilheiros


Orleyna Moura e Cacá Araújo


GUERRILHA DO ATO DRAMÁTICO CARIRIENSE – TROFÉU JUSCELINO LEAL LOBO JÚNIOR

UMA LUTA VITORIOSA

A Guerrilha do Ato Dramático Caririense, realizada pela Sociedade Cariri das Artes e Sociedade de Cultura Artística do Crato – Pontos de Cultura do Brasil, é a grande unanimidade quando se fala em artes cênicas do Cariri. Iniciada no dia 7 e encerrada em 22 de novembro de 2009, transformou-se na maior vitrine da criatividade cênica regional. A verdadeira mostra do Cariri! Cerca de 150 participantes, entre atores, produtores e técnicos! Quase 5.000 pessoas prestigiaram a Guerrilha!!!

O dramaturgo e guerrilheiro Cacá Araújo, idealizador e coordenador do projeto, afirma que a Guerrilha superou as expectativas de público, graças à qualidade dos espetáculos e à brava platéia local, que valoriza e prestigia os artistas e grupos da região. "A Guerrilha do Ato Dramático Caririense é um movimento de afirmação da identidade cultural do Cariri e do Brasil, é a expressão mais profunda da inventividade e ousadia de dramaturgos, atores e encenadores caririenses; é a maior mostra da produção local em artes cênicas e, na edição de 2010 grupos de outros municípios da região serão envolvidos”.

Outro fator importante é a unidade dos grupos teatrais em torno de uma ação de fortalecimento e divulgação de suas obras. Isso vai se desenvolver e representar um grande patrimônio para o turismo cultural e a educação de crianças, jovens e adultos.

O mais audacioso movimento em defesa das artes cênicas do Cariri contabilizou 16 espetáculos de teatro e dança. Todos do Cariri! Durante o encerramento, dia 22 de novembro, as companhias receberam o Troféu Juscelino Leal Lobo Júnior e seus membros foram contemplados com certificados participação no grande evento. O destaque da solenidade foi a homenagem especial prestada pelos artistas-guerrilheiros à atriz e diretora Orleyna Moura, considerada a nossa 1ª Dama do Teatro Cearense, pelo transcurso de seus 31 anos de carreira, cuja dedicação nos enobrece e orgulha.

Companhias participantes: Cia. Teatral Anjos da Alegria (Crato), Cia Teatral Livremente (Juazeiro), Associação dos Artistas e Amigos da Arte de Juazeiro do Norte, Cia. Cearense de Teatro Brincante (Crato), Grupo Cênico da SCAC (Crato), Cia. Teatral Boca de Cena (Crato), Cia. Wancylus Gat Produções (Crato), Grupo Ninho de Teatro Juazeiro), Allysson Amancio Cia. de Dança (Juazeiro), Cia. Mandacaru de Arte e Eventos (Juazeiro).

Estimular e fortalecer a produção regional em artes cênicas, valorizando artistas e grupos locais como importantes na consolidação da identidade caririense, preparando a região para intercâmbio que não exclua o valoroso patrimônio cênico do nosso povo, eis alguns dos objetivos elencados pelos realizadores do evento, ressaltando a criação de uma cooperativa de artes cênicas como uma meta emergencial do movimento.

Cacá Araújo declara que a produção das artes cênicas no Cariri é intensa e diversificada. "Aqui temos excelentes dramaturgos, atores brilhantes, encenadores geniais, bailarinos e coreógrafos de extremo talento. Mas a maior virtude dos nossos artistas é o significativo abandono dos clichês e da estética ditada por mercenários instalados em grandes centros urbanos do Sul e Sudeste, principalmente através de ações midiáticas hegemonistas e preconceituosas em relação ao Nordeste", afirma, pontuando também que "o produto teatral do Cariri tem que ter o aroma, o rebolado, o ritmo, a história, a cultura do nosso povo, que, longe de significar isolamento, revela avassalador conteúdo universal e fortalece a identidade, soberania, a auto-estima e o sentimento de pertença".


GUERRILHA DAS ARTES TRADICIONAIS E CONTEMPORÂNEAS
UM PROJETO A SER CONSTRUÍDO E REALIZADO


Iniciativa semelhante deverá ser discutida com músicos, compositores, artistas plásticos, cineastas, mestres e brincantes de folguedos, poetas, bandas de todas as linguagens, produtores, comunicadores e sociedade em geral.

A idéia é criar a verdadeira vitrine da arte e da cultura caririenses no período da Exposição do Crato, respeitando a diversidade, do tradicional ao contemporâneo. Será um canal de defesa da identidade regional, de valorização dos talentos locais, de respeito à história e à alma do nordestino-caririense. De acesso público e gratuito, sem mercantilismo mercenário, sem apologia a preconceitos de qualquer natureza... Será uma espécie de Confederação das Artes do Cariri!

Mãos à obra, então! Com destemor, bravura e insubmissão!!!

Guerrilheiro Cacá Araújo
Professor, Folclorista, Poeta, Dramaturgo, Ator e Diretor de Teatro
Três para uma

Três parcas rindo
sentadas no banco da praça
chupando picolé de tamarindo

Três traças ouvindo Wando em um canto
obscuro da sala sendo lavada no domingo
ao passo do repassado

Um policial assistido psicologicamente
Um doutor diplomado à distância
Um grande postador de blog

Três oportunidades únicas
socadas em uma garrafa pet reciclável
para Anunciada deixar de ser assim

Mas ela não alivia em nada a sua sede
prefere trepar com meninos bem meninos
enchendo a boca com seus leitinhos

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O que restou dos nossos pensamentos libertários? por José do Vale Pinheiro Feitosa

Fui assaltada por dois bandidos de bicicleta na praia do Flamengo. É lamentável ele agirem como fossem donos da rua em plena luz do dia.” Ninguém lê uma frase como essa sem emoção. Raramente analisará seu conteúdo. Buscará além do fato narrado. Exemplo, como funciona a cabeça de quem disse a frase.

Num destes programas jornalístico da TV aberta vi uma matéria sobre a nova moda do automobilismo. Falo do GPS: você ainda terá um para o mesmo trajeto de ida e retorno de casa para o trabalho. Aliás, o GPS apenas servia para reforçar outra idéia: a realidade da pirataria e seus riscos. E aí surge o mesmo personagem da frase anterior que até pode ser você.

Era uma senhora, na verdade bem moça, como estas heroínas independentes, que têm “pensamento próprio”, ganham seu dinheiro e têm seu carrinho. Depois de atingir o pico da vida, compram um GPS e assumem aquela fala de uma canção do Billy Blanco: “Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho./ Pra que tanta pose doutor?/ Pra que esse orgulho?

Pois falava a senhora sobre os perigosos do “GPS pirata”: poderia me levar para o interior de uma favela. E quem iria pagar o risco dela no meio daquela subumanidade? Qual vampiro que suga a vida das pessoas em suas telas de Cristal Líquido. Jamais perdoaria a possibilidade que os “piratas”, através de um “GPS”, tramassem as vias tortas pelas quais iria chegar bem no meio das ruas de uma favela qualquer. Especialmente destas que derrubam helicópteros.

Os dois casos são a pirataria do pensamento televisivo na mente desta classe média bem posta pelo grande poeta Patativa do Assaré: está no purgatório, entre o céu e o inferno. Quando era para todos crescerem, aprenderem a pensar com liberdade, pois têm a convivência diária com a realidade social, política, cultural e material do mundo. Abdicam de tudo e se tornam ventríloquos de uma mídia efetivamente a serviço da ideologia de classe. A classe dominante, consciente de que é preciso criar ódio contra pobres para que as classes médias jamais os tenham em humanidade e a eles se juntem noutra ordem social, política e material possível.

O assunto é vasto como dizia o poeta: mundo, mundo, vasto mundo, se eu não me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. É vasto, mas há tempo de retornar aos termos da primeira frase.

Se ao invés de colocar “bandidos” a dona da frase tivesse dito, “pessoas”, não haveria como enunciar a frase seguinte (nos dois casos são mulheres). Pois é aí mesmo que existe o efeito ideológico: as ruas estão cheias de bandidos à luz do dia. E como estão cheias de bandidos, ou melhor, foram tomadas por eles, existem duas ações complementares: refugiem-se nos shoppings com segurança privada e aparelhem a segurança pública para uma guerra de retomada das ruas. Uma guerra contra quem? Contra pretos, pobres, favelados, prostitutas, gays, comunistas, drogados e todo dia um novo item será acrescido na lista da mídia.

Pensar por si pode ser difícil. Pode até inaugurar outro mundo em que este cubículo chaveado não mais seja necessário. Inclusive pode fazer nascer em a idéia que a vida é algo maior do que este peso consumista que se tornará nada no segundo da morte. Pode até levar para o vasto mundo do pensamento humano e suas tramas milenares para trás e para frente. Conquistar a era, aquela que faz de hoje a revisão do passado e a estimativa do futuro.

ver com os OLHOS livres


1ª GUERRILHA DO ATO DRAMÁTICO CARIRIENSE FOI ENCERRADA DOMINGO

A LUTA DAS ARTES CONTINUA

O mais audacioso movimento em defesa das artes cênicas do Cariri, intitulado Guerrilha do Ato Dramático Caririense, foi encerrado ontem, domingo, dia 22, depois de uma maratona iniciada no dia 7 de novembro, contabilizando 16 espetáculos de teatro e dança. Todos do Cariri!

Foi apresentado o espetáculo BÁRBARO, com o Grupo Ninho de Teatro, dirigido por Jânio Tavares e Joaquina Carlos, e texto de Caio Fernando Abreu, Salete Maria, Joaquina Carlos e Rita Cidade.

BÁRBARO - ESPETÁCULO DO GRUPO NINHO DE TEATRO

Em seguida, todas as companhias receberam o Troféu Juscelino Leal Lobo Júnior e seus membros foram contemplados com certificados participação no grande evento.


Companhias participantes: Cia. Teatral Anjos da Alegria, Cia Teatral Livremente, Associação dos Artistas e Amigos da Arte de Juazeiro do Norte, Cia. Cearense de Teatro Brincante, Grupo Cênico da SCAC, Cia. teatral Boca de Cena, Cia. Wancylus Gat Produções, Grupo Ninho de Teatro, Allysson Amancio Cia. de Dança, Cia. Mandacaru de Arte e Eventos.

Quase 5.000 pessoas, entre visitantes e público da região, prestigiaram o evento, promovido pela Sociedade Cariri das Artes e Sociedade de Cultura Artística do Crato, Pontos de Cultura do Brasil, no Teatro Rachel de Queiroz, em Crato-CE.

Estimular e fortalecer a produção regional em artes cênicas, valorizando artistas e grupos locais como importantes na consolidação da identidade caririense, preparando a região para intercâmbio que não exclua o valoroso patrimônio cênico do nosso povo, eis alguns dos objetivos elencados pelo idealizador do evento, o dramaturgo Cacá Araújo, ressaltando a criação de uma cooperativa de artes cênicas como uma meta emergencial do movimento.









domingo, 22 de novembro de 2009

Versos Decantados

Eu que nada sei da vida
Nada entendo desse caos ao meu redor
Só percebo os versos que pairam aqui perto
E que os colho, entrego-os pela ponta da pena
Assim como quem colhe uma fruta
E oferta ao faminto.
Oferto meus versos, como tegumento
Retirados das câmaras do meu coração.
Estão aí meus versos todos encantados,
O supra-sumo do meu ser
Em formas de versos decantados,
Destilados e suprimidos sob a forma deste pão.

Pintura: The musical contest. Oil on canvas. 62 × 74 cm. Wallace Collection, London.
Jean Honoré Fragonarg (1732(1732)–1806(1806)

OS CÃES DE CAIM


A raça humana não existe mais. Foi extinta ante o tinto da tinta, bem muito às quantas. Que se dane a compaixão. Que seja travestida de miséria quântica a última misericórdia. Sem cordialidades: deus foi rebaixado de posto, o diabo foi remarcado em promoção de camelô, o mito foi des-crito no fel da infidelidade e o homem foi mentecaptado, jogado em catapulta literária para o mais puro em finito. Tudo isso você pode encontrar no último Saramago, Caim, um livro que se apropria de tudo aquilo que é proscrito.

Diz a imprensa - que quase sempre é imprensada pelo empreendimento e quase sempre muito bem embalada para presente, sem nenhum futuro – que o autor português começou a planejar o seu novo livro há muito tempo atrás, mas só em dezembro de 2008 começou a escrever, e que ainda em quatro meses deu por terminado. Em verdade, segundo Saramago, foi um transe experimentado inusitadamente. De fato não importa o tempo. O livro foi publicado e com ele vieram o deleite e as velhas polêmicas geradas desde o seu grandioso O Evangelho Segundo Jesus Cristo, um dos maiores exercícios literários de todos os tempos.

Caim fortalece o legado irônico de Saramago e a sua técnica invejável de contador de histórias. Seus truques são manjados. O que faz dele o maior escritor vivo é exatamente a habilidade que ele tem em encantar com as mesmas ferramentas. Os parágrafos imensamente imensos; a pontuação desalojada; a metalinguagem refinada; a polifonia intricada; a diegese descomunal; os arabescos neo-barrocos; o dialogismo despido do utilitarismo vigente na literatura de mercado; o fantástico; a suprema ironia e o profundo desdém pelo convencionalismo da ética humana; além de outros pormenores; estão todos lá, como jóias de um tesouro pertencente a um pirata movido pela sagacidade ímpar de sabotar toda a dissimulação da humanidade.

Em Caim existe um vórtice que aniquila o tempo e o espaço, um velho sonho do homem. Caim é levado a percorrer vários caminhos míticos do velho testamento, sem cronologia e sem geografia estabelecidas dentro de uma linearidade. A trajetória de Caim é a própria trajetória da dessacralização de todos esses mitos elencados no enredo de Saramago. Da mesma forma em que o narrador do incomparável O Evangelho Segundo Jesus Cristo faz questão de se distanciar do tempo mitológico, citando referenciais da realidade contemporânea, através de um cinismo singular, o narrador de Caim também o faz, como na passagem em que ele traça um paralelo entre a destreza náutica da arca de Noé e a lerdeza de vôo do Zeppelin Hindenburg.

Além da destituição da autoridade cosmogônica Saramago se aprofunda ainda mais nas frestas da exegese do Velho Testamento e provoca judeus, católicos e quem quer que seja e que esteja ligado ou religado à legitimação da palavra revelada de qualquer religião. Não há perdão para Saramago, para ele o discurso religioso é uma grande trapaça. Quando ele coloca deus e o diabo com minúsculas, ele não só rebaixa o mito da divindade e da queda, através de uma humanização das duas maiores entidades do eterno maniqueísmo entre o bem e o mal, como também ele rebaixa a própria condição humana ao colocar os dois como sádicos, violentos, sujos e sem escrúpulos, tal qual a escória humana que controla as nações e as corporações. Esse é o grande trunfo lúdico de Saramago: entornar a humanidade e sua história dual de mito e realidade em um só caldo nefasto de decadência absoluta, através de aproximações e distanciamentos, construções e desconstruções. Não é a toa que Caim troca de identidade com Abel. Ora está vivo, ora está morto.

O assassinato de Abel é apenas o ponto de partida para uma série de aniquilamentos. A linguagem literária de Saramago é tão carregada de significados que a própria eloqüência e a grandiosidade que se requer para uma narrativa épica do fim da humanidade para um recomeço promissor, foram categoricamente desconstruídas por pequenas narrativas de coisas pequenas dos personagens em um cotidiano pequeno, que aparentemente não têm razão ou força literária. O próprio assassinato é narrado em duas frases rápidas, sem qualquer espetaculismo. Esse aniquilamento se desdobra em fatos diversos, como o aparecimento de Lilith em mito e em obscenidade, que representa a mulher decaída, mas poderosa em sua capacidade de procriar a decadência e o mal. Essa não é a única amante de Caim, que se deita em lascívia e luxúria com todas as mulheres que cercam Noé, mas acaba assassinando todas, para que a raça humana não deixe vestígios, apenas ele, CaimItálico, a decadência imortal.

É possível perceber a força impiedosa do esvaziamento na narrativa de Caim nesse fragmento tão desconcertante quanto magnético, um diálogo travado entre Deus e Caim, diante de Noé e sua engenhosidade: “(...) Não me disseste que vieste aqui fazer, disse deus, Nada de especial, senhor, aliás não vim, encontrei-me cá., Da mesma maneira que te encontraste em Sodoma ou nas terras de us, E também no monte Sinai, e em Jericó, e na torre de babel, e nas terras de nod, e no sacrifício de Isaac, Tens viajado muito, pelos vistos, Assim é, senhor,mas não que fosse por minha vontade, pergunto-me até se estas constantes mudanças que me têm levado de um presente a outro, ora no passado, ora no futuro, não serão também obra tua, Não, nada tenho que ver com isso, são habilidades primárias que me escapam, truque para épater Le bourgeois, para mim o tempo não existe, Admites então que haja no universo uma outra força, diferente e mais poderosa que a tua, É possível, não tenho por hábito discutir transcendências ociosas (...)”.

Caim é para ser lido sem os olhos do fundamentalismo e sem a estupefação imbecilizada do burguês diante do mito esfacelado em pedaços. Se cabe alguma crença na leitura desse míssil nuclear teleguiado pelos séculos sem fim amém, é justamente a crença suprema no poder infalível da grande arte não resolver absurdamente nada, inclusive o absoluto, com todos os seus disfarces noturnos e diurnos em ser aquilo que é, sem nunca ter sido.

GUERRILHEIROS COMEMORAM VITÓRIA

BR 116 - ALLYSSON AMANCIO CIA. DE DANÇA DEU SHOW ONTEM


A 1ª GUERRILHA DO ATO DRAMÁTICO CARIRIENSE TERMINA HOJE E A LUTA CONTINUA! ATÉ 2010, 2011, 2012, 2013...

A Guerrilha do Ato Dramático Caririense, promovida pelos Pontos de Cultura do Brasil Sociedade Cariri das Artes e Sociedade de Cultura Artística do Crato, é o grande acontecimento das artes cênicas produzidas no Cariri cearense.

Ontem, sábado, uma das maiores revelações da dnça contemporânea brasileira esteve em cartaz no Teatro Rachel de Queiroz. Trata-se do premiadíssimo espetáculo BR 116, criado, coreografado e dirigido por Allysson Amâncio, com a Allysson Amancio Cia. de Dança. Outra uma vez o teatro superlotado, como tem sido rotina na Guerrilha.

ESPETÁCULO DESTE DOMINGO: BÁRBARO, COM O GRUPO NINHO DE TEATRO

Mais de 4.000 pessoas já prestigiaram o evento, que se iniciou no dia 7 e se encerra hoje, 22 de novembro, com a apresentação da peça "BÁRBARO", dirigida por Jânio Tavares e Joaquina Carlos, do Grupo Ninho de Teatro. Após o espetáculo, as companhias participantes receberão o Troféu Juscelino Leal Lobo Júnior e seus integrantes serão contemplados com certificados de participação na Guerrilha.

Cacá Araújo informa que já está agendada para sábado próximo, dia 28 de novembro, às 16 horas, no Teatro Rachel de Queiroz, uma reunião para avaliação e prestação de contas, além de discussão sobre a futura Cooperativa Cariri das Artes Cênicas.

I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010

O Portal Amigos do Livro e a GSC Eventos Especiais estão organizando o I Concurso de Poesias Amigos do Livro / Flipoços - 2010, para autores brasileiros, maiores de 16 anos, residentes no Brasil.
O tema é livre e a inscrição é grátis.
O Concurso tem por objetivo descobrir novos talentos e promover a literatura brasileira.
Inscrições: 01 de dezembro de 2009 até 31 de março de 2010, somente pela Internet, através do Portal Concursos e Prêmios Literários.

Ao fazer a inscrição, o Autor estará concordando com as regras do concurso, inclusive autorizando a publicação da obra em antologia pela Scortecci Editora e responderá por plágio, cópia indevida e demais crimes previstos na Lei do Direito Autoral.

GSC Eventos Especiais, empresa responsável pelo FLIPOÇOS - Festival Literário de Poços de Caldas, escolherá uma Comissão Julgadora composta de 3 (três) membros de renomado prestígio literário e uma Comissão Organizadora que resolverá os casos omissos deste regulamento, se houver.

REGULAMENTO

O Autor poderá participar com 1 (uma) POESIA, de no máximo 3 (três) páginas, digitado em Word, corpo 12, fonte Arial. Os trabalhos deverão estar em língua portuguesa, o que não impede o uso de termos estrangeiros no texto. A POESIA deverá ter obrigatoriamente um título. Não há necessidade de pseudônimo. Não há necessidade de ser inédita.

INSCRIÇÃO: Somente pela Internet utilizando-se da Ficha de Inscrição: AQUI.

PRÊMIO: Publicação em Antologia de 40 (quarenta) trabalhos selecionados pela Comissão Julgadora do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010.
A título de Direito Autoral cada autor receberá gratuitamente 5 (cinco) exemplares da antologia editados pela Scortecci Editora e entregues pela GSC Eventos Especiais.

RESPONSABILIDADES: GSC Eventos Especiais: 1) Escolha e Indicação da Comissão Julgadora do Concurso; 2) Promoção e Divulgação do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010; 3) Envio e postagem dos exemplares da antologia para os 40 (quarenta) Autores Vencedores do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010.

Scortecci Editora: 1) Editoração e Impressão da antologia do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010; 2) Lançamento da obra no estande da editora durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Anhembi, em agosto de 2010; 3) Comercialização da obra ao preço de R$ 20,00 cada através da Livraria e Loja Virtual Asabeça; 4) Inscrições e suporte pela Internet através do Portal Concursos e Prêmios Literários.

Dados Técnicos da Obra: 400 (quatrocentos) exemplares, formato 14 x 21 cm, miolo Preto e Banco, capa 4 cores em papel em supremo 250 gramas, sendo: 200 (duzentos) exemplares para os Autores Vencedores do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços, 50 (cinquenta) exemplares para a GSC Eventos Especiais, 50 (cinquenta) exemplares da Divulgação / Mídia e 100 (cem) exemplares para a Scortecci Editora comercializar ao preço de R$ 20,00 cada, através da Livraria e Loja Virtual Asabeça.

Autores vencedores do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010 poderão adquirir exemplares extras diretamente com a editora com 50% de desconto, mais despesas de remessa.

Após 1 (um) ano da data do lançamento, havendo ainda livros em estoque, os mesmos serão doados para a GSC Eventos Especiais, para divulgação e promoção da Flipoços.

CRONOGRAMA:
- Inscrições: 01 de dezembro de 2009 até 31 de março de 2010.
- Resultado: De 24 de Abril a 02 de maio de 2010 durante o 4º Flipoços - Festival Literário Nacional de Poços de Caldas.
- Lançamento da Antologia do I Concurso de Poesia Amigos do Livro / Flipoços - 2010 - em agosto de 2010, no estande da Scortecci, durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Anhembi, SP.

Informações: flipocos@concursosliterarios.com.br
Fonte: http://www.concursosliterarios.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=311

sábado, 21 de novembro de 2009

Uma das artes mais difíceis é, certamente, a de presentear. Não é brincadeira vestir o sonho alheio e pôr-lhe adereços. Mesmo os amigos mais chegados , os companheiros de longas jornadas aumentam as cãs na hora de escolher presentes . Fica sempre o medo de não agradar e, pior, o de que a pessoa agraciada tenha que simular ter gostado e ,muitas vezes, usar a lembrancinha com o fito único de encarnar um personagem pseudofeliz. A coisa é tão séria que nem adianta contar com a ajuda do futuro presenteado. Perguntado , ele , certamente, poderá optar por um objeto mais barato, mais simples, mesmo no íntimo entendendo que merecia uma coisa muito melhor.Se se opta por um artigo muito caro a aniversariante rapidamente poderá concluir que aquilo é consciência pesada e que o marido andou aprontando, se , por outro lado, corre-se para um material mais barato, mais em conta, imediatamente ela pensará : Meu Deus, e eu só valho isto ?
“Zé Idéia”, um dos nossos filósofos de praça, talvez não tenha decifrado o enigma, mas, ao menos, criou alguns caminhos que não devem ser trilhados por quem acaso queira se sentir algo seguro nesta dificílima arte. O grande desafio estará sempre no presentear as mulheres , me diz ele, apesar de parecerem românticas e sonhadoras , sempre se deve buscar a estrada do pragmatismo. Lição primeira:nunca dar eletrodomésticos ou outros objetos que lembrem trabalho de casa, ela poderá entender que você só se interessa por uma mulher que esquenta a barriga no fogão e esfria na pia. Também não adianta valer-se de peças íntimas como lingeris , sutiãs, calcinhas sensuais: você poderá estar assinando um atestado de que a quer como objeto sexual. Segunda lição : nada de utensílios para malhação como marombas, esteiras, bicicleta ergométrica : no fundo você estará chamando-a de gorda e balofa. Terceira lição : fugir do terreno escorregadio de roupas e sapatos e de tudo que precise de número para ser adquirido: a probabilidade de acertar nestes casos, segundo cálculos da NASA, é exatamente zero. Se nem elas mesmas sabem o que gostam e querem usar, afirma “Idéia” você vem com esta pretensiosa intenção de descobrir ? Quarta lição : nada de presentes pendidos para o lado artístico como livros, cd´s, dvd´s, quadros , o gosto das mulheres neste setor é não só insondável mas igualmente mutante como o vírus da gripe. Zé conta que um amigo seu mandou fazer um quadro por um artista conhecido, copiado de um retrato da namorada e ela simplesmente odiou, o rapaz devia saber que as mulheres sempre se acham mais bonitas e sensuais que os quadros e retratos que porventura se consiga fazer delas. Quinta lição: Cestas de café da manhã e flores mexem com o coração do sexo feminino, mas têm pouca autonomia de vôo , sempre carecem de um acessório e aí o problema volta à estaca zero. Sexta lição : jamais interrogar sobre o presente preferido, você se mostrará óbvio demais e pouco criativo. Sétima lição: maquiagens, perfumes, shampoos, cremes são produtos extremamente especializados e individuais , nem Helena Rubinstein tem cacife para dar consultorias neste assunto. Conclui Zé Idéia: nada do que você ofertar terá um terço do impacto que você pretende causar, com exceção talvez dos diamantes e carros importados.
No fundo, quem sabe, a grande incógnita reside no timing.Quando namorados e amantes , qualquer mínimo objeto: um papel de bom-bom, um bilhete, uma pipoca são sacralizados num ritual de hierofanização. É que o amor e a paixão se bastam e têm a força de consagrar tudo que lhe é tocado. Com o tempo , esmaecido o sentimento, descolorido o afeto, vamos tentando substituí-los por lembrancinhas, por presentes que talvez merecessem agora o nome de ausentes. É como se tentássemos reavivar uma aquarela que desbotou , mudando o seu lugar na parede da casa. O mesmo sol que um dia fez a aquarela brilhar é o mesmo que lhe roubou a cor e nada, nada neste mundo tem a grandeza e a intensidade daquele sentimento que um dia banhou nosso coração com o doce mel da paixão e a calda quente e viscosa do querer.

J. Flávio Vieira

Hoje no Expresso Mundo, Largo da Rffsa