Os apaixonados
gostam de namorar
no alto da roda-gigante
porque além do frio na barriga
tem aquele leve balanço
e o grande suspense:
"agora o parafuso solta
se cair a cadeira
vou morrer abraçadinho
ao amor da minha vida..."
Giros, giros e giros
em torno da órbita
lua crescente
céu estrelado
e nunca se rompe
a porca -
balança mesmo no final
quando o homem do parque
com um sádico sorriso
brinda ao casal
o último solavanco.
Levantam-se então os apaixonados
com os olhos bobos de felicidade:
"graças que não caiu a cadeira
por Deus não morremos
eu e o meu amor abraçadinhos
pois ainda tem algodão-doce,
caldo de cana e bingo..."
Corados de tantos beijos,
digo, febris chupões
somem entre multidões
os dois felizardos
trôpegos de paixão
mancos de encantamento.
Mas pouco havia de durar
aquele extasiante namoro:
via-se de longe
as asas de um
o tridente do outro
e a cada passo
e a cada abraço
trocava-se de pele
o fogo do inferno.
Belo e glamouroso
teria sido se o parafuso
cedesse a porca rompesse
a cadeira despencasse
sobre a barraquinha
de cachorro-quente.
Só não aleijasse seu Zé,
o dono: pai de sete crias.
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