TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 24 de abril de 2010

cirurgiã-dentista

Depois de amanhã
(segunda-feira
é um dia perfeito)
sentarei com a boca aberta
olhando a dentista toda de branco.

Pedirei a meio sorriso
(charme de roedor)
que me restaure os dentes
os dois dentes da frente.

Imagino a mesma
do semestre passado:

os olhos azuis
um riso vasto

jeans de marca
e bata (alvura do paraíso).

Dirá que o plano não cobre
mas haverá um ótimo desconto.

A dentista loira
um perfume lavanda

(clássico de bebês
e adolescentes)

logo me hipnotizará
com seu sorrisão

e uma pontinha de segredo
na covinha da face direita.

Não terei forças.
Não direi não.

Sentado naquela cadeira gigante.
A boca cheia de algodão.

Direi sim, doutora:

Deixe meus dentes da frente
(de esquilo) e as duas presas
(de vampiro) fortes e brilhantes.

Não tenho escolha.

Preciso pular varandas
adentrar em quartos

beijar nucas
e morder.

Morder nem que seja
o braço da cadeira
o pescoço da escrivaninha.

A doutora vai rir.
De fato, gargalhar.

A covinha quem sabe
despregue-se do seu rosto

dessa vez no meu colo
pouse.

Aquela covinha
que só as meninas ricas têm

e quando se tornam dentistas:
esbanjam.

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