TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Estética Bucal

Tenho um sorriso de ogro:
sumiu um dente da frente
gasto por tantos sonhos.

Outro suspenso amarelo
encostado a uma presa.

Vejo agora claramente
o pântano sombrio.

Natural, então,
as madames fugirem trêmulas
as ninfas se mijem de medo.

Tenho um sorriso
Corcunda Notre Dame.

Minha alma envergonhada.
Nem o vento do Himalaia
consegue abrir a janela.

Ó sorriso sinistro.
Tosco.

E o poeta escova
todos os dias:

manhã (ao cantarem os galos),
após as refeições, antes de dormir.

Mesmo assim,
nem lúcifer suporta
meu riso medonho.

Recorro aos caridosos espíritos
que me abrigam debaixo das asas:

"meu caro, tens 44.
Trata dos teus dentes de asno..."

"E meu hálito?" (interrogo aflito)

"Pétalas!" (gracejam)

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