TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vitrais

Por que não me amas?
Meus olhos de Neruda
o meu riso de Baudelaire?

Ou seria por causa dos óculos
de Fernando Pessoa?

Por que não me amas?
Minha cantiga de grilo
a minha indolência de minhoca?

Ou por minha recente micose?
(sarou, querida)

Agora de volta aos meus tornozelos
as brilhantes asas (roubei do pégaso).

Por que não me amas?
Minha larga testa de caboclo
os meus lábios cortados de pivete?
Ou meus dentes amarelos de Bukowski?

Parei de beber.
Permaneço ébrio.

Um lunático perfeito
rompantes de asceta.

Por que não me amas?
Por que sou de escorpião tenho veneno na cartola?
Para te amedrontar meu signo chinês é cobra.

Parei de odiar as pessoas como antigamente.
Prossigo com a mente enlouquecida.
Oculta, calada, genocídios.

Por que não me amas?
O meu cíúme de Euclides da Cunha?

Inferno agora é que quero matar quem ama as nuvens.
Quem se isola no quarto conta quantas formigas
afogam-se no vaso sanitário.

É uma tortura esse desejo de esganar quem se parece
com minha sombra dentro do baú antigo da minha vó.

Quando penso que existe alguém arrasta meus chinelos
a minha corrente pela casa e fala sozinho quero matar.

Certamente tu não me amas por esse desvario
que por ora é toda a minha ambição de vida.

Aos meus ombros apenas o fardo invisível.
O cafezinho quente à minha alma ofegante.

E não existe possibilidade de mudanças.
Por todo o sempre (um sopro)
serei esse mesmo tronco
essa mesma casca
e alguns pássaros
no alto.

Ora estufam o tépido peito,
ora batem as asas de chuva:
e gripam.

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